Como é que as diferentes religiões celebram a Páscoa em Timor-Leste?

De acordo com os dados do censo de 2022, 97,5 % dos timorenses são católicos, 2500 protestantes e o resto da população é muçulmana, hinduísta e budista / Foto: Diligente

O Diligente realizou entrevistas, deslocando-se até às comunidades da religião católica, muçulmana, protestante e da Igreja evangélica, com o intuito de compreender as diferentes formas de celebrar a Páscoa.

A Páscoa é uma festividade cristã que assinala a ressurreição de Jesus Cristo. Embora seja uma celebração central na tradição católica, é também comemorada de diferentes formas por outros fiéis cristãos, tais como nas igrejas protestantes e na Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Por outro lado, na fé muçulmana, a Páscoa não é celebrada como parte da sua tradição religiosa, mas é possível estabelecer conexões entre os temas e lições da Páscoa e os do islão.

A diversidade religiosa em Timor-Leste é uma realidade. De acordo com os dados do censo de 2022, cerca de 97,5% da população identifica-se como católica, enquanto aproximadamente 2.500 são protestantes, havendo ainda uma parcela minoritária que segue as religiões muçulmana, hinduísta e budista.

O Estado timorense, no artigo 12º, n.º 1 da Constituição da República Democrática de Timor-Leste (CRDTL), reconhece e protege essa diversidade religiosa. Este reconhecimento é corroborado pelo artigo 45º, n.º 1, que assegura a liberdade de consciência, religião e culto, estabelecendo a separação entre as confissões religiosas e o Estado.

Para compreender como as diferentes religiões coexistem e partilham valores durante as suas principais celebrações, o Diligente foi à rua para entrevistar membros das comunidades católica, muçulmana, protestante e da Igreja evangélica, a fim de explorar como cada uma delas celebra a Páscoa e os significados atribuídos a essa festividade.

“Atualmente, estamos no Ramadão, durante o qual os muçulmanos praticam o jejum diário desde o nascer até ao pôr do sol, aproximando-se de Deus através desta prática, da oração, da reflexão sobre a vida e da caridade, evitando o mal e praticando o bem.”

Rohim Putra, 28 anos, muçulmano

“Tenho muitos colegas católicos, por isso sempre fui convidado para participar na festa da Páscoa. Costumo felicitá-los com expressões como “Feliz Páscoa” ou “Boas Festas da Santa Páscoa”. Por vezes, não participo diretamente nas celebrações, limitando-me a dar-lhes os parabéns. No entanto, já participei na Via-Sacra, como forma de demonstrar respeito pela fé e práticas religiosas dos outros membros da sociedade, mesmo que não sejam muçulmanos. Considero este comportamento como uma expressão de tolerância numa sociedade multirreligiosa. Quero que os católicos saibam que contam com a minha presença nesta celebração importante. Compreendo que existem algumas semelhanças entre os rituais católicos e muçulmanos. Segundo o conceito muçulmano, o Ramadão equivale à Quaresma (tempo de jejum) na religião católica. Atualmente, estamos no Ramadão, durante o qual os muçulmanos praticam o jejum diário desde o nascer até ao pôr do sol, aproximando-se de Deus através desta prática, da oração, da reflexão sobre a vida e da caridade, evitando o mal e praticando o bem. O fim do Ramadão é celebrado com o festival de Eid al-Fitr, que marca o fim do jejum e é um momento de alegria, festividades, generosidade e vitória. O Ramadão pode durar até 30 dias, começando a 11 de março e terminando a 11 de abril.”

“A Quaresma é o período apropriado para melhorar a vida espiritual através da prática de penitência, caridade e abstinência, de modo a poder celebrar a festa da Páscoa, que é a festa da vitória sobre o pecado e a morte.”

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Madre Juvita da Costa, Filhas da Caridade Canossiana (FDCC), 46 anos, vive em Lecidere

Na tradição católica, a Páscoa é a festa mais importante do calendário litúrgico. Celebra-se a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, filho de Deus, conforme o Novo Testamento. A palavra “Páscoa” tem origem no hebraico Pessach, que significa passagem. Assim, a Páscoa católica assinala a passagem de Jesus da morte para a vida, simbolizando a vitória sobre o pecado e a morte, o que chamamos de Mistério da Salvação. Este é o cerne da fé cristã, pois, segundo São Paulo, se Cristo não ressuscitasse, a nossa fé seria em vão. Costumamos realizar a Via-Sacra para relembrar o sofrimento de Jesus até à sua morte e ressurreição. A data da celebração é móvel, ao contrário do Natal. Assim, de acordo com o calendário litúrgico, normalmente celebra-se no primeiro domingo depois da primeira Lua cheia e após o equinócio da primavera, entre os dias 22 de março e 25 de abril. No entanto, antes de celebrar a Páscoa, os cristãos devem preparar-se durante o tempo da Quaresma, que tem a duração de 40 dias e começa na Quarta-Feira de Cinzas. A Quaresma é o período apropriado para melhorar a vida espiritual através da prática de penitência, caridade e abstinência, de modo a poder celebrar a festa da Páscoa, que é a festa da vitória sobre o pecado e a morte.

“Não celebramos a Páscoa, porque Jesus já o fez. Apenas celebramos o sábado, que na Bíblia é designado como o dia santo, de acordo com o Livro do Êxodo: 1-17, estando isto incluído na lei de Deus.”

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Filipe Amaral, 35 anos de Viqueque, membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia

“A Páscoa celebra-se com a imolação de um cordeiro para salvar o homem do pecado, mas depois tudo se centraliza em Cristo, como consta em Colossenses 2:17: “Tudo isso é sombra das coisas que estavam por vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo.” Assim, quando Jesus veio, substituiu isso com o Seu corpo e ofereceu-Se para tirar o pecado de todos os homens. Não celebramos a Páscoa, porque Jesus já o fez. Apenas celebramos o sábado, que na Bíblia é designado como o dia santo, de acordo com o Livro do Êxodo: 1-17, estando isto incluído na lei de Deus. Durante o feriado da Páscoa, realizamos atividades como habitualmente. Por vezes, alguns familiares ou amigos católicos convidam-me para participar, e quando vou, faço as orações à minha maneira.”

“Na Religião Protestante, existem muitas igrejas e, por isso, a data da celebração da Páscoa pode variar de acordo com cada uma delas. Na nossa igreja, a Igreja Evangélica Trindade Maranata, este ano decidimos celebrar a Páscoa a partir de sexta-feira (29 de março)”

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Pedro Coreia dos Santos, 29 anos, membro da Igreja Evangélica Trindade Maranata

“A Páscoa, para os cristãos, é uma ocasião em que relembramos a morte de Jesus na Cruz, através da qual Se sacrificou para redimir os pecados da humanidade. Celebramos a Páscoa não para imitar exatamente o que Jesus fazia, mas para refletir sobre o Seu sacrifício e agradecer por ter morrido para nos salvar dos nossos pecados. Na Religião Protestante, existem muitas igrejas e, por isso, a data da celebração da Páscoa pode variar de acordo com cada uma delas. Na nossa igreja, a Igreja Evangélica Trindade Maranata, este ano decidimos celebrar a Páscoa a partir de sexta-feira (29 de março). Outras igrejas optaram pela quinta-feira ou pelo domingo, dependendo da disponibilidade. Não celebramos a Quaresma, uma vez que esta não é mencionada na Bíblia. Muitas vezes, tenho participado nas celebrações católicas e alguns católicos também têm vindo à nossa igreja. Também recebemos a visita de muçulmanos.”

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