À semelhança do que tem acontecido em anos anteriores, a demora na execução do Orçamento Geral do Estado timorense (OGE) de 2023 atrasou a compra dos bilhetes de avião dos 130 professores portugueses dos 13 Centros de Aprendizagem e Formação Escolar (CAFE). O atraso na chegada dos professores impossibilitou, mais uma vez, o arranque normal do ano letivo, que estava previsto para janeiro.
Na cerimónia de receção a 60 professores portugueses dos CAFE, na Embaixada de Portugal em Díli, a coordenadora geral do projeto, Lina Vicente, explicou, relativamente aos atrasos na compra das viagens, que se trata “de uma quantia avultada, porque são comprados bilhetes de ida e volta para 130 docentes, ou seja, 260 viagens”. Uma vez que o pagamento é da responsabilidade do Governo de Timor-Leste, “tem de respeitar os trâmites normais da Função Pública, o que também contribui para a morosidade do processo, apesar de o MEJD (Ministério da Educação, Juventude e Desporto), em janeiro, ter dito que queria que os professores chegassem cedo”, realçou a coordenadora.
“Obviamente que este atraso impediu o processo de ensino-aprendizagem, mas sabemos que, em janeiro, o Estado tem sempre dificuldades em executar o OGE. O que importa agora é que os professores já estão cá”, sublinhou o ministro da Educação Juventude e Desporto (MEJD), Armindo Maia.
Os 60 professores que chegaram esta semana, no dia 1 de março, vêm juntar-se ao grupo de 61 docentes que já se encontrava no país. Estão agora, em território timorense, 121 dos 130 professores contratados pelos CAFE. Os restantes nove, ainda se encontram em Portugal, por motivos de saúde, mas a coordenadora do projeto prevê que cheguem “brevemente”.
Questionada sobre o que fazem os alunos neste período de espera, Lina Vicente sublinhou que “os alunos vão à escola, mas apenas têm aulas com os professores nacionais”. Relativamente aos docentes portugueses, “enviam os planos de aula e as atividades. Sempre que surgem dúvidas, os professores que se encontram em Portugal esclarecem-nas online”, destacou.
Apesar de este ano, o atraso na chegada ter sido menor comparativamente aos anos anteriores, Filomena Luís, professora de Língua Portuguesa no CAFE de Baucau, desde 2011, lamentou o facto de “nem sempre conseguirmos estar cá atempadamente, tendo em conta a complexidade de todo o processo para conseguir as viagens, que obrigam também a várias escalas”.
Dificuldades e importância de ensinar em língua portuguesa
No que diz respeito ao processo de ensino, a professora de português referiu que “são muitas as dificuldades em ensinar a língua portuguesa”, por isso, usa estratégias como o recurso a poemas da sua autoria “para facilitar o processo”. Filomena Luís defende que é necessário “insistir na língua escrita, na falada e na poesia” e que Timor-Leste “precisa de jovens que falem português, para que, no futuro, possam frequentar universidades estrangeiras”.
Quanto à promoção do ensino do português no país, considera que varia consoante os governos, mas, desde que está em Timor-Leste, “têm sido tomadas medidas para conservar e desenvolver a língua portuguesa”.
Relativamente à dificuldade em ensinar numa língua não materna, Jorge António, professor de físico-química no CAFE de Díli, em Timor-Leste desde 2018, defende que “é preciso diversificar as estratégias, motivar os alunos, incutir ritmos de trabalho diferentes e estimular os discentes a trabalhar sempre mais para ultrapassarem as dificuldades”. Adiantou que, diariamente, na sua sala de aula, adapta materiais e recursos, pois “todos os alunos são diferentes e as dificuldades são muitas” e que é necessário aprenderem português, pois “é a língua que permitirá aos alunos aceder a outras áreas do saber”.
“O CAFE é um projeto de cooperação bilateral estabelecido entre os Governos de Portugal e Timor-Leste, assinado em 2014. No presente ano letivo, o projeto acumula cerca de 11.000 alunos que se encontram a frequentar as 13 escolas CAFE, distribuídos por níveis de Pré-Escolar (1.676), Ensino Básico (7.332) e Ensino Secundário (1.890)”, pode ler-se no comunicado dos CAFE a que o Diligente teve acesso.
Na minha mais humilde opiniao este projecto teria mais sucesso se houvesse um curso de reciclagem CAFE aos politicos timorenses como treino para se tornarem capazes e competentes na lingua de CAMOES!
Uma questão que aqui levanto para um trabalho bem sucedido no ensino da língua portuguesa em TL
Quais os critério de seleção dos docentes portugueses para esta missão? São formados em didática da língua portuguesa como língua estrangeira?Que conhecimento têm da língua Tétum para entenderem a cultura e também as dificuldades dos alunos que falam uma língua de uma família linguística austroónesia tão distante da língua latina que é o português?
Se bem me lembro o línguista Geoffrey Hull que defendeu o português como uma língua oficial de TL ao lado do tetum, recomendava que os docentes portugueses para um.trabalho bem sucedido deveriam conhecer e falar tétum
Uma das questões que o Governo não conseguiu resolver e não quer garantir o seu sucesso.