25 de abril: “Sem o conceito de liberdade, também não há humanidade”

A revolução de 25 de abril de 1974 também ficou conhecida como a Revolução dos Cravos/Foto: shutterstock

O 25 de abril de 1974 marcou uma viragem em Portugal, foi o dia em que os militares portugueses saíram à rua para acabar com a ditadura de Salazar. Para comemorar esta data, o Diligente conversou com alguns portugueses a viver em Timor-Leste para perceber a importância que tem para eles o Dia da Liberdade.

“A liberdade é a possibilidade de fazer o bem e de defender valores, respeitando também outras liberdades e outras maneiras de pensar”

Reformada portuguesa, 80 anos (não quis que o Diligente publicasse fotografia)

“Eu era jovem e o 25 de abril marcou-me pela positiva, porque eu pertencia a uma minoria que desejava esse momento.

Sempre fui adepta da liberdade em tudo, portanto, o 25 de abril foi importante e continua a ser importante na minha vida.

Para Portugal, sair de uma ditadura e entrar num período de liberdade, não há dúvida nenhuma que valeu a pena e Portugal soube aproveitar tudo o que 25 de abril nos trouxe.

A liberdade é a possibilidade de fazer o bem e de defender valores, respeitando também outras liberdades e outras maneiras de pensar.

A minha mensagem, neste dia, é que os portugueses saibam unir-se cada vez mais para construir um país novo, de valores, onde todos possam ter lugar numa sociedade não tão fragmentada como a de hoje”.

“Para mim, a liberdade é eu poder estar aqui a falar, antes do 25 de abril não o podia fazer, agora posso”

Miguel Lobo, 46 anos, professor português em Timor-Leste (não quis que o Diligente publicasse fotografia)

“Eu nasci depois do 25 de abril. Sabemos que é uma data importante, porque nos devolveu a liberdade.

Permitiu ao país desenvolver-se, mas se calhar tem mais importância para quem realmente viveu o 25 de abril, em 1974.

Para mim, a liberdade é eu poder estar aqui a falar, antes do 25 de abril não o podia fazer, agora posso. A mensagem que quero deixar é que nos mantenhamos em liberdade”.

“As pessoas não devem viver no passado. Devem olhar para o futuro e não pensar que isto é algo garantido, conquistado, a conquista é feita todos os dias”

Alexandre Couto, 47 anos, gestor de empresas/ Foto:Diligente

“Foi um período importante na História de Portugal, em que o nosso país e a nossa sociedade mudaram de forma radical, houve coisas bastante importantes e boas e outras menos boas.

Eu já sou um filho de uma geração subsequente, não vivi a História anterior, essa foi a História vivida pelos meus pais e pelos meus avós, não foi a minha. É uma história um bocadinho como a vossa agora, em que estão a reconstruir o país com o esforço das gerações anteriores. Nós, em Portugal, também estamos a fazer esse esforço contínuo todos os dias para melhorar, organizar e continuar a acreditar que a liberdade é um dos valores mais importantes para a sociedade e que não é garantida, temos de trabalhar todos os dias para a manter.

Foi uma data bastante importante e será sempre marcante na história recente e na futura também.

A liberdade significa poder dar escolhas às gerações futuras e à nossa própria geração daquilo que achamos que é a melhor forma de o país se organizar, não tendo receios de que a nossa opinião possa ser divergente e minoritária, acreditando que existe liberdade de opinião e de escolha e que isso enriquece a sociedade como um todo e a nós também. A liberdade é poder debater, discutir de forma organizada e sem receio que essa discussão traga consequências.

As pessoas não devem viver no passado. Devem olhar para o futuro e não pensar que isto é algo garantido, conquistado, a conquista é feita todos os dias. O mundo é cíclico e dá muitas voltas. O trabalho que se conquistou pode ser perdido a qualquer momento. Todos os dias é um caminho para a excelência, acho que é isso que nos deve mover. Mais do que uma data concreta, não é uma fotografia que se tirou, é um filme que se está a fazer e nesse filme a história final é a nossa caminhada”.

“A democracia e a liberdade também têm de ser bem aproveitadas, não podemos dizer só que a temos, mas temos de a utilizar para o bem da sociedade”

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Pedro Carrelo, 49 anos, militar/ Foto:Diligente

“O 25 de abril demonstra a nossa liberdade, foi aquilo que ganhamos por direito, deixamos uma ditadura para optar por algo que nos permite ser mais pessoas e ter uma consciencialização diferente a nível da mentalidade e de procedimento. A liberdade é um pouco isto, é nós nos expressarmos e podermos dizer aquilo que nos vai na alma e melhorar o que está mal.

