TURISMO

Setor do turismo em Timor-Leste enfrenta ainda desafios básicos

Meet the Press com o diretor-geral do Turismo, Jelino Soares/ Foto: Diligente

No âmbito do encontro Meet the Press, organizado pela Secretaria de Estado para a Comunicação Social (SECOMS), sob a orientação do primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, o diretor-geral do Turismo, Jelino Soares, apresentou, na passada quinta-feira, no Palácio do Governo, as principais atividades do gabinete do Turismo Comunitário e Cultural.

Nas reuniões semanais, responsáveis ministeriais, de instituições públicas e representantes das autoridades municipais, fazem um balanço à comunicação social dos resultados do mandato do XVIII Governo Constitucional, cuja legislatura termina no próximo mês de maio.

O diretor-geral, em representação da Vice-Ministra do Turismo Comunitário e Cultural, Inácia da Conceição Teixeira, destacou “o trabalho desenvolvido, no âmbito do Turismo Comunitário, nomeadamente em Ainaro, Viqueque, Baucau e Aileu”.

O encontro serviu para o responsável realçar, como uma das principais atividades do gabinete, o programa Mambae Coffee Trails, em Manufahi, Ainaro e Liquiçá, que atua na preservação e divulgação da produção de café, produto profundamente ligado à imagem de Timor-Leste.

Para além da “aposta” no turismo comunitário, o diretor-geral destacou também as atividades desenvolvidas com o Ministério para os Assuntos dos Combatentes da Libertação Nacional, no âmbito do “Jornal da Resistência”, projeto em que os veteranos “contam as suas histórias e partilham os lugares de maior interesse para que os turistas fiquem a conhecer mais profundamente Timor-Leste”.

Questionado pelo Diligente sobre como desenvolver o turismo no país, sem primeiro investir em serviços básicos, como restauração e alojamento , Jelino Soares lembrou a importância das empresas privadas para o desenvolvimento turístico: “o setor privado é muito importante e todas as pessoas têm um papel essencial”.

Acrescentou ainda que, no Ministério do Turismo Comércio e Indústria (MTCI), existe a Direção Nacional de Empreendimentos, Atividades e Produtos Turísticos (DNEAPT) e que, “todos os anos, essa mesma direção procede à supervisão dos restaurantes, guest houses e alojamentos para confirmar se preenchem os requisitos”.

Relativamente ao preço das passagens aéreas de e para Díli, que dificilmente se conseguem comprar por menos de 400 dólares, ida e volta, e ainda às fracas condições do aeroporto internacional Nicolau Lobato, Jelino Soares avançou que, apesar de já terem discutido, internamente, o assunto no MTCI, “as questões relativas ao aeroporto e ao preço dos voos são da competência do Ministério dos Transportes e Comunicação (MTC)”.

Apesar disso, não quis deixar de salientar a recente chegada, no dia 20 de março, do primeiro avião de bandeira timorense ao país, da operadora Aero Dili: “estamos felizes por Timor-Leste ter o seu próprio avião. Sobre o preço dos bilhetes, agora que já temos um avião, se a Aero Dili fizer preços mais baixos, com certeza que as outras operadoras também vão baixar os valores, porque se trata de uma competição”.

O voo inaugural da Aero Díli, entre Díli e Bali, estava previsto para 28 de março, mas acabou por não acontecer, uma vez que as autoridades indonésias não emitiram ainda a licença para que a companhia possa efetuar voos regulares para Bali”. Não está ainda definida uma data certa para o arranque da operação, mas os responsáveis apontam para que possa acontecer ainda na primeira quinzena deste mês.

Quanto ao facto de a poluição e o lixo amontoado pela cidade de Díli afetarem o turismo no país, o diretor-geral considera que essa questão “é da competência da Autoridade Municipal de Díli”, mas sublinhou que “todos devemos contribuir para termos uma cidade limpa. Temos de ter consciência ambiental e não atirar lixo para o chão, mas infelizmente ainda não temos esta mentalidade”. No mesmo sentido, destacou que “existem paisagens e lugares maravilhosos, com boas estruturas turísticas, mas se as pessoas continuarem a deitar o lixo para o chão, isso vai, inevitavelmente, prejudicar o turismo”.

No que diz respeito à questão do lixo, Agapito Guterres, guia turístico em Díli, que acompanha turistas, chegados à cidade em diferentes cruzeiros, contou ao Diligente “que quando visitam a praia do Cristo-Rei, muitos turistas se queixam da falta de casas de banho públicas e da quantidade de lixo acumulado na praia”.

O diretor-geral do Turismo aproveitou ainda o encontro para falar sobre a importância do pacote legislativo relativo ao setor, proposto ao longo do mandato. “As leis também são uma prioridade desta governação. O plano estratégico de Turismo 2023-2030 já foi aprovado no Conselho de Ministros, assim como o projeto de decreto-lei referente à Autoridade de Turismo de Timor-Leste, I.P, e ainda o decreto-lei sobre Gestão Turística. “É muito importante ter legislação, porque os investidores, quando querem investir, pedem sempre as leis sobre turismo em Timor-Leste”.

O Diligente abordou, esta quarta-feira, o Ministro do Turismo, Comércio e Indústria, José Lucas da Silva, para saber os motivos que levaram à criação deste novo Instituto Público. Em resposta, o ministro limitou-se a referir que “o instituto é uma entidade implementadora do programa do Governo. O Governo define as políticas e esta autoridade implementa”.

Distâncias em TL contam-se pelas horas de viagem e não pelos quilómetros

‘Estrada’ que liga Díli ao posto administrativo de Laclubar (Manatuto) Foto: DR

Em Timor-Leste, as distâncias não se medem em quilómetros, mas sim em horas. Num país que não possui ainda uma rede rodoviária eficaz, a maior parte das deslocações têm de ser bem pensadas e planeadas.
Distâncias que, em condições normais, não deveriam demorar mais de uma hora, levam, regularmente, o dobro ou o triplo, em estradas, a maior parte, esburacadas, salvo algumas exeções, que confirmam a regra das más condições rodoviárias.

O percurso entre os municípios de Díli e de Same, que corresponde a uma distância de 113 quilómetros, demora, no mínimo, 3 horas, numa viagem feita de carro.
Entre a capital e o Santuário de Hatu Builico, ponto de partida para um dos pontos mais emblemáticos e concorridos de Timor-Leste, a montanha do Ramelau, são necessárias, no mínimo, 6 horas para percorrer 86 km.

Já para fazer o percurso de 184 quilómetros, que separa Díli do município de Viqueque, são esperadas entre 6 a 7 horas de viagem.

Estes são apenas alguns dos muitos exemplos da deficiente conexão rodoviária em Timor-Leste, um dos muitos desafios que o setor do turismo enfrenta. Uma realidade que contrasta, em larga escala, com o Plano Estratégico de Desenvolvimento 2011-2030 (PED), que previa alcançar, até 2020, “a reabilitação total de todas as estradas nacionais e distritais, ao nível de um padrão internacional”.

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