Será a primeira vez que o imunizante contra a doença será disponibilizado à rede pública de saúde em Timor-Leste. Estimativa é de vacinar 50 mil cidadãs da faixa etária até ao fim deste ano.
O Ministério da Saúde vai disponibilizar a vacina gratuita contra o Vírus do Papiloma Humano (HPV, em inglês) à rede pública de saúde em Timor-Leste, pela primeira vez, a partir do dia 22 de julho, data em que se assinala o Dia Nacional da Saúde. Meninas de 11 a 14 anos serão o público-alvo. Até ao fim de 2024, o Governo pretende imunizar, no mínimo, 50 mil crianças do sexo feminino da referida faixa etária.
Em conferência de imprensa, realizada no salão da sede da UNICEF em Timor-Leste, esta segunda-feira (3 de junho), a diretora nacional de Educação e Promoção da Saúde do Ministério da Saúde, Emília de Jesus Alves Mendonça, informou que o processo de vacinação terá lugar nas escolas, postos de saúde e de vacinação estabelecidos em todo o país.
“Os pais devem colaborar, autorizando que as filhas sejam imunizadas”, acrescentou a diretora. Segundo a autoridade, a vacinação não foi iniciada antes “devido à escassez de recursos humanos e infraestruturas”.
Até ao momento, a vacina do HPV só está disponível na rede privada de saúde e custa 480 dólares (três doses), mais o valor da consulta médica.
O HPV, que causa ferimentos em partes do corpo e não tem cura, é transmitido, principalmente, através do ato sexual sem proteção. Entre as mulheres, a doença é a principal causadora do cancro de colo do útero – que matou 39 cidadãs no país em 2020 (dados mais atuais), segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em Timor-Leste, é o segundo tipo de cancro mais fatal entre as mulheres, a seguir ao cancro de mama.
De acordo com o médico da equipa de vacinação, Estevão Mariz, a vacina é segura. “A vacina é o resultado de um ensaio clínico rigoroso. O imunizante já foi usado em todo o mundo e foram administradas cerca de 500 milhões de doses. As jovens vão receber apenas uma dose da vacina, que previne em 90% a doença oncológica causada pelo HPV. Trata-se de uma vacina intramuscular, devendo ser administrados 0,5 ml do produto no braço esquerdo”, explicou.
As pessoas com deficiência e os imunodeprimidos também receberão a vacina, uma vez que têm o sistema imunológico enfraquecido, o que reduz a capacidade do corpo de combater infeções e outras doenças.
Prevenção
A obstetra do Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV), Águeda Li da Cruz, explicou que a prevenção do cancro do colo do útero consiste, sobretudo, na vacinação contra o HPV – que pode ser realizada a partir dos nove anos. A médica ainda recomendou evitar fatores de risco (tabagismo e não tratamento de corrimento vaginal anormal) e realizar exames regulares, especialmente a partir dos 30 anos.
“Cerca de 90% das pelo menos 342 mil mortes ocorrem em países de baixo e médio rendimento. Os sintomas do cancro do colo do útero são o corrimento vaginal anormal, dor pélvica e dor durante o ato sexual, hemorragia anormal durante a menstruação, relação sexual ou depois da menopausa”, disse Águeda Li da Cruz.
A médica salientou que o vírus HPV pode levar até duas décadas, depois da sua infeção, para se desenvolver e apresentar sintomas – que incluem pequenas protuberâncias ou crescimentos semelhantes a verrugas na área genital, ou na região da virilha. Por isso, a profissional recomenda a realização de exames. “A deteção precoce pode salvar vidas”, enfatizou Águeda Li da Cruz.