A partir dos 18 anos, a percentagem de mulheres timorenses a abandonar os estudos aumenta

Entre os 19 e os 29 anos, apenas 30% das mulheres continuam os estudos/ Foto: Facebook Unicef Timor-Leste

A falta de educação sexual nas escolas, o poder da cultura e da mentalidade patriarcal, que determinam que “as mulheres devem ser donas de casa”, são algumas das razões que contribuem para a elevada taxa de abandono escolar das mulheres jovens.

A partir do momento em que completam 18 anos, a percentagem de mulheres que abandona a escola ou universidade começa a aumentar significativamente. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística de Timor-Leste (INETL), relativos a uma amostra de idades compreendidas entre os 3 e os 29 anos, embora haja mais de 80% das mulheres a frequentar a escola até atingir a maioridade, esse progresso começa a reverter com a entrada das mulheres na idade adulta. Apenas 30% das mulheres timorenses entre os 19 e os 29 anos continuam os estudos. Um dos motivos apontados é o casamento precoce.

Os números apurados pelo Censo da População de 2022 estiveram em debate, esta terça-feira, num workshop organizado pelo Instituto Nacional de Estatística de Timor-Leste (INETL) e pelo Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA, sigla em inglês), subordinado ao tema “Libertar o Poder da Igualdade de Género: Elevar as vozes de mulheres, raparigas e jovens para desbloquear possibilidades infinitas em Timor-Leste”, no âmbito do Dia Mundial da População, que se assinala a 11 de julho.

No Salão do Institute Of Business (IOB), em Díli, Francisca de Sousa, chefe de gabinete na Secretaria de Estado para a Igualdade e Inclusão (SEII), afirmou que uma das razões que contribui para a percentagem elevada de abandono escolar por mulheres jovens é a situação económica. “Muitas vezes, pelo facto de as famílias não conseguirem dinheiro para financiar os seus estudos, estas jovens acabam por abandonar a escola ou até casar muito cedo. Outra razão tem a ver com os familiares acharem normal que as jovens não estudem, porque entendem que as mulheres devem ser donas de casa”.

Para a chefe de gabinete, a população de sexo feminino ainda não usufrui na totalidade do direito de tomar decisões, “porque a maioria dos timorenses ainda não permite que as mulheres sejam líderes na família, sobretudo nas questões culturais. A educação é a única forma de erradicar este hábito. Por exemplo, se uma mulher puder tomar as suas próprias decisões, poderemos evitar os casamentos arranjados”.

Por sua vez, Natalia Kanem, diretora-executiva do UNFPA, enfatizou também a necessidade de salvaguardar os direitos sexuais e reprodutivos, de forma universal, como base para a igualdade de género, a dignidade e a realização do potencial de todos – particularmente das mulheres e raparigas.

“Se aproveitarmos o poder de cada ser humano no planeta, podemos libertar todo o potencial das mulheres e das raparigas – encorajando e alimentando os seus desejos para as suas vidas, as suas famílias e as suas carreiras e galvanizando metade da liderança, das ideias, da inovação e da criatividade para melhorar a sociedade”, tendo em conta que mais de 49% da população timorense são mulheres.

A UNFPA acredita que aumentar o acesso a serviços de planeamento familiar e de saúde reprodutiva para as mulheres, a maioria ainda jovens, e proporcionar uma educação sexual adequada, permite ainda que os jovens desenvolvam relações mais responsáveis. Neste momento, mais de 40% das mulheres, a nível global, não conseguem exercer o seu direito de tomar decisões sobre ter ou não filhos.

Natalízio Nunes Martins, 24 anos, estudante de Direito da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), presente na iniciativa, corroborou que, em Timor-Leste, os estudantes ainda não têm acesso a educação sexual, o que faz com que muitas jovens engravidem precocemente e acabem mesmo por abandonar os estudos. “Se com 16 ou 18 anos muitas jovens já têm filhos, o Governo deve averiguar as causas e tomar medidas preventivas. A gravidez precoce acontece por falta de conhecimento. Deveria haver um investimento maior na educação sexual para que os jovens tenham consciência das consequências dos seus atos”.

Relativamente à gravidez não planeada e precoce entre as mulheres jovens, Francisca de Sousa salientou que a SEII e os responsáveis das escolas querem que as jovens mães continuem os seus estudos depois de darem à luz. Para isso, “estamos a lutar para que a educação sexual seja integrada no currículo do ensino secundário, de modo a que os estudantes tenham conhecimento sobre métodos contracetivos, e assim se evitem gravidezes indesejadas e doenças sexualmente transmissíveis”, concluiu.

“O Censo de 2022 contribui para formular políticas baseadas em dados e para conseguir um desenvolvimento sustentável, direcionado para as necessidades da população, uma vez que mostra onde devemos investir. Por exemplo, mais de 65% da nossa população tem menos de trinta anos, é jovem”, realçou Elias dos Santos Ferreira, presidente do INETL. “O investimento nas mulheres, raparigas e jovens conduzirá a uma maior prosperidade em Timor-Leste”, destacou.

O Dia Mundial da População foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1987, depois de o mundo chegar aos cinco mil milhões de habitantes, sendo que, atualmente, tem já 8 mil milhões de pessoas.

O dia, que tem como objetivo sensibilizar para as questões relacionadas com a população global, é uma forma de destacar a importância das questões demográficas, como o crescimento populacional, a distribuição geográfica, os desafios que as populações mais vulneráveis enfrentam e também a importância do planeamento familiar e dos direitos reprodutivos, principalmente o direito ao livre-arbítrio das mulheres.

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  1. Queria eu dizer que nao se difer muito pelo que acontece no mundo!
    Timor Leste, embora pobre e no terceriro mundo, esta a igualar a miseria actual.
    O “progresso”, contiinua a ser promematilco!

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