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50 anos do 25 de Abril na Escola Portuguesa de Díli: “A liberdade é não ter medo de dizer não”

A EPD encheu-se de pessoas curiosas para ver o documentário “Rotas da Liberdade”. Foto: Diligente

No âmbito das comemorações do 25 de abril, a Escola Portuguesa de Díli – Centro de Ensino e Língua Portuguesa Ruy Cinatti foi palco da estreia do documentário “Rotas da Liberdade”, que traz uma abordagem original sobre como a Revolução dos Cravos foi percebida e sentida pelos cidadãos de Timor-Leste.

No âmbito das celebrações dos 50 anos do 25 de abril, a Escola Portuguesa de Díli – Centro de Ensino e Língua Portuguesa Ruy Cinatti (EPRC) organizou uma série de atividades desde o início deste ano. Exposições, sessões de leitura, ciclos de cinema, corrida da liberdade, peça de teatro fazem parte do rol de iniciativas desenvolvidas para celebrar a Revolução dos Cravos, o movimento que pôs fim a um período de 41 anos de brutal ditadura militar em Portugal.

Ontem, 24 de abril, num fim de tarde quente, foi a vez da estreia do documentário “Rotas da Liberdade”, idealizado de Ana Figueiredo, professora de História, com o apoio de Lisete Fortunato, coordenadora do departamento da Ciências Sociais e Humanas, ambas docentes na EPD. A obra, produzida e realizada pelo jornalista António Sampaio e por Manuel Pestana, da Diliwood, contou ainda com o suporte da Fundação Oriente. O pátio da escola encheu-se de pessoas para celebrar a liberdade e a democracia.

A par do documentário, foi também lançado o livro “50 anos, 50 poemas”, que “celebra poetas que lutaram pela liberdade e pela democracia”, nas palavras do Diretor da EPRC, Manuel Marques, na nota introdutória do livro – servindo como uma lembrança do passado para as gerações futuras.

Ana Figueiredo explicou ao Diligente que a ideia partiu de uma homenagem pessoal que queria fazer a Timor-Leste, e a todos os timorenses, por a terem recebido tão bem desde que chegou ao país, há três anos – aproveitando o 25 de abril para fazer um levantamento de testemunhos pessoais.

“Pensei em fazer algo muito caseiro, usar uma câmara pequenina e entrevistar. Depois, quando partilhei a ideia com a minha coordenadora de departamento, ela ficou muito entusiasmada. A escola também gostou, ajudou-me e tornou a ideia num projeto da instituição”, disse.

A dificuldade que encontrou na elaboração do filme foi a falta de muita informação sobre Timor-Leste, relativamente a 25 de abril. “Preparei livros, fui ao Museu da Resistência e ao Arquivo Nacional para ver o que havia. Ainda há alguma coisa, algumas leituras, mas a pesquisa principal foi através de vários testemunhos de cidadãos timorenses para relembrar como eles viveram o 25 de abril. A história vem muito das memórias e das lembranças pessoais”, detalhou a professora.

Os depoimentos foram sugestão de Álvaro Vasconcelos, principal guia do Arquivo e Museu da Resistência de Timor-Leste, também ele participante no documentário. “O senhor Álvaro passou-me os contactos deles e começámos a conversar. A outras pessoas foi necessário enviar cartas. A maior dificuldade foi fazer tudo isto num curto espaço de tempo”, confessou Ana Figueiredo.

Já Lisete Fortunato contou que, quando chegaram à escola no início do ano letivo, em setembro, a propósito do plano anual de atividades, uma das ideias que surgiu foi celebrar os 50 anos do 25 de abril. “Recebemos várias propostas de vários professores, de vários departamentos, e uma delas foi precisamente a da professora Ana Figueiredo, que pretendia reunir testemunhos sobre como era Timor antes do 25 de abril, como é que se soube da notícia da revolução e se mudou alguma coisa depois dessa data”, partilhou.

A coordenadora enfatizou ainda a necessidade de refletir sobre  a importância da liberdade hoje em dia, bem como o caráter pioneiro da obra. “É a primeira vez que é feito um registo só com timorenses sobre as vivências antes do 25 de abril, sobre o 25 de abril e depois. A nível internacional, não há registo só com pessoas nacionais sobre como viveram, nos seus locais, o 25 de abril”, sublinhou.

Contactado pela EPD para produzir e realizar o filme, o jornalista António Sampaio foi o responsável por elaborar o fio narrativo que conduz a obra de aproximadamente 27 minutos. “O nosso objetivo era concentrar os depoimentos sobre o período antes do 25 de abril e durante, quando a notícia começou a ser conhecida aqui, e depois, nos momentos de alguma confusão e incerteza, sem entrar muito na história entre 1974 e 1975, que foi o período da guerra civil timorense”, afirmou.

As filmagens aconteceram ao longo de três dias e mais algumas semanas para a conclusão final. “É o resultado de uma edição cuidadosa, que procura ter em conta as partes mais significativas dos depoimentos das pessoas que participaram. Este é um dos únicos documentos com depoimento, exclusivamente, dos cidadãos de uma antiga colónia, num momento muito importante para a história de Timor-Leste e de Portugal”, observou o jornalista.

Eugénia Neves, 65 anos, professora de Língua Portuguesa no departamento de Língua Portuguesa da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), considera que o filme é muito importante para que a geração mais nova conheça a história. “No 25 de abril de 1974, tinha 14 anos. A situação era pacífica. Não sabia de nada, só soube através do jornal. Continuámos a ter aulas, mas depois os professores foram-se embora”, recordou.

As consequências do 25 de abril, para a professora, foram devastadoras. “Deu-se a liberdade e os timorenses não a sabiam usar. Os timorenses elegeram partidos políticos e não chegaram a um consenso. Logo depois veio a invasão indonésia. Muitos timorenses sofreram e morreram. A liberdade custou muito”, lamentou.

Sobre a invasão indonésia, o presidente da República, José Ramos-Horta, um dos entrevistados no documentário, responsabiliza também os governos da Austrália (“falta de solidariedade”) e Estados Unidos (“falta de ética”). “A invasão indonésia não teria acontecido sem o apoio destes dois países”diz.

Naquele momento, os Estados Unidos e a então União Soviética travavam uma disputa pela ordem hegemónica global, a chamada Guerra Fria. Dessa forma, para assegurar uma influência geopolítica no território e conter um eventual avanço do comunismo, os norte-americanos apoiaram o regime do ditador Hadji Suharto na invasão a Timor-Leste – com a intenção de o tornar numa província indonésia.

Outro participante no filme e que marcou presença no evento foi o ex-primeiro-ministro, Taur Matan Ruak. No documentário, em resposta à pergunta sobre o que é a liberdade, afirma: “a liberdade é não ter medo de dizer não”.

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