O Diligente entrevistou Gally Soares Araújo, o secretário-geral do Partido Centro Ação Social-Democrata Timorense (CASDT), que está na corrida às eleições parlamentares do próximo dia 21 de maio, em que o povo timorense vai ser chamado a escolher o IX Governo Constitucional de Timor-Leste. O secretário-geral do partido falou sobre o programa do partido e salientou o facto de o CASDT ser constituído por uma percentagem elevada , cerca de 80%, de líderes jovens.
O partido, fundado em 2015 por Gil Alves, já participou duas vezes na festa democrática de Timor-Leste, em 2017 e 2018, nas eleições antecipadas. Este ano participa com uma estrutura nacional bastante jovem, a maioria com idades abaixo dos 40 anos, sendo que o presidente do partido tem 37 anos e o secretário-geral 36.
O objetivo principal do CASDT é olhar para o futuro e criar alternativas, porque “a preparação para o futuro tem de começar agora”.
Quais são as principais metas do programa de Governo do CASDT?
O objetivo principal do Centro ASDT é apresentar programas alternativos ligados a outros setores que não o petrolífero como a agricultura, o turismo, a indústria, o comércio, o setor de serviços e outros. Consideramos que estes setores carecem de mais atenção e de mais investimento por parte do Governo para podermos adotar aquilo que está projetado no plano estratégico 2011-2030, nomeadamente no que diz respeito à diversificação económica.
Porque é que os eleitores devem votar no CASDT?
Porque apresentamos alternativas para o bem da nação e da democracia e achamos que o povo já está saturado das escolhas políticas que têm sido feitas durante os 20 anos da Republica Democrática de Timor-Leste (RDTL). Se há alternativa, temos a responsabilidade de contribuir para a construção da nação.
“Temos de repensar os gastos e a contratação de funcionários públicos, que, muitas vezes, são contratados por recomendações políticas”
O que diferencia o CASDT dos outros partidos?
Nós somos diferentes, porque somos jovens. O nosso presidente tem 37 anos e eu 36. Já vimos que durante 20 anos de Restauração da Independência, os vários partidos que governaram não tiveram a capacidade de fazer a transição do poder para os mais novos.
Quais são os problemas mais urgentes para resolver em Timor-Leste?
Os problemas mais urgentes estão ligados com a economia. Temos alguns planos para dinamizar e incentivar a economia nacional, principalmente através do apoio ao setor privado, como parceiro fundamental para o próximo Governo.
Se o CASDT vencer as eleições, enquanto Governo, como vai atuar para salvaguardar os direitos dos grupos mais vulneráveis, nomeadamente LGBTQI+, cidadãos portadores de deficiência, mulheres e crianças?
O Centro ASDT não se pode afastar dos objetivos claros da Constituição da República Democrática de Timor-Leste, que promovem a inclusão social como base fundamental para promover a justiça. Hoje em dia, claro que não podemos ignorar a comunidade LGBTQI+, nem os cidadãos portadores de deficiência. Quanto a estes, estamos conscientes de que, em termos de acessibilidade , ainda há muito a fazer, por exemplo, alguns locais públicos não têm acesso para pessoas que se desloquem em cadeiras de rodas.
Consideramos também que as crianças que vendem nas ruas e as que estão em orfanatos fazem parte do grupo de pessoas vulneráveis e merecem a nossa atenção.
É urgente salvaguardar o interesse destas crianças desprotegidas, porque atualmente assistimos a uma tendência crescente da exploração dos menores de idade. Estas crianças são o futuro do país e precisamos evitar um mal maior.
Caso consiga eleger deputados no parlamento, o partido está disponível para fazer coligação com outros partidos? Se sim, quais?
Estamos abertos para qualquer coligação, desde que tenha em conta o interesse da nação. Por outro lado, vamos tentar identificar e estudar as vantagens e desvantagens das coligações para o povo, não para nós enquanto partido.
Quantos deputados pensa eleger nesta eleição parlamentar?
Vai depender da confiança do povo, mas, no mínimo, três. Se conseguirmos mais do que três, seria bom, pois teríamos uma participação mais jovem na lista parlamentar.
“Se continuarmos a ignorar o potencial de Timor-Leste nos setores do turismo, agricultura e educação, não conseguiremos criar condições para um futuro mais independente em termos económicos”
Como secretário-geral do CASDT, afirmou que, durante 20 anos, a gestão da administração estatal falhou totalmente e o Governo gastou muito dinheiro, sem ter retorno desses investimentos. Pode especificar?
Eu não diria falhar totalmente, mas diria que precisa ser reforçada e precisamos de ter uma reforma na administração pública, nomeadamente na gestão pública, em que temos muitas despesas sem retorno. Neste sentido, temos de repensar os gastos e a contratação de funcionários públicos, que, muitas vezes, são contratados por recomendações políticas. Queremos acabar com este problema, profissionalizando as instituições públicas e, consequentemente, minimizando as influências políticas nos órgãos públicos.
Que políticas o CASDT tem para reverter esta situação e fazer investimentos que tenham retorno para os cofres do Estado?
São políticas económicas, que passam por incentivar o setor privado nacional. Precisamos também de uma revisão da lei de bases comercial, de forma a regular os investidores que, neste momento, atuam em Timor-Leste sem controlo, contribuindo para uma competição desleal. Verificamos um desequilíbrio entre os internacionais e os nacionais e queremos atacar logo por aí, queremos salvaguardar os interesses nacionais em primeiro lugar e depois distinguir os potenciais parceiros internacionais com intenções sérias de investir em Timor-Leste daqueles que apenas se querem aproveitar para especular preços.
