Agrónomo transforma monografia em negócio e ajuda agricultores em Viqueque

A primeira colheita da melancia na horta de Teófilo/Foto: DR

Após primeira colheita apresentar resultados surpreendentes, jovem reuniu sete pessoas e fundou um grupo. Técnicas visam aumentar a produção e garantir retorno financeiro.

O trabalho final para o curso de Agronomia na Universidade Nacional Timor-Lorosa’e (UNTL), sobre o crescimento da melancia em Timor-Leste, levou Teófilo Gomes, de 31 anos, a testar a sua monografia na prática e cultivar produtos agrícolas em Viqueque, no posto administrativo de Lacluta. No ano passado, utilizou 36 dólares para comprar sementes e, desses 36, com uma única colheita, obteve 600 dólares de lucro.

O resultado surpreendeu-o: “Não esperava que a primeira colheita fosse tão bem-sucedida, queria apenas cumprir com uma obrigação da monografia. No entanto, felizmente, tive êxito, tanto na teoria como na prática”, afirma, animado.

Após concluir o curso, o jovem retornou a Lacluta, a sua terra natal, já com o objetivo de trabalhar na agricultura, nos terrenos da família. Confiante no trabalho que desenvolveu para a monografia, reuniu um grupo de sete pessoas e criou, no início deste ano, o grupo “Horticultura Rai Ikun”. O coletivo não se limita à produção de melancia, mas também ao cultivo de alimentos como mostarda (planta), beringela, feijão, repolho, entre outros.

A expetativa é de que com o rendimento das colheitas, Teófilo consiga garantir um retorno financeiro regular acima do salário mínimo para todos os elementos do grupo, além de assegurar a subsistência alimentar.
Os membros do “Horticultura Rai Ikun” já trabalhavam com agricultura. Contudo, tinham dificuldade em transformar a economia de subsistência num negócio com lucro.

Sergito Gomes, 35 anos, é um dos agricultores do grupo do “Rai Ikun”. Diz que trabalha no campo desde 2018, mas não conseguia grandes colheitas, apesar de viver numa zona de terra fértil. Tudo mudou após começar a trabalhar com Teófilo. “Aprendi a cuidar da horta, com amor, e a fazer tudo com base na ciência”, relatou.

Segundo o agricultor, em Timor-Leste é cada vez mais raro haver pessoas que pensem em trabalhar na agricultura, porque a maioria dos jovens não quer desenvolver atividades na montanha. Por isso, sente-se grato pela oportunidade em estar a trabalhar com alguém como Teófilo. “Sinto que estou a aprender e a entender todo o processo numa lógica que possa trazer retorno financeiro a mim e à minha família”, contou.

Um dos clientes do “Rai Ikun” é Helder Soares, 33 anos. Sempre que tem vontade de comer melancia, vai à horta do grupo comprar. “O preço é acessível e os produtos têm bom sabor”, contou. Uma melancia pequena sai por um dólar, as maiores por dois dólares, não mais do que isso. As que são vendidas no mercado em Taibesi também são oferecidas aos consumidores pelo mesmo preço.

Em cada colheita, a produção de melancias pode ser altamente variável, dependendo de fatores como as condições climatéricas, os métodos de cultivo e o cuidado com as plantas. No “Rai Ikun”, a colheita acontece geralmente a cada três meses e gera mais de 200 melancias.

O jovem agrónomo e o grupo em ação: “Enquanto estiver vivo, vou dedicar a minha vida à terra” /Foto: DR
Aprender fazendo

Teófilo aplica o método “aprender fazendo” (learning by doing, expressão em inglês), pondo a teoria em prática e, ao mesmo tempo, tirar lições de todo o processo. Quase todos os dias, o jovem, depois de observar o produto, explica aos agricultores os detalhes nas etapas de cultivo dos alimentos.

O agrónomo dá o exemplo da quantidade de água diferenciada (técnica do uso inteligente da água) que cada vegetal requer para se desenvolver. Destaca também a importância de se utilizar os fertilizantes naturais (como fezes de vaca) na dose certa, tendo em conta o tipo de produto a ser cultivado. Descreve e ensina ainda como construir estruturas que permitam o crescimento da planta de modo a atingir todo o seu potencial, como as sustentações que dão equilíbrio aos pés de feijão.

Quanto aos desafios, o jovem afirma que ainda não tem equipamentos suficientes. Teófilo sublinha que toda a produção é feita com base na mão-de-obra dos agricultores. Por um lado, é bom, ressalta, porque permite um maior acompanhamento de todo o processo, por outro, a falta de algumas máquinas que criem automatismos torna esse processo mais demorado.

Para trabalhar, usam a enxada e outros materiais tradicionais para cavar e preparar a terra. É uma atividade o que exige muita força física. Apesar da falta de equipamentos e do trabalho essencialmente físico, Teófilo quer manter o grupo e já tem planos para criar outro, como um incentivo aos jovens na área da agricultura. “Enquanto estiver vivo, vou dedicar a minha vida à terra”.

O jovem sugere ainda que os licenciados em Agronomia regressem aos municípios para encontrar formas de colocar em prática o que aprenderam na universidade. Pede, contudo, maior atenção e incentivo do Governo para o setor da agricultura.

Teófilo quer ser uma referência na área. Quer compartilhar os conhecimentos com os agricultores do país, “para que eles possam usar a terra para fazer algo que lhes traga benefícios”.

Ver os comentários para o artigo

  1. Um hino a melancia!

    Quem diria
    Que em Viqueque, um dia
    Nao a abobora, mas a melancia
    Viesse quebrar a monotonia
    Da copra e do cao que mia
    Que engracado seria
    Que da abobora e melancia
    Se pudesse fazer uma enxertia
    Oh Uatolari onde o rato pia
    Umakik terra da minha tia
    Viqueque, senhor Inacio a varanda lia
    Tao bela poesia
    60 anos atras a minha estadia
    Na escola primaria muito aprendia
    Tiro o chapeu a melancia
    Quem diria, quem diria

    Ze Melao
    Poeta, primo da melancia

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