Sessão solene na Embaixada de Portugal em Díli assinalou a entrega de certificados dos cursos de Português para Jornalistas. O Secretário de Estado da Comunicação Social elogiou o impacto do projeto e garantiu continuidade: “É um sinal de esperança para o futuro”.
O Centro Cultural Jorge Sampaio acolheu esta segunda-feira, 19 de maio, a cerimónia de entrega de certificados aos 49 profissionais de comunicação social timorenses que concluíram os cursos de Português para Jornalistas – níveis B1, B2 e B2+, e o curso de Português Específico na área do Ambiente, promovidos pelo projeto Consultório da Língua para Jornalistas (CLJ).
O CLJ é uma iniciativa conjunta da Secretaria de Estado da Comunicação Social (SECOMS) e do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., em funcionamento desde 2016, que tem vindo a transformar o panorama da informação em português em Timor-Leste. Através de formações regulares e acompanhamento direto nas redações, o projeto já apoiou a produção e revisão de mais de 18 mil conteúdos jornalísticos e formou centenas de profissionais.
“É com grande honra e profunda satisfação que participo nesta sessão”, afirmou o Secretário de Estado da Comunicação Social, Expedito Loro Dias Ximenes, durante o seu discurso. “O CLJ é hoje uma referência incontornável na formação dos profissionais da comunicação social timorense, não só pela melhoria visível do domínio da língua portuguesa, mas também pela promoção de uma cultura jornalística mais exigente, mais crítica e mais ética.”
O governante sublinhou que muitos dos revisores formados pelo CLJ são hoje “profissionais altamente qualificados”, fruto de um acompanhamento rigoroso e contínuo. “A vossa evolução é admirável — e é também um sinal de esperança para o futuro”, disse, dirigindo-se aos formandos. Reforçou ainda que o trabalho do CLJ está longe de estar concluído e que a terceira fase do projeto será essencial: “Porque não basta aprender. É preciso praticar, aplicar, insistir, corrigir. E, acima de tudo, é preciso não desistir.”
Em declarações à comunicação social, Expedito Ximenes garantiu que a próxima fase do projeto vai continuar, com enfoque na reportagem audiovisual e online, e avançou que está previsto o envio de três a quatro jornalistas para formação especializada no Cenjor, em Portugal, “dependendo apenas da confirmação final do Camões I.P.”.
A embaixadora de Portugal em Timor-Leste, Manuela Bairos, realçou o papel dos meios de comunicação social na promoção da língua portuguesa: “A consolidação da língua portuguesa em Timor passa pela comunicação social.” A diplomata apelou a uma nova edição do projeto com maior atenção às redações e ao trabalho no terreno, “trazendo para dentro das televisões e dos meios a realidade de Timor-Leste e da CPLP”.
Já o Diretor-geral da SECOMS, Florindo da Costa, elogiou o impacto visível da formação: “A maioria dos formandos não falava português, e agora fala com mais fluência.” No entanto, reconheceu que a autonomia plena ainda está por alcançar. “Não podemos depender sempre dos professores portugueses, porque não vão estar aqui para sempre. Mas com esforço e apoio institucional, vamos continuar.”
Florindo destacou a importância de dar continuidade ao projeto: “Está em fase de discussão, mas garanto que vai continuar. É preciso elevar ainda mais a capacidade linguística dos jornalistas.”
Vozes da mudança nas redações
Entre os formandos, os testemunhos confirmam o impacto do CLJ. Willi Andrade, tradutor do Conselho de Ministros, descreveu o curso como essencial para o exercício da sua função. “A língua portuguesa é a base fundamental do meu trabalho. Este curso permitiu-me melhorar muito.” Willi salientou que o conhecimento é mais importante do que o próprio certificado: “O mais relevante é a sabedoria que ganhámos. Isso é o que nos permite crescer.”
Para Domingas da Silva Gonçalves, jornalista do órgão de comunicação social Democracia, o curso foi uma viragem. “Antes tinha medo de falar português. Agora, já não. Sinto-me mais confiante e motivada a continuar.” Confessou ter tido dificuldades iniciais na conjugação verbal e na organização de frases, mas conseguiu ultrapassá-las com o apoio da formação. “Nem todos os órgãos em Timor escrevem em português. Este curso é uma grande oportunidade para quem quer contribuir para o jornalismo em português.”
A jornalista apelou à continuidade da parceria entre o CLJ e a SECOMS: “Espero que os cursos continuem a ser oferecidos no mesmo formato, para que mais pessoas tenham acesso a esta oportunidade.”
Além dos jornalistas, também os revisores linguísticos timorenses tiveram um papel de destaque na sessão. Yane Maia, revisora do CLJ, subiu ao palco para partilhar a sua experiência e surpreendeu a plateia com um discurso pessoal e emotivo, em que destacou a transformação que o projeto trouxe à sua vida profissional. “Antes de conhecer o CLJ, era jornalista voluntária num órgão que já não existe. Tinha medo de escrever sobre política, economia ou justiça. Pareciam-me temas demasiado difíceis. E eram. Mas também são essenciais”, afirmou.
Foi em 2018 que tudo começou a mudar, quando se inscreveu no curso de nível A1/A2. Desde então, nunca mais parou: concluiu os níveis seguintes, frequentou oficinas de escrita e começou a trabalhar com traduções e revisões, tendo sido contratada como revisora linguística em 2019. “Nos primeiros meses, lia as traduções já publicadas e percebia que estavam bem diferentes daquilo que eu tinha entregue. Mas com os cursos e o apoio dos formadores, fui ganhando confiança. Passo a passo.”
Yane destacou que o CLJ lhe deu não só competências técnicas, mas também consciência sobre o papel social do jornalismo: “Os jornalistas são a ponte entre o povo e o poder. E essa ponte precisa de ser segura, clara, acessível. Quando escrevemos bem, ajudamos os leitores a compreender melhor os seus direitos, os seus deveres, o mundo à sua volta.”

Desde janeiro, como parte do plano de integração de revisores nas redações, Yane está destacada no GMN e no Diligente. “Gosto muito do ambiente de trabalho nestes espaços. Os jornalistas que ali trabalham são, em grande parte, ex-formandos do CLJ. São comprometidos. Esforçados. E procuram dar voz a quem não tem voz.”
Terminou com um apelo emocionado à continuidade do projeto: “Que este projeto não termine. Que continue. E que se transforme num verdadeiro programa do Governo.”
Ao longo dos últimos anos, o CLJ tem apoiado, com resultados visíveis, redações como a RTTL, Timor Post, Tatoli, GMN e o Diligente, este último criado por sete jovens que concluíram a formação intensiva do projeto. Mais do que números — que ultrapassam os 18 mil conteúdos — o CLJ tem contribuído para mudar rotinas, elevar padrões linguísticos e reforçar o uso institucional e mediático da língua portuguesa em Timor-Leste.
A taxa de assiduidade das formações é superior a 85%, e a maioria dos formandos atinge níveis elevados de aproveitamento. Além disso, cinco revisores linguísticos formados pelo CLJ trabalham atualmente em redações timorenses, assegurando maior rigor na produção noticiosa em português.
A sessão contou com a projeção de um vídeo comemorativo, a entrega dos certificados e um momento de convívio. No rosto dos formandos, via-se orgulho, mas também um compromisso: continuar a escrever com clareza, servir com verdade e dar mais força à língua portuguesa nas redações timorenses.
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