Na pele do vendedor com deficiência Elvis de Oliveira

Elvis de Oliveira, acompanhado pelos filhos, pedala a sua bicicleta adaptada de sorriso no rosto/Foto: Diligente

Com deficiência de locomoção desde criança, Elvis de Oliveira sustenta a sua família com a venda de pulsa e a ajuda daqueles que, generosamente, o apoiam. Apesar das dificuldades financeiras e físicas, Elvis não se deixa abater e continua a lutar diariamente, movido pela fé e pelo desejo de um futuro melhor para os seus cinco filhos.

À tarde, das 16h às 21h, é fácil encontrá-lo a vender pulsa em frente do Burger King, em Colmera. É aí que este herói anónimo, de 50 anos, enfrenta o mundo, de sorriso no rosto, com a mesma determinação de quem nunca desistiu de lutar.

A sua história é marcada por uma força inquebrantável. Pai de cinco filhos, três meninas e dois meninos, dedica-se incansavelmente a garantir o sustento da família, apesar das dificuldades físicas e financeiras que enfrenta. Elvis é um dos 17.061 deficientes no país, dos quais 8517 são homens e 8544 mulheres, de acordo com o censo de 2022.

Nascido em Lospalos em 1974, a sua vida mudou drasticamente quando, ainda criança, caiu de uma casa sagrada, típica da sua terra natal. Na ausência de cuidados médicos, devido ao início da guerra em Timor-Leste, desenvolveu uma deficiência física permanente que o impede caminhar. “A minha mãe contou-me que, em 1975, fugiram comigo ao colo para a montanha de Matebian por causa da invasão indonésia. Vivemos lá até 1979”, recorda com olhar nostálgico.

Quando regressou à vila, em 1981, com 7 anos, ficou surpreendido ao ver os seus colegas a andar e ele não conseguia. Elvis lembra-se vividamente da sensação de impotência ao ver os colegas a correr e a brincar, enquanto ele era incapaz de dar um passo. “Perguntei à minha mãe porque não conseguia andar, e ela contou-me o que tinha acontecido. Fiquei destroçado. Quando cresci, deslocava-me a gatinhar porque não queria que os meus pais me levassem ao colo para os lugares onde queria ir.”

Com uma vontade inabalável que desafiava as suas próprias limitações, ao ver os seus colegas irem para a escola, decidiu que também ele haveria de frequentar a escola primária em Lospalos, em 1983. Mais tarde, em Díli, terminou o ensino primário em 1991 e o ensino pré-secundário em 1999. Já em 2002, concluiu o ensino secundário em Baucau, desafiando todas as expectativas.

Atualmente, vive numa casa arrendada em Mascarenhas, Díli, pela qual paga 60 dólares mensais, além dos custos para sustentar os filhos. Todos os dias, pelas 16 horas, Elvis sai de casa na sua bicicleta adaptada para vender pulsa em frente ao Burger King. O filho de 10 anos e a filha de 7 acompanham-no fielmente. Este pequeno negócio, que começou em 2019, é a sua principal fonte de rendimento. Elvis conta que, num bom dia, pode fazer até 40 dólares, mas há dias em que volta para casa de mãos vazias. A generosidade de quem o conhece tem sido essencial. Muitos pagam mais do que é suposto para o apoiar. “As pessoas dão-me sempre algum dinheiro extra. Rezo sempre por aqueles que, com boa vontade, me ajudam. Oro por eles para que Deus os abençoe e tenham sucesso. Eles merecem receber de volta o bem que me fazem”, diz com os olhos cheios de gratidão.

Além disso, Elvis recebe trimestralmente um subsídio de 180 dólares do Ministério da Solidariedade Social, que é insuficiente para cobrir as necessidades básicas da família. Elvis e os filhos costumam voltar para casa às 21h, cansados, mas unidos.

Apesar das limitações, Elvis não se deixa abater. Com um sorriso no rosto, faz o que pode para dar uma vida digna aos filhos, embora sinta o peso de não lhes poder proporcionar tudo o que merecem. “À noite, quando as crianças adormecem, choro, porque embora sejam tão pequenos, têm de trabalhar para me ajudar. Mas rezo e renovo a minha esperança”, conta.

Sobre o que ainda é preciso fazer para pessoas com necessidades especiais, não hesita: “Gostaria que o Governo criasse infraestruturas inclusivas que facilitem o acesso a emprego e a uma vida digna a pessoas como eu”.

Verónica Tilman, gestora da Associação dos Deficientes de Timor-Leste (ADTL), destacou, em declarações ao Diligente, em julho de 2023, a necessidade de lutar por uma sociedade mais inclusiva e tomar medidas para garantir acessibilidade e participação para todos.

Defende que existem várias iniciativas no país para apoiar os direitos das pessoas com deficiência, como a Política Nacional para a Inclusão e o Plano de Ação Nacional para as Pessoas com Deficiência. No entanto, apesar das boas intenções, essas medidas ainda não se traduzem em ações concretas.

“A legislação está bem definida, mas os ministérios ainda não aplicam estas políticas, especialmente no que toca ao orçamento para a inclusão”, disse. Mencionou o Ministério da Educação, que tem um departamento de educação inclusiva, mas que ainda não está preparado para atender adequadamente alunos com deficiências visuais e auditivas.

Elvis recebeu apoio financeiro e, consciente da sorte que teve, mostra-se grato: “Recentemente, recebi ajuda da Presidência da República, que cobriu o custo do arrendamento durante seis meses. Foi uma pequena, mas importante vitória. Agradeço muito”.

Questionado sobre o seu sonho, Elvis, com a voz embargada, respondeu: “Quero que os meus filhos não sofram como eu sofro agora. Luto todos os dias para lhes dar um futuro melhor.”

Ver os comentários para o artigo

  1. Parabens Elvis. Es um exemplo de tenacidade e um grande pai. Tomara muitos sem dificiencia, tivessem a tua coragem.
    Bem Hajas e que o Maromak continue a sorrir para ti.

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