Como ativista ambiental e criador do movimento Tasi Timor, quais os planos do partido para as questões ambientais?
Sendo da área do turismo, também nos queremos focar no setor ambiental. Tenho um grande sonho de poder contribuir para a nação, através do ministério que esteja ligado com atividades económicas, turismo e também atividades que protejam o ambiente, porque durante as campanhas voluntárias do Tasi Timor, não conseguimos alcançar o impacto desejado. Acreditamos que estando envolvidos numa organização política e em articulação interministerial, poderemos criar leis e sensibilizar para os problemas ambientais, sobretudo no que diz respeito à gestão dos resíduos sólidos urbanos.
“Se não conseguirmos produzir, não conseguimos vender e o salário mínimo não pode ser aumentado”
Na passada legislatura não conseguiu assentos no parlamento, que é o maior desafio para esta eleição parlamentar?
Esta será a terceira vez que nos candidatamos. A primeira vez, em 2017, a nossa estrutura era recente, só tomamos posse em junho de 2022, e tivemos limitações de tempo, logística e em termos financeiros. Desta vez, vamos tentar promover o partido, de maneira a termos mais visibilidade, através de programas que apresentam soluções.
Acredita que é possível o CASDT assumir alguma pasta na governação?
Se houver possibilidade, porque não. Estamos prontos para governar e para contribuir, mas mesmo não fazendo parte da governação, também iremos contribuir enquanto sociedade civil.
Como avalia o desempenho do Governo atual?
Durante o VIII Governo Constitucional, na nossa ótica , não se sentiu circulação de dinheiro no país e não sabemos o motivo. Vemos que, cada vez mais, existem vendedores ambulantes e negócios a fechar. Talvez seja o impacto de outras crises externas, mas também existe a suspeita de a implementação dos programas não estar a acontecer como deveria.
Durante esta governação, assistimos a várias iniciativas benéficas , nomeadamente o incentivo ao acesso a capital, através do programa de créditos soft loan, a que qualquer empresário poderá ter acesso. No entanto, também identificamos algumas lacunas, por exemplo, alguns estrangeiros pedem a timorenses que registem os seus negócios (pois os internacionais não o podem fazer) e depois têm acesso a esses créditos, o que é muito grave. Este tipo de situação não pode acontecer, por isso, esperamos que o próximo Governo tenha um maior controlo sobre estas situações.
Neste momento, dependemos de produtos importados e 80% do dinheiro é canalizado para fora, por isso, queremos focar-nos numa política mais protecionista , mais nacionalista e a favor do povo, de forma a que os jovens tenham emprego e não sintam necessidade de emigrar.
“O acesso à informação é muito importante para todos leitores, principalmente para o povo timorense que, durante 20 e tal anos, tem votado de forma sentimental”
Aumentar o salário mínimo faz parte do programa do partido?
Em termos políticos, é fácil afirmar que se deve subir ou baixar o salário mínimo. O salário mínimo está diretamente ligado com o que a nação produz. Já nos encontramos numa fase final da exploração dos campos petrolíferos de Bayu Undang e não temos uma alternativa. O que se seguirá está diretamente ligado com a possibilidade de implementar ou não o Gretaer Sunrise na Costa Sul. Para nós, é claro que, para o bem da nação, o Greater Sunrise tem de avançar na Costa Sul. Consideramos, contudo, que se continuarmos a ignorar o potencial de Timor nos setores do turismo, agricultura e educação, não conseguiremos criar condições para um futuro mais independente em termos económicos. Nesse sentido, é preciso dinamizar a economia nacional, criando condições mínimas para os investidores nacionais, assim, já poderemos falar num aumento do salário mínimo. Se não conseguirmos produzir, não conseguimos vender e o salário mínimo não pode ser aumentado.
O CASDT disponibiliza online, na página do partido, o programa eleitoral. A transparência das informações na campanha política são uma prioridade para o partido?
Com certeza, achamos que qualquer informação deve ser transparente , por isso é que optamos pelo digital para que todos possam aceder. Estamos conscientes de que o mundo digital domina a sociedade, principalmente em Timor-Leste. No entanto, a velocidade da Internet é um problema, sobretudo porque ainda não temos o cabo submarino. Mesmo assim, queremos apostar nas redes sociais, como o Facebook e o Instagram, para conseguirmos fazer passar a nossa mensagem e o nosso programa e, deste modo, ganhar a confiança dos eleitores.
O acesso à informação é muito importante para todos leitores, principalmente para o povo timorense que, durante 20 e tal anos, tem votado de forma sentimental.
Consideramos mesmo fundamental que haja transparência na informação para o povo tomar uma decisão informada. Sabemos do que falamos e não plagiamos as ideias dos outros partidos.
Mesmo que todos os partidos queiram o mesmo, que é o desenvolvimento nacional, devem apresentar propostas e soluções para que isso aconteça efetivamente.
Já teve oportunidade de consultar o programa dos outros partidos? Tem algum comentário a fazer?
É difícil ter acesso aos programas dos outros partidos, porque é tudo muito privatizado e politizado . Já tivemos acesso a alguns programas com soluções bastante viáveis , mas não quero mencionar de quais partidos.
Nós temos um programa focado na criação de condições para os trabalhadores na diáspora.