No país, o idioma nativo makuva, de Lospalos, foi extinto e outros 24 são falados por menos de 2% da população cada.
“A perda de uma língua não é apenas a sua morte, mas também da história, da cultura e de conhecimentos que o idioma deteve”, observou o coordenador da divisão de cultura da Comissão Nacional de Timor-Leste para a UNESCO (CNTLU), Augusto Salsinha.
Para reforçar a importância de manter as línguas nativas vivas, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), desde 1999, celebra nesta data (21 de fevereiro) o Dia Mundial da Língua Materna. “As sociedades multilíngues e multiculturais existem por meio das suas línguas, que transmitem e preservam conhecimentos e culturas tradicionais de forma sustentável”, ressalta a entidade na sua página oficial. A língua materna refere-se à primeira língua que uma pessoa aprende na infância, geralmente em casa, com a família ou na comunidade em que cresce.
Situado no Sudeste Asiático, Timor-Leste, apesar de pequeno, é um país de rica diversidade linguística. O censo de 2022 (o mais atual), que não distinguiu língua de dialeto, constatou a presença de 33 idiomas nativos. Contudo, dessa quantidade, 24 estariam em perigo de desaparecer: o número de falantes de cada uma das respetivas línguas nativas não chega a 2% do total da população (1,3 milhões de habitantes). De acordo com o Instituto Nacional das Estatísticas de Timor-Leste (INETL), aquela menos utilizada, ou seja, com maior risco de extinção, é a adabe, de Oé-cusse – falada por apenas 63 pessoas.
No país, alguns idiomas nativos já desapareceram, como o makuva ou lovaia, natural de Lospalos, no posto administrativo de Tutuala. “Os poucos falantes do makuva estavam em idade avançada e morreram”, lamentou Augusto Salsinha. Para tentar reverter este quadro, a CNTLU criou um projeto de redação de livros de histórias em línguas menos faladas.
Até ao momento, foram produzidas sete publicações: em bunak, do suco Tapo de Bobonaro; em bekais, do suco Lehito de Bobonaro; em manutela, de Liquiçá; em dadu’a, do suco Makaduak de Manatuto, em makalero, de Iliomar de Lautém e em naweti, de Baucau. Cada livro tem cerca de 40 conteúdos: lendas, experiências do contador de histórias, cenas de luta, significados dos nomes de lugares, comidas tradicionais, medicamentos tradicionais, entre outros.
A elaboração dos livros pressupõe a pesquisa: os facilitadores da CNTLU ficaram em casa dos lia-nain (donos da palavra), aprenderam a língua com os falantes do idioma, maioritariamente idosos e com um grupo de jovens, também nativos, que sabe escrever. Estes jovens ouviram e escreveram as histórias dos idosos e, posteriormente, apresentaram-nas aos contadores de histórias para ser feita uma revisão.
“A revisão é um processo demorado, porque os lia-nain não contam a história cronologicamente. Apesar dessa dificuldade, os jovens gostaram do trabalho, porque ouviram muitas histórias pela primeira vez”, afirmou Augusto Salsinha. Sublinhou que o projeto permite transmitir o conhecimento de geração em geração e os jovens comprometem-se a usar a língua na escrita de simples cartas diárias entre si para preservar e desenvolver o idioma.
A Comissão recebe anualmente fundos do programa de participação da UNESCO, por volta de 25 mil dólares, para o trabalho de preservação das línguas nativas e cultura. O coordenador da CNTLU informou que a Secretaria de Estado da Arte e Cultura (SEAC) apoiou o projeto com 10 mil dólares no ano passado.
Este ano, a Comissão continua a ter o apoio da SEAC, na mesma quantia, para preservar o isni, um idioma de Manufahi que está quase a desaparecer, sendo falado por pouco mais de 300 pessoas. Também o Ministério da Educação (ME) deu 12 mil dólares para a preservação dos idiomas lolein, do suco Balibar de Díli, e lacalei, do posto administrativo Same, de Manufahi, cada um com menos de 1% de falantes.
Augusto Salsinha considerou, no entanto, que escrever livros e publicá-los não basta. Sugeriu que instituições relevantes realizem atividades contínuas que deem vida às línguas. “Podem usar os nossos trabalhos para fazer atividades extracurriculares com os jovens, por exemplo, abrir um centro de estudos que promova o estudo e a prática de determinada língua materna”, acrescentou.
No país, o Instituto Nacional de Linguística (INL) na Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL) também realiza pesquisas com as línguas maternas e publicou algumas obras como dicionários, livros sobre diferenças de palavras de uma língua para outra, de frases em tétum e makaleru, de fonologia, entre outros.
