Através da organização Timor-Leste Organic Fertilizer (TILOFE), Zekcy Martins não só promove soluções para a resiliência climática e o apoio à produção agrícola sustentável, como também fomenta um sistema de empreendedorismo comunitário nas áreas rurais.
Natural da aldeia Catrai Kraik, no posto administrativo de Letefoho, Ermera, Zecky Carmo cresceu numa família de agricultores. Licenciou-se na Faculdade de Agricultura do East Timor Coffee Institute, no departamento de Agronomia, em 2018. Durante o percurso académico, acumulou experiências em liderança e agricultura sustentável, participando ativamente na Permacultura de Timor-Leste (PERMATIL) e em formações na Indonésia sobre fertilizantes orgânicos.
Em 2012, teve a oportunidade de frequentar uma formação do Young Help em Díli, onde aprendeu sobre gestão de quintais agrícolas, fertilizantes orgânicos (líquidos e secos) e técnicas de plantação. Mais tarde, aprofundou os seus conhecimentos em Bogor, Indonésia, onde passou três meses em formação. Inspirado pelos colegas agrónomos que conheceu, decidiu continuar os estudos na área da agronomia ao regressar a Timor-Leste.
A elevada taxa de desemprego entre os jovens, especialmente os recém-graduados, levou Zecky a refletir sobre a necessidade de criar uma organização que gerasse oportunidades de trabalho. Assim, ao concluir os estudos, reuniu-se com colegas agrónomos e fundou a TILOFE, baseada no lema: “É melhor pedir dinheiro para a criatividade do que pedir dinheiro para a nação.”
Para Zecky, o conhecimento deve ser levado de volta às comunidades para resolver problemas como a seca prolongada, a erosão dos solos e a escassez de água.
Uma economia sustentável baseada na produção orgânica
A produção de fertilizantes orgânicos tornou-se a principal atividade da TILOFE, não só como alternativa aos produtos químicos, mas também como um meio de criação de emprego. A matéria-prima para os fertilizantes provém do estrume de gado, adquirido diretamente às famílias rurais.
“Em 2021, comprámos 21 mil sacos de estrume bovino ao longo do ano, recolhidos diretamente junto das famílias, permitindo a produção de 120 mil toneladas de fertilizante orgânico. Todos os anos, conseguimos adquirir estrume de cerca de 75 famílias, beneficiando aproximadamente 150 pessoas da comunidade. Desta forma, contribuímos para melhorar o rendimento de várias famílias”, afirmou Zecky.
Além disso, a TILOFE tem fornecido fertilizantes a agricultores em Ermera, Aileu e Maliana, bem como a viveiros de árvores frutíferas. Instituições como a Escola Internacional de Díli, o Palácio Presidencial e o Hotel Novo Turismo também utilizam os fertilizantes da organização. Recentemente, o próprio Ministério da Agricultura começou a adquiri-los, dobrando a produção anual de mudas para 500 mil.

A produção de fertilizantes orgânicos também tem gerado empregos para os jovens de Ermera. “Num ano, conseguimos empregar até 30 jovens, alguns em regime de meio período e outros em trabalho sazonal.”
Atualmente, a TILOFE conta com 13 membros fixos, dos quais sete estão ativos e seis continuam a trabalhar regularmente.
Zecky alerta para os impactos negativos da dependência dos fertilizantes químicos. “Todos os anos, o Ministério da Agricultura aloca verbas do orçamento do Estado para a compra de fertilizantes químicos da Austrália e da Indonésia. As comunidades que já utilizam esses produtos tornam os solos cada vez mais dependentes de fertilizantes químicos após cada colheita. Como consequência, tanto o governo como os agricultores continuam a gastar dinheiro constantemente para os adquirir. Isto tem de mudar, pois tem impactos negativos na produção agrícola e no meio ambiente”, alertou.
Conservação da água e desafios para o futuro
Zecky também trabalha com jovens e comunidades locais em Ermera na realização de atividades de conservação da água. Graças ao seu esforço, conseguiu ajudar a restaurar fontes de água que estavam a secar devido às alterações climáticas. Essas iniciativas já beneficiam 35 aldeias rurais em Ermera, e o objetivo é expandir a conservação da água para mais 15 sucos na região.
Os desafios na conservação da água estão, sobretudo, relacionados com a disputa pelo acesso às fontes. Zecky explicou. “Em alguns sucos, a água é privatizada. Para nós, é fundamental que o governo defina claramente quais fontes de água são privadas, públicas ou pertencem à comunidade. Esta questão tornou-se uma grande preocupação na sociedade, dificultando o trabalho da TILOFE.”

