O Conselho de Imprensa (CI) apresentou, esta quarta-feira, o resultado da monitorização e análise das infrações ao código de ética e princípios dos jornalistas cometidas pelos órgãos de comunicação social, no primeiro trimestre deste ano. O trabalho, que avaliou a cobertura da campanha pré-eleitoral das eleições parlamentares deste ano, da adesão de Timor-Leste à ASEAN e, ainda, o respeito pelo código de ética e princípios dos jornalistas, aponta ao canal de televisão GMN TV o maior número de infrações. O The Oecusse Post e o Timor Post ocupam o segundo e terceiro lugares da tabela.
A apresentação que decorreu, no âmbito da celebração do sétimo aniversário do CI, em Quintal Bo’ot, Díli, teve como objetivo promover a melhoria das coberturas e publicações dos meios de comunicação social para que o público possa consumir informação fidedigna e credível.
“As infrações mais comuns têm a ver com a falta de cruzamento de informações, ou seja, os jornalistas não respeitarem o direito ao contraditório, não ouvirem o outro lado.” Outra falha apontada tem a ver com “a publicação de notícias sem evidências, sem factos comprovados”, explicou Alberico da Costa Júnior, diretor da Direção de Análise e Desenvolvimento dos Media (DADM), do CI.
Para além disso, “na nossa análise, deparamo-nos com textos opinativos, acusativos e narrativos sem citações das fontes, bem como títulos sensacionalistas”, realçou ainda o diretor da DADM.
De acordo com os resultados da análise, a GMN TV (estação de televisão privada pertencente ao Grupo Media Nacional) “é o órgão de comunicação social que comete mais infrações”, com um total de nove desvios assinalados. Um dos exemplos desses incumprimentos refere-se a uma notícia emitida no dia 13 de fevereiro, em que o canal transmitiu a informação de que o general Lere Anan Timur “apelou aos eleitores” que o apoiaram na campanha presidencial de 2022 que “votassem no CNRT” nas eleições parlamentares de 21 de maio. O CI aponta “a inexistência, na notícia, de declarações de Lere Anan Timur a confirmar a informação prestada” o que pode configurar “propaganda política”.
O diretor de Relações Externas, Controlo de Qualidade e Centro de Formação da GMN TV, Francedes Suni disse, em declarações ao Diligente, que o canal privado “respeita o trabalho do Conselho de Imprensa e vai proceder à consulta do relatório para, caso discordemos da avaliação, nos pronunciarmos”.
Em segundo e terceiro lugares da tabela, estão o The Oecusse Post e o Timor Post, com seis e cinco incumprimentos, respetivamente. O CI aponta ao primeiro um incumprimento idêntico ao da GMN TV, também referente ao tratamento da informação relativa ao alegado apelo ao voto por parte de Lere Anan Timur, no partido liderado por Xanana Gusmão (CNRT), nas eleições legislativas deste ano.
O CI avança sobre a notícia “Xanana considera Alkatiri traidor da soberania nacional”, publicada pelo Timor Post, no dia 23 de janeiro, que “o jornal só publicou as declarações de uma fonte, no caso, Xanana Gusmão, sem respeitar o direito ao contraditório a que Mari Alkitiri tinha direito”.
Em quarto lugar, está o Jornal Independente (três infrações), seguido do Jornal Suara Timor Lorosa’e, da Streaming SM News e da G-RTV News, que ocupam a quinta posição, onde está também a RTTL E.P, com cinco infrações. No 6º lugar, encontra-se a Hatutan.com, em pé de igualdade com o Loluwari.com, o Jornal Dili Post e o Neon Metin.Info, todos com um incumprimento cada.
“Esta supervisão não pretendeu julgar o trabalho dos jornalistas, mas sim dar feedback sobre o progresso e as falhas para que possamos melhorar no futuro”, destacou Alberico da Costa Júnior.
Também Expedito Loro Dias Ximenes, um dos conselheiros do CI, considera que estas lacunas devem servir como motivação para os media melhorarem o seu trabalho. “Não somos anjos, por isso temos de reconhecer as nossas falhas e responsabilizarmo-nos pelas nossas publicações, só assim poderemos aperfeiçoar a nossa atividade.”
A avaliação demonstra ainda que a maioria dos meios de comunicação social timorense tem feito uma cobertura pouco detalhada sobre o processo de adesão do país à Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). “Por exemplo, a cobertura da TATOLI e da GMN TV sobre a ASEAN é incompleta, porque publicam muitas notícias, mas não explicam os benefícios da entrada de Timor-Leste para esta associação, de modo a que a população possa entender”, salientou Alberico da Costa Júnior.
No seguimento das conclusões da análise, o CI pede aos editores dos órgãos de comunicação para ficarem atentos aos textos antes de os publicar. “O papel dos editores é muito importante, porque não devem ver apenas o conteúdo da notícia, mas sim verificar também outros aspetos, sobretudo o cumprimento do direito ao contraditório e a ausência de elementos subjetivos”, acrescentou.
O responsável da DADM avançou que o CI vai, entretanto, “notificar e aplicar sanções aos media que cometeram mais infrações. Caso os media notificados sejam reincidentes, os jornalistas podem ficar sem carteira profissional e os órgãos sem certificado de registo”.