A importância das línguas maternas em Timor-Leste
A diretora do INL, Rosa Tilman, informou que o país tem 16 línguas maternas, conforme estudos de linguistas, como o de Davi Borges de Albuquerque, em 2010. De acordo com o autor, as línguas existentes são o Tétum, Kawaimina (falado na parte leste do país), Habun, Wetarese (língua nativa da parte norte do Timor), Galolen (nativa de Manatuto), Bekais ( de Balibó em Bobonaro), Dawan ( de Oecússi), Tokodede (de Liquiçá), Kemak (na fronteiriça com a Indonésia), Mambae, Idalaka, Fataluku (nativa de Lautém), Makasae (de Baucau), Makalero (no leste do país), Bunak (na fronteiriça com a Indonésia) e Makuva (de Lautém). Os restantes dos idiomas são considerados dialetos dentro destas línguas.
“A língua é falada numa região mais alargada, neste caso, em diferentes municípios, enquanto que o dialeto é falado apenas em um ou dois sucos”, afirmou Rosa Tilman. Avançou ainda que os dialetos são versões da mesma língua falada em distintas comunidades. Deu o exemplo do mambae que é falado em Ermera, Aileu, Ainaro, Same e numa parte de Liquiçá, mas, em cada município, há diferenças em algumas palavras e, por isso, são dialetos.
A professora destacou que a língua materna desponta como “identidade e característica de cada pessoa, mas não deve servir para separar”. Considerou ainda que, para além do uso diário, os idiomas nativos e os dialetos são usados em rituais nas casas sagradas e em diversas cerimónias tradicionais, e têm a capacidade de unir pessoas em outros contextos.
“Uma língua materna falada numa vasta área tem muitos falantes que não se conhecem uns aos outros, mas quando vão a um lugar, como à capital, por exemplo, esta língua une-os, reforçando a fraternidade”, ressaltou Rosa Tilman. A diretora do INL observou que a língua materna também pode ser usada para falar dos assuntos que não querem que as outras pessoas saibam, o que não é considerado como maldade, mas liberdade de comunicação.
O benefício de multilinguismo, para a professora, está no poder da comunicação. “Tal como saber falar línguas internacionais, ter habilidades em línguas maternas também permite que nos desloquemos a lugares diferentes e conheçamos outras realidades”, sublinhou Rosa Tilman.
Já o coordenador da divisão de cultura da CNTLU partilhou que conseguir falar mambae, fataluku e galole o ajuda muito a entender, não só a língua e a história, mas também a personalidade dos cidadãos dos diferentes municípios. “Prefiro aprender primeiro as palavras negativas como bater, zangar, matar, entre outras, porque nem todas as pessoas de outros municípios nos recebem bem. Devemos ter cuidado. Depois, estudo a língua na sua totalidade”, confidenciou Augusto Salsinha.
O idioma nativo mais utilizado no país, refere o censo de 2022, é o tétum-praça, falado por 66,9% dos timorenses, seguido do mambae (13,8%) e makasae (10%). O tétum-terik, o baikenu, o bunak, o kemak, o fataluku e o tokodede têm entre 3% a 8% de falantes.
Este ano, a UNESCO comemorou o Dia Internacional da Língua Materna com simpósios que destacam a educação multilingue, pois acredita que “a utilização da língua própria dos alunos nas escolas proporciona uma base sólida para a aprendizagem, reforça a autoestima e as competências de pensamento crítico e abre a porta à aprendizagem intergeracional, à revitalização da língua e à preservação da cultura e do património imaterial”.
Olá! Boa tarde
Agradeço imensamente pela esta publicação, pois podemos conhecer os nossos patrimonios, sobretudo, as variedades de línguas maternas no nosso país, destacando, então, a importância de língua materna na sociedade para não a perder mais, porque já perdemos uma língua materna. Por isso gostaria de sugerir também a Diligente poderia abordar mais, por que é que esta língua desapareceu?, para que possamos saber também o motivo do desaparecimento dessa língua.
Oracao das linguas maternas!
Pai Nosso que estais no ceu
Nos mercados de Taibessi e Manleu
12 milhoes? Qual e a tua meu?
Um milagre pras criancas de Aileu
Merenda escolar, justica pra todo o reu
Seja feita a Vossa vontade, mas entao o Ze Povinho?
Nao tem champagne, bebe tuaca como vinho
Faz decadas que sofre sozinho
Milagre da multiplicacao de mansinho
Dai-lhes hoje, pois nao caiem do ceu Chico Fininho
12 milhoes, bem empregadinho
Ze Baikeno
Pueta lingua materna, catolico