Desde o início da semana passada que os postos de abastecimento de combustível, em Díli, estão a enfrentar dificuldades na comercialização de gasolina, devido a atrasos na chegada dos navios de transporte aos armazéns das principais empresas distribuidoras da capital: a Pertamina Internacional e a ETO. A situação tem provocado engarrafamentos nos acessos aos postos de combustível, uma subida exponencial do preço da gasolina vendida em garrafas à beira da estrada e vários constrangimentos no dia a dia das pessoas. Hoje, segunda-feira, a situação continuava caótica em várias gasolineiras.
Em conferência de imprensa, na passada quarta-feira, o diretor de downstream da Autoridade Nacional de Petróleo garantiu que “o abastecimento de gasolina deveria voltar à normalidade no domingo”, o que não aconteceu.
Esta segunda-feira, Mariana da Silva, de 60 anos, professora do ensino básico no município de Ainaro, contou ao Diligente que teve de permanecer em Díli desde sexta-feira por não conseguir abastecer o seu carro. “Viemos de Hatubuilico na sexta-feira para comprar alguns produtos de primeira necessidade, mas acabamos por ter de ficar até hoje, porque não conseguimos abastecer. O objetivo era voltar no mesmo dia.”
A professora explicou que só pediu “licença para a passada sexta-feira, mas hoje já é segunda-feira e não consegui voltar, então não pude dar aulas”. Para além disso, a situação levou a uma procura maior de transportes públicos e hoje de manhã, “os meus filhos que estão a estudar na universidade em Díli disseram-me que não havia microletes suficientes e que também tiveram de faltar às aulas”, acrescentou.
Feliciano Pinto Henrique, 39 anos, funcionário da Universidade Nacional de Timor Lorosa’e (UNTL) conta que “hoje, quando cheguei à universidade para dar aulas, nenhum dos meus alunos nem dos meus colegas estavam lá”.
“É lamentável que isto aconteça e afete a vida de todos. Não consegui ir às aulas, porque fiquei sem gasolina e agora tenho de esperar nesta fila enorme para abastecer”, lamentou
Dídimo Ismael, de 26 anos, estudante do Instituto Of Bussines (IOB).
“Não sou só eu, muitas pessoas não conseguem circular desde a semana passada, por irresponsabilidade das autoridades competentes. Só fomos informados no momento em que acabou a gasolina, devíamos saber antes para que nos pudéssemos precaver”, defendeu o estudante universitário.
Já Alberto da Costa, 62 anos, agricultor, teve de ir esta segunda-feira ao Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV), para confirmar se podia ser consultado, já que não é possível fazê-lo por telefone. O filho levou-o o ao hospital, mas não só não teve consulta, como no regresso, a mota ficou sem gasolina e tiveram de voltar a pé. “O meu filho empurrou a mota e eu, que sou doente, tive de andar, mesmo sem forças e muito cansado.”
Tomás de Carvalho, 30 anos, habitante de Caicoli, pede ao Governo para responder imediatamente à questão da falta do combustível. “Há quase quatro dias que o país está sem gasolina e já não é a primeira vez que isto acontece. O Governo deve estar atento para que isto não volte a acontecer, porque interfere muito com a vida da população.”
A escassez de combustível gerou um aproveitamento por parte dos vendedores ambulantes, que comercializam gasolina à beira da estrada, em garrafas de plástico.
Martino (nome fictício), vendedor ambulante, confessa que decidiu, nos últimos dias, aumentar o preço a que vende a gasolina, porque começou a haver muita procura e pouca oferta. “Antes desta situação, nós vendíamos cada garrafa de 1,5 litros, a um ou dois dólares americanos e ninguém comprava. Quando a gasolina esgotou nas bombas de gasolina, muitos condutores vieram comprar aqui.”
Revelou ainda que alguns vendedores já foram chamados à PNTL para justificar o aumento do preço, “porque estamos a vender garrafas de 1,5 litros a sete dólares e, em alguns lugares, chegam a custar 15”. Na polícia, argumentou que “se nós comprámos a gasolina com o nosso próprio dinheiro, nós é que estabelecemos o preço”.
Contactado pelo Diligente, o presidente da TANE Consumidor – Associação de Defesa dos Consumidores de Timor-Leste, António Ramos, lamentou o “pânico” que esta situação causou aos condutores e não só, que acabam por ser alvo de “especulações no preço” como acontece com o aproveitamento da situação por parte dos vendedores ambulantes.
“Não é a primeira vez que isto acontece. As autoridades reguladoras como a Autoridade Nacional do Petróleo e Minerais (ANPM) e a Autoridade de Inspeção e Fiscalização da Atividade Económica, Sanitária e Alimentar (AIFAESA) têm de investigar”, defendeu.
“A empresa fornecedora não planeou o abastecimento de forma a evitar a falta de oferta. A importação devia acontecer semestralmente.” Desafiou, por último, a Timor GAP, empresa pública de petróleo e gás de Timor-Leste, a fornecer combustível. “A empresa já existe há mais de dez anos, mas não está ativa no mercado”, concluiu António Ramos.
A reposição da gasolina pelas estações de combustível de Díli começou hoje, depois de o navio de transporte da ETO ter começado a descarregar, esta manhã, no porto de Hera. No entanto, à hora da publicação deste artigo a situação não estava ainda completamente normalizada, registando-se ainda filas em vários postos de abastecimento da capital.