Bobonaro: como estás? Basta! Bobonaro tem de mudar

Apesar das suas atrações naturais, como as termas de Marobo, o monte Loelaku e vários locais históricos, o turismo continua por explorar/ Foto: www.timorleste.tl

Bobonaro, localizado na fronteira oeste de Timor-Leste com a Indonésia, é uma região rica em história, cultura e recursos naturais. Conhecida pelas suas vastas terras, comunidades agrícolas tradicionais, paisagens deslumbrantes e locais históricos marcantes, Bobonaro tem um potencial extraordinário. No entanto, ao longo dos últimos 23 anos, o município tem registado um crescimento económico lento, sendo frequentemente classificado como subdesenvolvido. É evidente que o desenvolvimento de Bobonaro está estagnado.

Após análise, identifiquei os principais desafios que Bobonaro tem enfrentado nas últimas duas décadas, tais como:

As estradas encontram-se em condições precárias, sobretudo durante a época das chuvas, o que limita a mobilidade e a atividade económica. O fornecimento de eletricidade é instável, com cortes frequentes nas zonas rurais, afetando o quotidiano e o funcionamento dos negócios. O acesso a água potável é outro problema grave, já que muitas comunidades dependem de nascentes ou reservatórios tradicionais. Sem melhorias nas infraestruturas básicas, Bobonaro não conseguirá alcançar crescimento económico nem melhorar a qualidade de vida da sua população.

Oportunidades económicas limitadas na agricultura 

A agricultura é o pilar da economia de Bobonaro, com a maioria da população a depender dos campos para subsistir. No entanto, os agricultores enfrentam vários desafios: as técnicas agrícolas continuam a ser tradicionais, dificultando a produtividade e limitando o crescimento dos rendimentos. A falta de equipamento moderno traduz-se num acesso limitado a ferramentas e tecnologias essenciais. As alterações climáticas também alteram os padrões das estações agrícolas e ameaçam a degradação dos solos, afetando a produção. A má qualidade das estradas dificulta o transporte de bens para os mercados, limitando ainda mais as oportunidades de escoamento. A agricultura em Bobonaro mantém-se, assim, num nível de subsistência, impedindo os agricultores de avançar para além da sobrevivência básica.

Setor do turismo pouco desenvolvido 

Apesar das suas atrações naturais, como as termas de Marobo, o monte Loelaku e vários locais históricos, o turismo continua por explorar. A má qualidade das infraestruturas e a ausência de promoção impedem que o turismo cresça e contribua para a economia local. Com um desenvolvimento adequado, o setor poderia gerar empregos, trazer receitas e apoiar os negócios locais. Porém, sem um plano estratégico para melhorar as infraestruturas e promover os pontos turísticos de Bobonaro, o turismo continuará estagnado ou, pior ainda, em declínio.

Comércio transfronteiriço desaproveitado 

Apesar da localização estratégica de Bobonaro junto à fronteira com a Indonésia — que poderia representar uma enorme oportunidade para o comércio —, a gestão ineficaz da fronteira, o contrabando e a ausência de acordos comerciais formais impedem a região de colher benefícios reais. Além disso, as infraestruturas comerciais, como armazéns e mercados, são insuficientes para apoiar o comércio legal. Reforçar a gestão fronteiriça, melhorar as infraestruturas comerciais e estabelecer acordos formais com a Indonésia poderá transformar Bobonaro num centro comercial dinâmico.

Problemas de governação e descentralização 

A governação em Bobonaro enfrenta limitações estruturais, como a ausência de legislação municipal sólida, a escassez de quadros qualificados e a falta de competências técnicas para garantir serviços públicos eficazes. A educação e os cuidados de saúde registam falhas graves. Muitas escolas carecem de infraestruturas adequadas, têm poucos professores e falta de materiais pedagógicos. Isso compromete a qualidade do ensino e limita as oportunidades de emprego futuro para os jovens. Os centros de saúde enfrentam falta de financiamento, medicamentos e profissionais, obrigando muitos residentes a viajar longas distâncias, agravando os riscos para a saúde.

Perante estes desafios, acredito que Bobonaro tem condições para melhorar significativamente se começar por desenvolver as suas infraestruturas, desbloqueando o seu potencial económico. Melhorar as estradas, assegurar um fornecimento de eletricidade fiável e garantir o acesso a água potável não só melhorará o quotidiano da população, como permitirá o crescimento dos negócios, o aumento da produção agrícola e o desenvolvimento do turismo.

O Governo deve fornecer formação e acesso a ferramentas e equipamentos agrícolas modernos. É essencial melhorar a rede de transportes, permitindo aos agricultores chegar mais facilmente aos mercados e escoar os seus produtos. A implementação de práticas agrícolas sustentáveis irá proteger os solos e gerir melhor os recursos hídricos. Deve-se também encorajar os jovens a participar na agricultura, tornando o setor mais atrativo através de incentivos e mostrando o seu potencial económico.

O desenvolvimento do turismo implica melhorar as estradas, alojamentos e esforços de promoção, criando um destino atrativo e acessível que atraia turistas, crie empregos e gere receitas para a economia local.

A localização de Bobonaro oferece uma oportunidade única de crescimento através do comércio transfronteiriço. Para tirar partido disso, é urgente reforçar a gestão da fronteira, implementar controlos mais eficazes e reduzir as atividades ilegais, como o contrabando. A criação de mercados, armazéns e postos aduaneiros adequados facilitará o comércio legal. A colaboração com a Indonésia para estabelecer acordos comerciais formais permitirá impulsionar o intercâmbio económico.

Melhorar a governação local e a descentralização é essencial para garantir que Bobonaro consiga gerir eficazmente o seu próprio desenvolvimento. Isso inclui formação e fornecimento de recursos às autoridades locais, melhorando o planeamento, orçamentação e prestação de serviços. É também fundamental reforçar a coordenação, comunicação e cooperação entre os governos local e nacional para tornar os processos de decisão mais eficientes.

O investimento na educação deve passar por melhorar as infraestruturas escolares, contratar professores qualificados e garantir acesso a materiais de aprendizagem. O investimento na saúde deve incluir a construção de infraestruturas, o fornecimento de medicamentos e a contratação de profissionais para melhorar a qualidade dos cuidados prestados à população.

Para concluir, quero apelar aos jovens de Bobonaro: esta terra tem potencial para se tornar um município próspero, mas atualmente enfrenta constrangimentos significativos ao seu desenvolvimento. Resolver estes problemas exige ação urgente e uma abordagem abrangente. Investimentos em infraestruturas, agricultura, turismo, governação, educação e saúde são cruciais para desbloquear o potencial económico de Bobonaro e melhorar a qualidade de vida da sua população.

É essencial que todas as partes interessadas — autoridades locais, intelectuais, profissionais e a própria comunidade — colaborem e ajam de forma imediata para transformar Bobonaro num município próspero, resiliente e sustentável.

O tempo de mudança é agora.

O futuro de Bobonaro depende do esforço coletivo no presente para alcançar um progresso resiliente e sustentável.

Vamos, juntos, construir o futuro de Bobonaro a partir do presente.

Quintiliano A. Belo, mestrado na área da agricultura e desenvolvimento na Universidade da Gadjah Mada, Indónesia, é um official Senior do Ministério da Agricultura, Floresta, Pecuária e Pescas (MAFPP). É membro ativo do Movimento Timor Avante (MOTIVA), criado em 2023 com o objetivo de preparar os jovens para liderar o país.

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