Cancro da mama e do colo do útero: médicos alertam para importância de diagnóstico precoce

Membros da AESPNTL no seminário/Foto: Diligente

Cerca de 685 mil mulheres, no mundo todo, morreram de cancro da mama e 342 mil de cancro do colo do útero devido ao diagnóstico tardio, conforme os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 2020. Os médicos alertam para a importância de um diagnóstico antecipado, de modo a aumentar a percentagem de cura.

A Associação Esposa/Esposo da Polícia Nacional de Timor-Leste (AESPNTL), em parceria com a Fundasaun Alola e com o Ministério da Saúde, organizou, na terça-feira (25.10), no auditório da PNTL, em Comoro, o primeiro seminário sobre cancro da mama e do colo do útero dirigido às mulheres da corporação e aos membros da associação – como parte das atividades do Outubro Rosa, o movimento internacional de consciencialização da prevenção do cancro da mama.

O cancro da mama, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é uma doença em que as células anormais da mama crescem descontroladamente e formam tumores, que podem ser fatais se não forem tratados.

Na sua apresentação, o médico cirurgião no Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV), Alito Soares, informou que este cancro afeta na maioria (99%) mulheres, de 18 a 40 anos. “Apenas 1% dos casos são homens. Já tratei três pacientes masculinos com cancro da mama, mas nenhum acreditava que tinha mesmo esta doença, por acharem que a patologia apenas afetava as mulheres”, contou o médico.

A OMS diagnosticou, em 2020 (dados mais atuais), 2,26 milhões casos. No mesmo ano, 685 mil cidadãs perderam a vida vítimas da doença. O estudo revelou que, em Timor-Leste, o cancro da mama é o mais prevalente, sendo responsável por 15% do total de registos. É, ainda, o quarto tipo de tumor que mais mata no país.

Alito Soares citou que a maioria dos caroços aparece nas áreas superiores da mama, perto das axilas, mas também em outras partes da mama. “Algumas pessoas não acreditam que o inchaço nas axilas é o cancro da mama e é difícil convencê-los a fazer o tratamento necessário”, explicou.

Outros sintomas são o encolhimento da pele à volta do mamilo, inchaço acompanhado de vermelhidão, mudança na textura da epiderme (aumento dos poros), diferença de tamanho dos seios, comichão nos mamilos e hemorragia.

O médico avançou que a idade, a genética, o tumor benigno, a menopausa e radiações na área da mama são fatores inevitáveis que podem contribuir para o desenvolvimento da doença. No entanto, há outros que podem ser prevenidos, de modo a diminuir as possibilidades de vir a desenvolver a patologia, tais como a gravidez precoce, muitas gravidezes, o modo de amamentar, o alcoolismo, o tabagismo, a obesidade e a malnutrição.

O diagnóstico tardio ainda é a principal causa para a diminuição das possibilidades de cura em Timor-Leste, a par da insuficiência de recursos humanos, de equipamentos e de exames, como a mamografia. “Estima-se que metade dos casos só conseguem ter tratamentos paliativos e a doença tem 80% da taxa de mortalidade”, informou.

Alito Soares mencionou que a crença das pessoas piora a situação, deixando o tumor crescer enquanto procuram a cura tradicional e só vão ao hospital quando já sem encontram em estado grave, o que impossibilita a recuperação.

“Além da crença e da tradição, as mulheres também têm vergonha de mostrar as mamas aos médicos para examinação. Já algumas têm medo de que outras pessoas saibam da doença e sejam discriminadas”, partilhou o médico. Avançou que muitas pessoas acreditam que a cirurgia é uma sentença de morte, outros acham que se não tiverem dores não é cancro e que apenas os idosos  padecem da doença.

“Tenho, há duas semanas, cinco novos casos, sendo que quatro deles ainda não decidiram se vão ser operados, porque, de acordo com a cultura, querem tentar primeiro as práticas tradicionais”, lamentou Alito Soares. Informou ainda que o diagnóstico tardio potencia a criação de metástases, ou seja, ramificações da doença noutros órgãos próximos da mama, como os pulmões, o fígado e ossos.

A prática regular de exercício físico, uma dieta saudável (comendo mais frutas e vegetais e evitando comidas com substâncias químicas e hormonas) e o não uso de medicamentos hormónicos antes dos 20 anos, são outros fatores que ajudam a prevenir o cancro de mama. O médico ainda recomenda que o seja realizado, sempre que possível.