Eu avalio de uma forma extremamente positiva a importância desta data para Portugal, porque acho que era da aceitação de quase toda a população portuguesa que isso acontecesse. Por isso, para todos os portugueses, foi uma data extremamente importante, que nos permitiu estar onde estamos hoje em dia, ao nível da democracia.

A liberdade é a liberdade de pensamento, de expressão, de desenvolvimento humano, de democracia partidária, política e das pessoas também.
A minha mensagem é que as pessoas aproveitam bem a democracia. A democracia e a liberdade também têm de ser bem aproveitadas, não podemos dizer só que a temos, mas temos de a utilizar para o bem da sociedade”.

“Sem o 25 de abril e sem o conceito da liberdade também não há humanidade

blankVanessa Pleno Petrova, 40 anos, docente do Centro de Língua Portuguesa no âmbito do projeto FOCO-UNTL/ Foto:Diligente

“O 25 de abril é muito importante, porque sem ele as mulheres em Portugal não podiam votar, não teria havido mais liberdade de expressão, tanto para mulheres como para homens. Também não haveria independência a nível dos PALOP (países africanos de língua oficial portuguesa) e também Timor-Leste. O 25 de abril representa também a saída de um regime ditatorial, no qual a Ciência e a Educação não existiam. Também permitiu, poucos anos depois, a entrada de Portugal para a Comunidade Europeia e a abertura de Portugal para outras formas de pensar o mundo.

A nível pessoal, representa muito para mim, porque o meu pai que era búlgaro, vivia na Europa de Leste e a minha mãe é portuguesa e vive ainda em Portugal e sem o 25 de abril, os meus pais não podiam ter continuado o namoro e não podiam ter casado. O 25 de abril não é só um cravo, não é só uma flor. No fundo, é símbolo de uma luta, mesmo que não tenha deixado nenhum sangue nas ruas, uma luta que se fez progressivamente até chegar finalmente a democracia.

Às vezes, fico triste, porque acho que os jovens, sobretudo os jovens de 15 e 20 anos em Portugal, alguns já esqueceram tudo o que representa o 25 de abril. O 25 de abril, para mim, deve continuar a ser bem estudado nas escolas portuguesas, mas não só, também em escolas de todo o mundo, porque é um acontecimento histórico que permitiu chegar à independência. Esta data merecia, eventualmente, mais promoção de atividades, sendo um marco importante da História de Portugal, mas também, de certa forma, da Europa.

Para mim, continua a ser um dos acontecimentos mais importantes da História de Portugal, porque sem ele, estaríamos, se calhar ainda numa economia mais centrada na produção agrícola, por exemplo, e menos na inovação científica e tecnológica.

O conceito de liberdade é um pouco complicado, porque há pessoas que acreditam que a liberdade é igual a libertinagem. Libertinagem, no fundo, é a liberdade total sem pensar em consequências, sem limites. A liberdade passa muito pelo respeito pelo outro, primeiro, passa por ouvir as opiniões dos outros antes de formular as nossas.

A liberdade, primeiro, é de expressão, sem a liberdade de expressão e de apresentar as nossas opiniões sobre os vários acontecimentos sociais, políticos e económicos não haveria liberdade. Deve ser praticada todos os dias, não é puramente um conceito abstrato, que só está no mundo das ideias. A liberdade é permitir ao outro expressar-se de forma mais livre, sem estar amarrado ou preso às opiniões comuns. Acho que a liberdade é um bocadinho pessoal, porque até a nível criativo e artístico, acho que todos os artistas deviam ter a sua própria liberdade para criar as suas esculturas, para poder passar o pincel na tela sem ter medo dos políticos, do regime que pode estar em vigor. A liberdade é dar asas para escritores poderem exprimir as suas ideias e opiniões e até sentimentos nos vários livros e textos literários.

Espero que o 25 de abril continue a ser festejado nos próximos anos e que não caia no esquecimento, nem pelas novas gerações, nem pelas futuras, porque sem o 25 de abril e sem o conceito da liberdade também não há humanidade”.

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  1. Liberdade ou libertenagem?

    Liberdade e uma paisagem
    O povo, na verdade, vive de aragem
    E necessario ter coragem
    Para volvidos 49 anos de melindragem
    Sacanagem
    Dizer que o 25 de Abril trouxe melhoragem
    Quando em verdade trouxe “libertenagem”
    Liberdade e uma paisagem

    Ze da Liberdade autentica

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