Cinquenta anos do 25 de abril: fim da ditadura em Portugal intensificou procura por autodeterminação em Timor-Leste

“25 de abril sempre! Fascismo nunca mais!”, reforçam, velhas e novas gerações, nesta data/Foto: DR

Neste dia, a Revolução dos Cravos, que uniu civis e militares portugueses, deu início a uma fase de respeito pela liberdade individual e maior inclusão no país. Na altura, quase um ano e oito meses depois, a recém-declarada independência timorense foi violada pela invasão das forças indonésias – com o apoio dos Estados Unidos e da Austrália.

Neste dia, há 50 anos, o povo português pôs fim ao período de 41 anos de autoritarismo e violação de liberdades individuais, estabelecido pelo ditador António Salazar (falecido em 1970) e continuado pelo sucessor, Marcelo Caetano.

O movimento que marcou esta mudança foi chamado de Revolução dos Cravos, que uniu civis e militares na procura pela democracia – conquistada de forma pacífica. A rutura permitiu o nascimento de grupos políticos de diferentes ideologias, universalizou o acesso à educação e saúde públicas, garantiu melhores direitos aos trabalhadores e assegurou a participação dos cidadãos na tomada de decisões e manifestações. “25 de abril sempre! Fascismo nunca mais!”, reforçam, velhas e novas gerações, nesta data.

O nome do movimento terá vindo de um ato insólito: o pedido de um soldado a uma mulher por um cigarro, que, não sendo fumadora, lhe entregou o único pertence que tinha na ocasião, um cravo. Aceite e colocado pelo homem na ponta da espingarda, o gesto acabou por ser imitado pelos outros militares, tornando-se um símbolo e denominando o momento.

Longe de Portugal, as repercussões também foram sentidas. A Revolução dos Cravos eclodiu nas colónias portuguesas na época – como Timor-Leste – agitações locais sobre uma eventual autodeterminação em relação ao Estado português. Assim, a 28 de novembro de 1975, a Frente Revolucionária de Timor-Leste (FRETILIN) proclamou, unilateralmente, a independência do país em relação a Portugal. Muitos dos militares portugueses já tinham regressado a Portugal.

Contudo, passados nove dias, o território timorense foi alvo de uma outra invasão, desta vez pelo país vizinho: forças da Indonésia chegaram a Díli por ar, terra e mar, dando início a uma violenta ocupação que durou 24 anos. Estima-se que aproximadamente 250 mil timorenses tenham perdido a vida na resistência contra os invasores.

No recém-lançado documentário “Rotas da Liberdade”, produzido pela Escola Portuguesa de Díli (EPD), o atual presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, responsabiliza também os governos da Austrália e Estados Unidos pelo ocorrido. “A invasão indonésia não teria acontecido sem o apoio destes dois países. Timor-Leste ficou sozinho nessa luta”, observa.

Naquele momento, Estados Unidos e a então União Soviética travavam uma disputa pela ordem hegemónica global, a chamada Guerra Fria. Dessa forma, para assegurar uma influência geopolítica no território e conter um eventual avanço do comunismo, os norte-americanos apoiaram o regime do ditador Hadji Suharto na invasão a Timor-Leste – com a intenção de o tornar numa província indonésia.

A informação foi confirmada em 2001. Documentos oficiais do governo norte-americano revelaram que o presidente Gerald Ford e o secretário de Estado na altura, Henry Kissinger, se encontraram com Suharto, em Jacarta, um dia antes (6 de dezembro de 1975) do ataque indonésio ao território timorense, sinalizando positivamente a ação.

Timor-Leste restaurou a democracia a 20 de maio de 2002 e atualmente mantém boas relações com a Indonésia, Estados Unidos, Austrália e sobretudo com Portugal, com quem tem em comum a língua – um dos idiomas oficiais do país (a par do tétum).

No documentário da EPD, algumas personalidades timorenses, como o ex-primeiro-ministro Taur Matan Ruak, refletem sobre o que é liberdade. “Para mim, significa não ter medo de dizer não”, diz.

Por sua vez, o atual primeiro-ministro, Xanana Gusmão, quando questionado, responde de forma bem-humorada. “Mas que pergunta é esta? É melhor ir procurar no Google”.

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