A importância e os desafios de economizar dinheiro em Timor-Leste

A celebração do Dia Nacional da Poupança teve lugar no Timor Plaza/Foto: Diligente

Cidadãos que participaram no evento promovido pelo Banco Central de Timor-Leste partilharam como fazem para poupar e falaram das dificuldades em não gastar tudo o que ganham.

O Banco Central de Timor-Leste (BCTL), em parceria com instituições financeiras do país, celebrou o 9º aniversário do Dia Nacional da Poupança na quarta-feira (29.11), através da realização de uma feira subordinada ao tema “Poupar agora é melhor para o futuro, utilizar pagamentos digitais é seguro e mais conveniente”, que teve lugar no Timor Plaza.

A iniciativa procurou sensibilizar para a importância de fazer um plano de despesas, economizar e proteger o orçamento através dos canais financeiros que estão disponíveis na sociedade, bem como disseminar informações sobre literacia financeira. Os visitantes tiveram também a oportunidade de abrir contas e fazer transferências através dos bancos presentes no evento.

Desde o lançamento do Dia Nacional da Poupança e da conta poupança “Ha´u nia Futuru”, já foram criadas 27 mil contas para crianças, perfazendo um total de 13 milhões de dólares.

O Diligente conversou com os presentes para perceber as suas perspetivas sobre a importância de se economizar uma parte do dinheiro ganho, e conhecer as diferentes estratégias utilizadas para poupar uma parte dos rendimentos.

“Os cidadãos devem identificar as facilidades e os riscos de produtos para evitar eventuais problemas”

Timóteo Pires, chefe da divisão no Desenvolvimento do Sistema Financeiro do Banco Central de Timor-Leste (BCTL)

“Poupar o dinheiro é economizar a despesa. Quando receber um montante de dinheiro, tire uma quantia suficiente para as necessidades básicas e poupe o resto. Para os que não têm salários fixos, como os empreendedores, podem investir o lucro nos seus próprios negócios e, se houver ainda mais dinheiro, deixá-lo na conta bancária poupança para posteriormente usar como um investimento maior.

Nos bancos em Timor-Leste, já há uma conta que se chama ‘Konta Hau nia Futuro’ (O meu Futuro), para as crianças de 0 a 17 anos. Abre-se com um dólar, sem custo administrativo e há percentagem anual de rendimento.

Há duas maneiras de poupar dinheiro. A primeira é a mais tradicional, em que guardamos algum dinheiro num cofre, ou podemos criar animais para depois os vender.

A segunda maneira é abrir a conta de poupança nos bancos. Mas sugerimos que a população se informe das características da conta ou do produto que cada banco oferece, porque são diferentes. Em alguns bancos, as pessoas podem abrir a conta de poupança com 10 dólares americanos, enquanto noutros, só se pode abrir a conta com 50 dólares.

Os cidadãos devem identificar as facilidades e os riscos de produtos para evitar eventuais problemas. Se o cartão é P24 para poder levantar o dinheiro em qualquer ATM, quanto é o custo administrativo mensal e qual a percentagem de rendimento da conta poupança, e como é que os membros da família podem tirar o dinheiro se o dono da conta morrer – são algumas das questões a serem esclarecidas.

Há ainda dois tipos da conta de poupança. A primeira é a conta de poupança regular, em que as pessoas podem tirar o dinheiro a qualquer momento. A segunda chama-se poupança a prazo, em que só se pode levantar o dinheiro depois de um período acordado entre o banco e pessoal que poupa. O período de levantamento pode ser mensal, trimestral, semestral ou anual: quanto mais tempo o dinheiro ficar guardado, maior a percentagem de rendimento.

Um dos riscos para os clientes é deixar outras pessoas saberem os códigos de acesso do cartão de débito. Muitos timorenses já passaram por isso e, às vezes, quando acham que perderam dinheiro, culpam os bancos. Na era de digitalização, tenham cuidado.

Conta como risco também quando as pessoas abrem as contas e não poupam dinheiro: se a quantia é menor, o dinheiro pode esgotar pelo custo administrativo. O último é quando o dono de determinada conta morre. É preciso antecipar como a família pode ter acesso à referida conta.”

“Temos dificuldade em poupar, porque em Timor-Leste temos muitas Lia (atividades culturais), para as quais somos obrigados a contribuir”

 

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Agripina da Cruz, doméstica, vive em Cailaco, Bobonaro/Foto: Diligente

“Poupar permite-nos gerir o dinheiro e é muito importante para todos. Para concretizarmos os nossos sonhos, temos de poupar uma parte do nosso salário. Por exemplo, se queremos comprar uma mota, mas também temos de pagar a escola dos nossos filhos, precisamos de colocar algum dinheiro de parte.

