Problemas vão desde à falta de equipamentos adequados à falta de recursos humanos e financeiros. Processo de digitalização teve início em 2009 e mais de oito mil horas de materiais jornalísticos ainda estão em cassetes.
O Centro Audiovisual Max Stahl Timor-Leste (CAMSTL) enfrenta dificuldades para digitalizar os arquivos da história do país. Iniciado em 2009, o processo depara-se com a falta de equipamentos e recursos, humanos e financeiros. Guardados em cassetes, VHS, HI8 e MDV, grande parte dos materiais, que preservam a memória e acontecimentos importantes da nação, são registos do próprio Max Stahl, como também de outros jornalistas que faziam cobertura em Timor-Leste desde o período da ocupação indonésia.
De acordo com o chefe técnico para a produção e o arquivo do CAMSTL, Rogério Neves, o total dos conteúdos que ainda precisa de ser passado para formato digital é superior às oito mil horas convertidas até ao momento. “Equipamentos para ler as cassetes estão quase extintos e demoram muito tempo para serem importados, o que dificulta o processo de digitalização”, argumentou Rogério Neves.
No momento o CAMSTL possui apenas uma máquina que faz a conversão dos arquivos, e que constantemente necessita de ser reparada. Os documentos digitais ficam armazenados nos computadores da fundação.
Entre os materiais já digitalizados estão as filmagens do Massacre de Santa Cruz, feitas por Max Stahl a 12 de Novembro de 1991. Foi com a divulgação do chocante registo, no mesmo ano, que as pressões internacionais pela independência de Timor-Leste aumentaram, obrigando o governo da Indonésia a rever a ocupação, que já durava há 16 anos.
Rogério Neves classificou o documento como o “ponto de viragem”, do povo timorense. “Com estas imagens, o sofrimento da luta de Timor-Leste chegou ao mundo e muitos jornalistas internacionais vieram para fazer cobertura”, destacou.
Os registos feitos por Max Stahl vão de 1991 até 2019. O último trabalho realizado pelo jornalista – falecido em 2021 – chama-se “Resistir e Vencer”, que aborda os 20 anos após a Consulta Popular, a 30 de agosto de 1999, quando 78% dos timorenses votaram pela independência em relação à Indonésia.
Desde o ano passado, o CAMSTL tem entrevistado jornalistas que fizeram cobertura no tempo da ocupação indonésia, bem como vítimas e sobreviventes dessa altura. Vão divulgar o conteúdo na abertura de uma exposição de vídeos sobre a Resistência, que se realizará de 7 de novembro a 7 de dezembro deste ano, na Fundação Oriente, em Díli.
Património da UNESCO
O CAMSTL foi fundado em 2003 por Max Stahl, jornalista britânico, juntamente com José Belo, atual presidente da Rádio e Televisão de Timor-Leste (RTTL, EP). Passados 6 anos, a fundação começou a digitalizar as obras para gerir o acervo.
Segundo o diretor-executivo do CAMSTL, Eudicitio Pinto, o acesso online aos documentos não está disponível, porque ainda não há um sistema de segurança adequado. Informou, contudo, que os materiais em formato digital estão acessíveis ao público no próprio centro.
“Temos também, desde 2003, uma cooperação técnica com o Instituto Nacional de Arquivo em França, e, desde 2016, com a Universidade de Coimbra, em Portugal, através da plataforma ‘Max Stahl Collection’. Os materiais já digitalizados podem ser encontrados nestas duas instituições, ampliando, assim, o legado do jornalista”, afirmou o diretor-executivo.
Alguns dos documentos que estão na fundação datam do período colonial, como um filme oficial de 1942, que mostra autoridades de Portugal a chegar em Timor-Leste.
O CAMSTL esforça-se também para recolher as gravações de todos os jornalistas, em forma de vídeo, fotografia e áudio, para o arquivo da luta nacional e faz traduções de artigos em tétum, português, inglês e francês.
O centro audiovisual tem acordos de cooperação com escolas secundárias, técnicas e universidades de Timor-Leste para que os estudantes possam assistir a filmes sobre a história da Resistência do país. A fundação disponibiliza ainda, pelo menos uma vez por ano, as obras de Max Stahl para estudantes nos municípios.
Em 2013, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em reconhecimento à importância do arquivo do CAMSTL, incluiu a coleção no Registo da Memória do Mundo, um programa com o objetivo de proteger o património documental mundial.
O secretário de Estado da Comunicação Social, Expedito Ximenes, na sua primeira e recente visita ao CAMSTL, a 14 de setembro, destacou a importância dos media como um pilar essencial da democracia.
“Max Stahl deixou não apenas obras jornalísticas, mas também o espírito da profissão. Lutou para a libertação do nosso país, por isso, os atuais jornalistas devem seguir o seu caminho, lutando para libertar o povo da pobreza e do sofrimento”, ressaltou.
O governante espera que, através da digitalização, as obras jornalísticas de Max Stahl “venham a fazer parte de um grande instituto da história de Timor-Leste”.
O CAMSTL, que emprega 30 pessoas, sobrevive de parcerias nacionais e internacionais e do apoio anual do Governo. As tarefas dos membros da fundação incluem organizar os materiais no arquivo, traduzir e criar legendas nos vídeos recolhidos e guardados, entrevistar pessoas importantes – como jornalistas, arquivistas, sobreviventes e governantes – sobre a história e a política atual, e escrever e gravar conteúdos jornalísticos. Há ainda a oportunidade de jornalistas realizarem estágio neste centro audiovisual.
O PM e PR nao podem assinar um acordo com a China para colmatar essas dificuldades?
Aquilo que a humanidade conhece como “pau de 2 bicos”.
Another smart move and who will pay is the future generations? I wonder, I wonder!