“As pessoas devem também fazer autoexame, verificando o tamanho das mamas e fazendo pressão para identificar a existência de nódulos. O ideal é fazê-lo cerca de 5 dias depois de terminar o ciclo menstrual. Também não tenham medo de ir aos centros de saúde, mensal ou trimestralmente, para serem examinados”, sugeriu Alito Soares, acrescentando que os médicos também podem realizar uma mamografia para detetar o cancro, mas infelizmente o equipamento para efetuar o exame ainda não existe no país, apesar de já ter sido solicitado ao Governo.

Cancro do colo do útero

Na apresentação sobre o cancro do colo do útero, a obstetra do HNGV, Agueda Li da Cruz, explicou que o cérvix faz parte do sistema reprodutivo feminino e liga a vagina ao útero. Os dados da OMS, em 2020, registam, a nível mundial, 604 mil novos casos do referido cancro, sendo o quarto mais frequente nas mulheres. “Cerca de 90% das, aproximadamente, 342 mil mortes ocorrem em países de baixo e médio rendimento”, afirmou a obstetra.

Os fatores que podem dar origem à doença são a infeção do vírus papiloma humano (HPV), o tabagismo, ter muitos filhos e não tratar o corrimento vaginal anormal.

“Os sintomas do cancro do colo do útero são hemorragia anormal durante a menstruação ou a relação sexual ou depois da menopausa, o corrimento vaginal irregular, dor pélvica e dor durante o ato sexual”, explicou a médica.

Avançou que o vírus HPV leva vinte anos, depois da sua infeção, para se desenvolver e apresentar sintomas. Por isso, há muitas possibilidades de tratar a doença no seu estágio inicial, quando ainda não há nenhuma dor. O diagnóstico tardio e o não tratamento do corrimento vaginal agravam a situação.

A prevenção consiste, principalmente, em vacinar as jovens, dos 9 a 13 anos, contra o HPV, evitar os fatores de risco e, a partir dos 30 anos, fazer exames regulares.

“Os métodos para detetar a presença da célula cancerosa nas áreas do colo do útero são o teste de colposcopia, usando um equipamento para ver o colo do útero, e a biópsia, através de uma anestesia local para a recolha de amostras de tecido”, explicou a médica.

Há quatro estágios do cancro do colo do útero. No primeiro estágio, o tumor fica nos tecidos do útero e não mostra sintomas específicos, apenas a libertação de algum líquido. No segundo estágio, as células cancerígenas espalham-se até à parte superior da vagina e, mais tarde, até à pélvis. Agueda da Cruz explicou que, nestas duas fases, ainda é possível realizar a cirurgia, sendo, por vezes, necessário retirar uma parte da vagina. Um dos efeitos secundários da operação é dor a mover-se.

“O terceiro estágio caracteriza-se pela excreção de grande quantidade de líquidos, como sangue. Nesta fase, o cancro pode chegar até aos ossos pélvicos, bloqueando a uretra e causando falência renal. A hemorragia e a falência renal podem levar à morte”, avançou. O quarto estágio é a fase em que, normalmente, apenas são dados medicamentos paliativos, porque o cancro já chegou até aos rins, reto e, mais tarde, ao fígado e a outros locais.

O tratamento do cancro do colo do útero pode ser radioterapia, utilizando radiação para matar as células cancerígenas, quimioterapia, usando medicamentos com o mesmo objetivo, que tem o efeito colateral de perda de cabelo, a cirurgia para os primeiro e segundo estágios e tratamento paliativo para estágios avançados. “A deteção precoce pode salvar vidas”, alertou.

A associação

A AESPNTL, criada a 21 de abril de 2023, tem como visão e missão proteger os parceiros da PNTL para viver em unidade e apoiar os membros da corporação no seu trabalho, principalmente no que respeita os cuidados de saúde.

A AESPNTL trabalha em conjunto com o Governo, com Organizações Não Governamentais (ONG) nacionais e internacionais, grupos de jovens e com a comunidade. A associação realiza também atividades desportivas, educativas, económicas e sobre relações públicas.

A presidente da AESPNTL, Manuela de Araújo, contou que começaram a juntar dinheiro, sendo que cada membro contribuiu com dois dólares e, em dois meses, já conseguiram juntar 450 dólares. “O dinheiro conseguido é usado para atividades de caridade nos hospitais e na comunidade. Este seminário é uma dessas atividades, sendo o primeiro da secção da saúde”, disse a presidente.

Já a diretora-executiva da Fundasaun Alola, Maria Guterres, informou que a parceria vai ao encontro dos valores que a fundação, através do programa HALIKU (Hau Hili Atu Kura – Escolho ser curada) defende, nomeadamente melhorar a saúde das mães e filhos, elevar a consciência sobre o cancro e promover o diagnóstico precoce.

Estavam também presentes no evento, o vice-ministro da Saúde, o ministro do Interior e os comandantes da PNTL.

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