Recebi estas informações por parte dos funcionários do BNCTL. Tenho de controlar os nossos gastos, porque estou preocupada com o futuro dos nossos filhos. Para isso, preciso de guardar uma parte do salário do meu marido. Não posso gastar tudo, preciso de economizar para assegurar a vida da nossa família no futuro. Tenho consciência de que é muito importante investir na educação dos meus filhos, porque a educação pode mudar vidas.

No entanto, temos dificuldade em poupar, porque em Timor-Leste temos muitas Lia (atividades culturais), para as quais somos obrigados a contribuir.

Em 2016, começamos a guardar dinheiro no banco para o nosso primeiro filho. No futuro, queremos que ele use este dinheiro para continuar a estudar na melhor universidade e, assim, possa ter uma vida melhor.”

“Se gastarmos todo o dinheiro sem controlo, então a nossa vida nunca muda”

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Elias Cardoso, 60 anos, funcionário público, vive em Díli/foto: Diligente

“Cada pessoa tem de desenvolver um plano financeiro para saber quanto dinheiro vai gastar e quanto tem de guardar, só assim poderemos garantir uma vida estável no futuro. Se gastarmos todo o dinheiro sem controlo, então a nossa vida nunca muda. Para ter segurança financeira, temos de poupar.

Como pais, temos a responsabilidade de pensar no futuro dos nossos filhos. Para tal, devemos guardar uma parte do nosso rendimento no banco ou no grupo de cooperativa, não  em casa, porque é inseguro.

Já comecei a guardar dinheiro para o nosso filho em 2018. Tenho de o fazer, porque a minha idade já é avançada. Caso contrário, o nosso filho é que vai sofrer. Encorajo todas as famílias a fazerem o mesmo, de modo a garantir a vida e a segurança dos seus filhos”.

“Vendo pão à frente da casa e guardo o lucro. Normalmente, guardo vinte cinco ou cinquenta centavos por dia ”

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Teresa Gusmão, 16 anos, Estudante de Economia e Comércio, Becora, Díli/Foto: Diligente

“A poupança é fundamental para controlar o nosso dinheiro e ensina-nos que temos de guardar uma parte do nosso rendimento para o nosso futuro. Os meus pais dizem-me sempre que devo poupar e não posso gastar quando me apetece.

Vendo pão à frente da casa e fico com o lucro. Normalmente, guardo vinte cinco ou cinquenta centavos por dia.  Tenho um cofre, mas não me sinto segura a tê-lo no meu quarto, então peço à minha tia que o guarde.

Vim aqui hoje para pedir informação sobre como abrir uma conta no banco, porque assim o meu dinheiro fica mais seguro e, no futuro, se precisar, posso recorrer a esta quantia.

Quando tiver muito dinheiro, quero construir uma casa e abrir um negócio. Além disso, quero continuar a estudar no ensino superior”.

“É fundamental falar sobre literacia financeira, porque a maioria dos timorenses quando tem dinheiro, gasta sem pensar”

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Ivo Inocêncio Alegre, funcionário do Instituto de Apoio ao Desenvolvimento Empresarial/Foto: Diligente

“Encorajamos a população a gerir o dinheiro de forma cuidadosa. É fundamental falar sobre literacia financeira, porque a maioria dos timorenses quando tem dinheiro, gasta sem pensar. Posso dizer que a capacidade de gestão da população ainda é mínima, por isso precisamos de informar as pessoas para que possam administrar o seu salário, guardando uma parte e gastando o que é necessário.

Quando não guardamos, não podemos investir na educação dos nossos filhos e em negócios.

O mundo moderno é muito competitivo e queremos muitas coisas. Quando não temos dinheiro, é difícil competir, sobretudo no mundo dos negócios. Também não poderemos investir na educação dos nossos filhos.

Temos de ter ideias criativas para investir o dinheiro poupado para criar um negócio, por exemplo. Assim, começa a haver circulação de dinheiro e podemos aumentar os nossos rendimentos.”

Ver os comentários para o artigo

  1. Bem para se poupar ou economizar e necessario ter emprego e ordenado que de para viver e nao para passar resvez campo de ourique. Em TL o povo so pode poupar “fatuk do quintal”.

  2. Para breve nas bancas de Dili, do economista timorense, Jose Mealheiro, o “Manual de como economizar anilhas e parafusos em TL”.
    O autor em 5 horas de passeio do Comoro a Santana, conseguiu recolher e poupar 25 anilhas e 30 parafusos.
    Nao perca a leitura deste manual que se anteve como o primeiro “best seller” do pais.

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