Outro obstáculo enfrentado pela TILOFE é a falta de recursos financeiros. O dinheiro obtido com a venda de fertilizantes orgânicos tem de ser repartido entre as atividades de conservação da água e ações de sensibilização, além de apoiar as famílias locais.
“Em muitas áreas remotas, precisamos de transporte para chegar às comunidades, mas a nossa capacidade financeira é limitada, o que torna difícil cobrir todas as aldeias rurais”, acrescentou Zecky.
Atualmente, a TILOFE continua a receber apoio financeiro, material e formação da PERMATIL. No passado, também contou com fundos do Serviço de Apoio à Sociedade Civil e da Direção Nacional de Biodiversidade. O jovem espera que o governo continue a apoiar a conservação da água, ajudando as comunidades a tornarem-se mais resilientes às alterações climáticas.
“Não pedimos muito, mas precisamos de ajuda para adquirir materiais, nomeadamente transporte para os membros da equipa que trabalham no terreno, além de assistência para as comunidades”, afirmou.
Nas ações de conservação da água, muitas comunidades pedem apoio financeiro, mas Zecky tenta sensibilizar a população para a importância do trabalho voluntário e incentivá-la a colaborar. “Não temos dinheiro para pagar às comunidades. Esse é um desafio, mas continuamos a trabalhar arduamente, porque a TILOFE não luta apenas por projetos, luta pelas pessoas”, destacou.
Os resultados desse trabalho têm sido bem recebidos pela população de Ermera, especialmente nos sucos de Mahatata, Samalete e Lasaun, onde antes a água era escassa, mas agora, após os esforços de conservação, as fontes foram recuperadas e estão a ser utilizadas para o consumo diário e a produção agrícola.
Dentro da TILOFE, Zecky valoriza o trabalho em equipa. “O nosso grupo está sempre pronto para aprender. Não dizemos que sabemos tudo, estamos dispostos a procurar conhecimento com outras pessoas. Continuamos a valorizar o conhecimento local e não vemos as comunidades apenas como beneficiárias, mas como protagonistas das soluções”, afirmou.
Além disso, capacita os jovens para liderarem as suas comunidades e resolverem conflitos relacionados com a gestão da água. “As autoridades em Ermera e as comunidades trabalham muito bem connosco, mesmo havendo alguns que não apreciam o nosso trabalho. Mas isso serve de motivação, porque ajuda-nos a melhorar a qualidade do nosso serviço.”
Preservação das sementes locais e o futuro da TILOFE
Zecky alerta para um problema crescente: a dependência de Timor-Leste de sementes importadas, que muitas vezes não se adaptam às condições climáticas locais. “Os nossos agricultores sempre disseram que, antigamente, o milho timorense tinha duas variedades: uma para a estação seca e outra para a estação chuvosa. Hoje, com as sementes importadas, a produção demora mais e a durabilidade é menor.”
A TILOFE tem trabalhado na educação comunitária para sensibilizar os agricultores para a importância da conservação das sementes tradicionais. Paralelamente, lidera campanhas de advocacia para pressionar o governo a criar um Banco Nacional de Sementes.

Projetos para o futuro
Este ano, a TILOFE continuará a produção de fertilizantes orgânicos e o trabalho de conservação da água nos 15 sucos de Ermera. Está também prevista a organização de um acampamento nacional com o tema “Partilhar conhecimento para fortalecer a economia rural”, com o objetivo de reforçar as redes de produção local em Timor-Leste.
“Vamos reunir jovens de todos os municípios, incluindo da Região Administrativa Especial de Oecusse Ambeno, para partilhar conhecimentos sobre como enfrentar desafios e desenvolver criatividade para fortalecer a economia das famílias”, explicou Zecky.
Em parceria com a PERMATIL, a TILOFE também organizará um acampamento internacional que reunirá jovens de cerca de 40 países em Díli. “Neste encontro, vamos discutir como o conhecimento local pode contribuir para a conservação da água. Assim, eles poderão aprender connosco e nós também aprenderemos com as suas estratégias para enfrentar as mudanças climáticas”, acrescentou.
Zecky apelou aos jovens para que confiem na sua criatividade, pois acredita que o apoio só se concretiza quando há iniciativa e trabalho árduo. “Não peço dinheiro a outros países para a minha sobrevivência, mas peço, no mínimo, que o nosso próprio país nos apoie para que possamos realizar as nossas atividades. Devemos trabalhar com dedicação, pois isso será um ponto positivo para a credibilidade de Timor-Leste”, concluiu.