Bloqueio de estradas públicas em Díli: o que pensam os cidadãos?

Estrada bloqueada devido à realização de uma cerimónia religiosa /Foto: Diligente

O Diligente saiu à rua para tentar perceber como as pessoas avaliam a situação, bastante comum na capital.

Em Díli, parece ser comum bloquear as estradas públicas para a realização de festas, eventos religiosos, funerais e outras atividades, causando engarrafamentos e dificultando a circulação dos cidadãos. Por exemplo, ambulâncias e bombeiros demoram a chegar aos lugares onde são necessários, podendo pôr vidas em risco. Muitas pessoas atrasam-se para o trabalho ou consultas médicas.

O artigo 8.º do Código de Trânsito estabelece que “a realização de obras nas vias públicas e a sua utilização para a realização de atividades de caráter desportivo, festivo ou outras que possam afetar o trânsito normal só é permitido desde que autorizada pelas entidades competentes”.

O referido artigo, não especifica, no entanto, quem são as entidades competentes e quais são os critérios para permitir o bloqueio das vias públicas.

No artigo 44.º da Constituição de Timor-Leste, consta que “todo o indivíduo tem o direito de se movimentar e fixar residência em qualquer ponto do território nacional.”

Os constantes bloqueios de vias públicas levantam questões no seio da população, que apelam às autoridades para que regulamentem a situação – porém, com frequência isto não acontece.

O Diligente saiu à rua para tentar perceber o que as pessoas pensam sobre a situação.

“Se alguém precisar de se deslocar rapidamente para um hospital em casos de emergências médicas, pode acontecer uma tragédia, as pessoas podem até morrer. Quem é que se vai responsabilizar?” 

Dementino da Cruz de Jesus, 28 anos, funcionário público /Foto: Diligente

“Como cidadão, lamento que bloqueiem a estrada pública, porque é apenas para algumas pessoas, restringindo a liberdade da maioria. Não faz sentido que, quando há eventos privados, cortem as estradas públicas. Um dia, queria ir visitar o meu tio e para isso tinha de passar por Bidau Akadiru-Hun, mas não consegui, porque o caminho estava cortado. Tive de fazer um grande desvio para conseguir chegar ao destino. Se alguém precisar de se deslocar rapidamente para um hospital em casos de emergências médicas, pode acontecer uma tragédia, as pessoas podem até morrer. Quem é que se vai responsabilizar? Isto é lamentável. As coisas públicas devem ser para todas as pessoas, não podem obstruir a estrada apenas porque alguns querem. Sugiro que as autoridades locais regulamentem esta questão para que mais ninguém seja prejudicado.”

“Não vamos usar muito tempo, só até às 23 horas para celebrarmos. Logo vai haver missa e depois vai haver animação. Amanhã, as pessoas já podem circular normalmente”

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Mariano Amaral, 49 anos, chefe da capela de Bidau Akadiru-Hun

“O dia 24 de maio é o dia da padroeira da capela Centro Maria Auxiliadora de Akadiru-Hun. Toda a gente celebra este dia. O bloqueio da estrada é para comemorar o dia da Nossa Senhora de Maria Auxiliadora, padroeira da Capela Bidau Akadiru-Hun. Fazemos isto todos os anos. Este corte não viola qualquer lei, porque colaborámos com os chefes de suco e com o comandante da polícia comunitária. Desde que haja autorização das autoridades, podemos fazer isto. Não vamos usar muito tempo, só até às 23 horas para celebrarmos. Logo vai haver missa e depois vai haver animação. Amanhã, as pessoas já podem circular normalmente.

“Todos os timorenses têm o direito de usar as vias, ninguém pode limitar os direitos dos outros cidadãos”

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Júlio Olelan Silva, 29 anos, condutor de microlete 03 direção Bidau a Comoro/Foto: Diligente

“O corte da estrada pela igreja é normal, a maioria dos timorenses é católica e devemos cumprir as decisões da Igreja. Quanto aos que ocupam o espaço público para realizar festas e cerimónias fúnebres, o Governo precisa de intervir, porque não é aceitável. Como condutor, o meu rendimento depende dos passageiros. Quando uma estrada por onde normalmente passo está cortada, perco passageiros e dinheiro e tenho de fazer desvios e gasto mais gasolina. Todos os timorenses têm o direito de usar as vias, ninguém pode limitar os direitos dos outros cidadãos.”

“Deus não orienta os seus filhos para realizarem atividades que prejudiquem as outras pessoas. Será que as autoridades de segurança pensam que com o corte da estrada vão ressuscitar o veterano? O país não pertence apenas aos veteranos e à Igreja, mas a todos os cidadãos, não se pode tratar alguns de forma especial e discriminar os restantes”

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Elisabeth Rita Maria Belo, 25 anos, estudante de Direito na UNTL /Foto: Diligente

“Não concordo com atividades que bloqueiem as estradas públicas, como as atividades da igreja, funerais e festas, porque mesmo sem cortes já há muitos engarrafamentos, imagine-se quando as estradas estão bloqueadas. O Governo e as autoridades comunitárias devem intervir, impedindo que estas situações se mantenham.

As atividades da Igreja Católica que cortam as estradas também representam uma grande discriminação para com as outras religiões. Podem realizar as atividades que quiserem, mas devem deixar espaço para os veículos e as pessoas passarem. Deus não orienta os seus filhos para realizarem atividades que prejudiquem as outras pessoas. Por causa destas situações, algumas vezes, tive de passar por caminhos que nunca tinha passado antes e senti-me insegura.

Os espaços públicos não são apenas para a Igreja nem para as famílias, são para todos os cidadãos, não podem privatizar as estradas públicas. Mais grave é que as autoridades autorizam os cortes, e isso acontece muitas vezes. Em vez de organizar as estradas para facilitar a circulação, apoiam e autorizam os bloqueios, prejudicando as pessoas.

Um dia, atrasei-me para as aulas, porque fiquei presa num engarrafamento prolongado devido à morte de um veterano, tendo sido a própria polícia a bloquear a estrada. Será que as autoridades de segurança pensam que com o corte da estrada vai ressuscitar o veterano? O país não pertence apenas aos veteranos e à Igreja, mas a todos os cidadãos, não se pode tratar alguns de forma especial e discriminar os restantes.”

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