No amanhecer de 7 de dezembro de 1975, o céu de Díli encheu-se de paraquedistas indonésios. O bombardeamento aéreo, seguido pelo desembarque de tropas e tanques, deu início a uma ocupação brutal. Entre o horror e a resistência, jovens da FALINTIL enfrentaram o inimigo, enquanto civis fugiam para as montanhas. Quarenta e nove anos depois, o sacrifício dos mártires de Díli continua a inspirar a luta pela justiça e o compromisso com a paz.
O dia 7 de dezembro de 1975 marcou o início de um dos capítulos mais dolorosos da história de Timor-Leste: a invasão indonésia. Contudo, também simboliza o espírito de resistência e o sacrifício de um povo que lutou incansavelmente pela sua liberdade.
Há 49 anos, a Indonésia deu início à invasão militar de Timor-Leste, justificando a ação com a alegação de que a FRETILIN era um partido comunista. Martinho Rodrigues, uma testemunha ocular da época, recorda que este rótulo levou os Estados Unidos, adversários do comunismo, a fornecerem apoio militar à Indonésia, incluindo armamento. Contudo, segundo Martinho, esta perceção era falsa: “A FRETILIN era nacionalista, mas usaram a ideia do comunismo para nos atacarem.”
Na madrugada de domingo, aviões indonésios bombardearam Díli antes de lançar paraquedistas sobre a cidade. Seguiram-se tropas navais com tanques e veículos blindados, ocupando rapidamente as zonas estratégicas. Apesar da resistência das forças timorenses, incluindo jovens das FALINTIL, a superioridade militar indonésia foi devastadora. Muitos civis foram mortos, incluindo a esposa de Nicolau Lobato e o jornalista Roger East, que se encontravam no porto de Díli. “A cidade ficou em ruínas, e muitos fugiram para as montanhas para escapar à violência”, relembra Martinho.
Martinho Rodrigues conta que, antes da invasão indonésia, o povo de Timor-Leste iniciou um contragolpe para a independência unilateral a 28 de novembro de 1975. “Naquela época, éramos jovens das FALINTIL, não uma força efetiva. Quando soubemos que as tropas iriam invadir Timor-Leste, o nosso comandante deu orientações para reforçarmos Metinaro e Hera e avançarmos para Díli. No entanto, ainda não sabíamos que os paraquedistas iriam invadir Díli e o resto de Timor-Leste”, recorda.
“Eu estava em Vila Verde e tinha febre. Quando olhei para o céu, fiquei assustado ao ver muitos paraquedistas a descer. Penso que, se tivessem descido nos dias 5 ou 6, talvez os tivéssemos conseguido eliminar a todos, mas, por sorte para eles, desceram a 7 de dezembro”, afirma.
“Então, os companheiros destacados em vários pontos de Díli começaram a disparar contra os paraquedistas. Mais tarde, por volta das 10 horas da manhã, os militares indonésios lançaram um massacre em Díli, pois muitos dos seus paraquedistas tinham sido mortos e alguns ficaram presos nas árvores devido aos tiros das nossas forças. Foi então que eu e a minha família começámos a fugir de Díli. Corremos para fora de Tuana e dirigimo-nos para Mota Ailok para nos escondermos, já que algumas forças também tinham recuado para a zona norte”, relatou.
Martinho Rodrigues refere que, antes desse episódio, os comandantes já tinham recebido informações de que a invasão estava iminente. “Por isso, mandaram-nos vigiar Metinaro e Hera. No dia 6, as forças militares indonésias começaram a disparar a partir das zonas de Liquiçá e Maubara. Os disparos duraram quase toda a noite, até ao amanhecer. Depois, na manhã de 7 de dezembro, os militares e os paraquedistas começaram a descer sobre Díli”, conclui.
O impacto da invasão e o legado dos heróis
O Centro Nacional Chega (CNC) descreve o dia 7 de dezembro de 1975 como um marco trágico na história de Timor-Leste. A invasão indonésia resultou em milhares de mortes, tanto de combatentes como de civis, mas marcou também o início de uma luta incansável pela independência. Apesar da inferioridade militar, a determinação do povo timorense manteve viva a esperança de liberdade.
Deputados timorenses, como Antoninho Bianco e Joaquim dos Santos, apelaram recentemente à reflexão sobre este sacrifício, lembrando que o sofrimento dos heróis de 7 de dezembro deve inspirar as gerações atuais. Bianco destacou que o dia deve servir para reforçar o compromisso com o estado democrático de direito, enquanto Joaquim dos Santos pediu um minuto de silêncio pelos mártires que deram a vida por Timor-Leste.
Homenagem e mensagem às novas gerações
O Presidente da República, José Ramos-Horta, prestou homenagem aos heróis do 7 de dezembro, incluindo figuras como a esposa de Nicolau Lobato, afirmando que este dia marcou o início de uma longa guerra entre Timor-Leste e a Indonésia. Horta apelou aos jovens para que mantenham a paz no país e aproveitem as oportunidades de educação criadas pelos sacrifícios das gerações passadas. “A luta dos vossos pais e mães trouxe-nos a liberdade. Agora é a vossa vez de construir a nação com educação e dedicação”, sublinhou.
Martinho Rodrigues concluiu o seu testemunho relembrando o espírito de união do povo timorense durante a invasão. Embora muitos enfrentassem o medo e o trauma, continuaram a resistir em solidariedade com a FRETILIN. Este espírito de coragem e sacrifício permanece como um legado eterno para Timor-Leste.
Grande povo!
Nao so mataram com pilharam tudo de valor do hospital de lahane, as camoinetas da Moniz da Maia Serra e Fortunato, etc…
Nessa altura tal como Portugal, ja tinha dado a sola. Estava num dos campos de concentracao em Atambua. Via passar moscas agarradas a ladroes. A comunidade estrangeira enviava-nos roupa e comida atraves das Caritas e Cruz Vermelha. Infelizmente havia em Atambua muito larapio indonesio que se apoderava do melhor que era doado e so viamos cuecas e camisolas esfarrapadas. Ate havia uma larapia santificada, a famosa Goretti. A noite os ansips e policia, acordavam o pessoal a bem prazer para contar as cabecas. E para ter as cartas dos nossos familiares, tinhamos de pagar o tao famoso oan roko. Tinhamos amigos, verdade seja dita, eram todos de Larantuca da ilha das Flores. O secretario Abraham, o padre Matutina, reitor do seminario de Lalian. Sofria-se em todo lado durante este conflito. Tudo isto podia ser evitado se se tem feito a descolonizacao devida.
Infelizmente Portugal deu a sola e ficamos entregues a bicharada!
Memorias de um labarik, memorias muito tristes. Hoje, 49 anos depois, o POVO continua a marcar passo, as maos de irmaos tao semelhantes aos javaneses.
Valha-nos Santa Engracia.