Valor atribuído ao INL este ano é de apenas 3.800 dólares americanos e resultou na suspensão de livros e materiais didáticos em tétum, elaboração de dicionários e de formações no idioma em 11 dos 12 municípios do país.
O montante de 3.800 dólares americanos atribuído este ano ao Instituto Nacional de Linguística (INL) da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL) representa uma redução de 74% em relação à quantia destinada ao órgão no ano anterior, de acordo com a alocação de recursos públicos segundo o Portal de Transparência do Orçamento. Esta diminuição levou à suspensão da impressão de livros e materiais didáticos em tétum, bem como ao trabalho de criação de um dicionário online da referida língua para português (e vice-versa) – que serviria como fonte de dados para a plataforma Google Tradutor – e resultou no cancelamento de formações na língua timorense em 11 dos 12 municípios do país.
De acordo com a diretora do INL, Rosa da Costa Tilman, as referidas formações são destinadas a funcionários públicos, sobretudo professores e pessoal administrativo, que devem escrever de acordo com o padrão de referência do órgão. “Esta dinâmica, que envolvia pelo menos 50 cidadãos por município, era muito importante para promover a uniformização da escrita do tétum, já que grande parte das pessoas comete erros”, informou.
A par da língua portuguesa, o tétum é um dos idiomas oficiais de Timor-Leste. Segundo os números do Instituto Nacional de Estatísticas, 70% dos 1,3 milhões de habitantes do país dominam a língua.
Situado no Sudeste Asiático, Timor-Leste, apesar de pequeno, é um país de rica diversidade linguística. O censo de 2022 (o mais atual), que não distinguiu língua de dialeto, constatou a presença de 33 idiomas nativos – entre eles, o tétum.
A diretora mencionou que nota muitos erros nos textos em tétum na comunicação social do país, sobretudo na acentuação. Porém, destacou que a agência de notícias Tatoli publica artigos bem escritos em tétum e de acordo com a ortografia desenvolvida pelo INL”.
Rosa Tilman sugere que o Governo crie uma regra para que a população utilize o tétum padrão desenvolvido pelo instituto. “O INL não pode obrigar ninguém a cumprir o padrão, mas o governo tem essa responsabilidade. Nós desenvolvemo-lo [o padrão], agora cabe ao governo estabelecer normas para que os cidadãos o utilizem”, sublinhou.
O vice-reitor para os Assuntos de Administração Finanças e Administrador Geral da UNTL, Hélio Augusto da Costa Xavier Marquês, afirmou que a instituição apresentou ao governo uma proposta de orçamento para este ano de 24 milhões de dólares americanos, mas recebeu 17,2 milhões.
Perante a redução na alocação de recursos, a UNTL viu-se obrigada a diminuir também o orçamento para os outros departamentos. “Temos de ter paciência. Talvez em junho, quando o governo apresentar o orçamento retificativo, possamos tentar um aumento”, realçou. Por agora, o vice-reitor sugere que se siga o conselho do reitor da UNTL, João Martins, e se “aperte o cinto”.
O INL foi criado através do decreto do Governo 1/2004 de 14 de abril como um “guardião científico do Tétum Oficial, baseado no Tétum-Praça”. Os seus três objetivos principais são desenvolver, modernizar e disseminar o Tétum-Praça. Deve também trabalhar para a preservação e promoção das demais línguas nacionais e locais.
Este mês, para comemorar o aniversário de 20 anos do INL, a UNTL realizará uma feira do livro e um seminário académico, que contará com a participação de pesquisadores da área da linguística.
