A história de Izu Mausoko é uma sinfonia de resistência, identidade e transformação. Com a sua música, ele dá voz às esperanças e lutas de Timor-Leste, usando as melodias como um instrumento de crítica e inspiração.
Deonizio Rodrigues Pereira, conhecido artisticamente como Izu Mausoko, nasceu em Díli, a 4 de maio de 1983. É o segundo filho de Cezarina Lemos e Adelino Rodrigues Perreira. Cantor e compositor timorense, tornou-se conhecido pelo nome artístico “Izu Mausoko”, conquistando o público com a sua música popular.
Cresceu numa família que sempre apoiou os seus objetivos, em particular a sua mãe, que tinha grande paixão pela música, e uma companheira que desempenhou um papel essencial no apoio à sua carreira. A sua veia musical foi também influenciada pelo avô, João Maçasse Maçamba, que era cantor.
Desde pequeno, Izu era visto como o animador da família. Aos 10 anos, participava frequentemente em competições musicais, mas nunca imaginou que pudesse tornar-se cantor profissional. Considerava-se apenas um animador, sem. “Eu próprio não acreditava que ambições artísticas tinha uma boa voz. Só percebi a força da minha voz quando consegui a transmitir as mensagens que queria para outras pessoas através da música”, afirmou.
Em 1997, Izu começou a animar eventos organizados pelas Irmãs Salesianas, cativando o público. Foi nesse contexto que, em 2000, fundou com os seus colegas a banda “Feature Band”, inspirando-se no espírito salesiano para partilhar mensagens através da música.
Mensagens entre ritmos e melodias
Izu Mausoko iniciou a sua trajetória musical como animador na comunidade Salesiana de Balide. Tornou-se vocalista da Feature Band entre 2000 e 2004, mas o grupo terminou após a perda de um dos seus membros. Em 2005, integrou a banda Gembel, onde permanece até hoje, consolidando-se como um figura de destaque no panorama musical timorense, paralelamente ao seu trabalho como artista a solo.
A sua música aborda temas religiosos, tradicionais, sociais e educativos, combinando estilos como folk, balada e reggae. “A minha linha é mais balada, focada na mensagem, enquanto a banda explora o reggae, centrado na celebração da cultura através da dança”, explica.
Izu já criou cerca de 100 músicas, das quais 20 foram gravadas e 80 ainda permanecem inéditas, sendo apresentadas em concertos ou eventos. A primeira música gravada em estúdio foi lançada em 2001, no álbum “Sira Mak Fahe”, com uma composição de Inácio Gomes.
Uma das canções mais marcantes de Izu Mausoko, “Lakon Iis Moris no Adeus Belun Doben” (Perder o espírito da vida e adeus, querido amigo), nasceu de uma perda pessoal: a morte do seu grande amigo João Paulo, que faleceu num acidente. Esta canção foi incluída no álbum “Domin Forsa Natureza”, lançado em 2008.
Izu Mausoko alcançou grande reconhecimento com o álbum “Mausoko”, que trouxe letras marcantes como “Titi Gaul”, “Tiu Ayam Potong” e “Mausoko Letra Boot”, entre outras, que se tornaram grandes sucessos da época. Algumas das músicas do álbum foram compostas por Irineo Dias, Niko Mascarinhas e Ameu.
Para além das suas composições originais, Izu também se destacou ao interpretar covers em versões em tétum, como a adaptação de “Aku Milikmu”, que intitulou “Hau O Nian”. Este trabalho contribuiu ainda mais para consolidar o seu nome junto do público timorense.
Outras paixões e desafios
Além da música, Izu Mausoko também esteve envolvido no futebol, tendo representado Timor-Leste nos Jogos Arafura em 2000, na Austrália, como vice-capitão. Izu começou a jogar futebol em 1996 com o grupo de futebol Apokalipse, do Bairro Central. No entanto, deixou de jogar em 2013 devido a um incidente que o impediu de continuar.
Izu também aprecia pintar e ler, considerando os livros uma janela para o mundo. “Ler enriquece o nosso conhecimento e ajuda-nos a compreender diferentes situações”, afirma.
Os desafios enfrentados pelos músicos em Timor-Leste, desde os anos 2000 até hoje, estão profundamente ligados às mudanças históricas e às condições sociais, políticas, económicas e culturais do país. Nos anos 2000, com a independência de Timor-Leste, a falta de infraestruturas modernas, como estúdios de gravação, instrumentos profissionais e tecnologia, dificultava a produção de música com qualidade.
Naquela época, o mercado musical era frágil, com um público limitado e acesso restrito a produções como CDs ou cassetes. Antes de lançar um álbum, os músicos precisavam de arrecadar fundos ao longo de vários meses para cobrir os custos de produção, uma vez que os consumidores compravam cassetes diretamente dos artistas.
A profissão de músico não era vista como uma fonte de rendimento estável, o que levava muitos artistas a enfrentar grandes dificuldades para manter a carreira e promover as suas produções. A falta de proteção dos direitos de propriedade intelectual também trazia sérias consequências, como o plágio, que afetava diretamente os músicos que investiam tempo e criatividade nas suas obras. “Timor ainda não tem uma plataforma que trate corretamente dos direitos autorais”, explica.
Além disso, os músicos enfrentam desafios ao incorporar críticas sociais nas suas canções, pois precisam equilibrar a mensagem crítica com inspiração e educação, de forma a evitar ofender ou causar reações negativas no público. “A música deve não apenas criticar, mas também oferecer esperança e contribuir para a mudança e transformação social”, alerta.
Outro desafio importante é a promoção de uma identidade pessoal através das letras, melodias, tonalidades e estilos musicais. Este equilíbrio permite que os músicos e compositores produzam músicas que reflitam críticas sociais e contribuam para mudanças positivas, ao mesmo tempo que mantêm a sua identidade como artistas timorenses.
Atualmente, Izu Mausoko continua a sua trajetória musical. Já gravou duas novas músicas, que abordam o tema da “saudade”, e que serão lançadas em janeiro de 2025, acompanhadas de um videoclipe.
“A minha música fala de saudade, mas não de uma saudade de tempos distantes. Fala, sobretudo, de uma saudade a curto prazo, como quando as pessoas se sentem solitárias ou percebem a ausência umas das outras. Por exemplo, quando alguém vai trabalhar e sente uma saudade profunda nesse contexto,” explica Izu.
Com mais de 20 anos de carreira, Izu Mausoko mantém-se como um dos artistas mais influentes de Timor-Leste, usando a sua música para motivar e educar as futuras gerações.
Atualmente, está a colaborar com o CNC (Centro Nacional Chega) para compor uma música que pretende ser uma ponte de cura para os sobreviventes de traumas. “As minhas músicas são, em grande parte, críticas sociais, que abordam a luta pela nação e também a vida de pessoas comuns”.
Além desta parceria com o CNC, Izu já colaborou com várias outras entidades, como o Parlamento Nacional, a USAID, a Comissão de Luta contra a SIDA e a Oxfam, demonstrando o seu compromisso com causas sociais e educativas em Timor-Leste.