Centro de Estudo de Mangrove KFF Hera : um refúgio natural que une educação, turismo e preservação

O Centro disponibiliza áreas para caminhadas e atividades ao ar livre/Foto: Diligente

Fundado em 2014, o Centro de Estudo de Mangrove de Hera da Conservação Flora e Fauna (KFF) é um exemplo de educação ambiental e conservação ecológica em Timor-Leste. Oferece trilhas educativas, turismo sustentável e projetos de reflorestação, enquanto promove a ligação entre natureza, cultura e comunidade.

O Centro de Estudos de Mangrove de Hera da Conservação Flora e Fauna, fundado em 2014 por jovens e antigos estudantes do departamento de Biologia da faculdade de Educação, Artes e Humanidades da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL)   promove a educação ambiental e a preservação dos mangais. Localizado na aldeia de Sukaer Laran, no suco de Hera, Posto Administrativo de Cristo Rei, em Díli, o Centro desenvolve atividades de conservação, turismo educativo e investigação sobre o ecossistema marinho.

Desde a sua criação, o Centro tem sido um exemplo de esforço comunitário na recuperação das zonas de mangal. Em 2015, iniciaram a criação de viveiros para a plantação de mangais e, em 2017, começaram a distribuir mudas à comunidade local. Estas ações têm como objetivo recuperar áreas devastadas pelo corte excessivo de mangais para lenha e pela falta de iniciativas de reflorestação por parte das autoridades competentes.

O Centro oferece aos visitantes a oportunidade de aprender sobre o ecossistema de mangais e a sua importância ambiental. Os mangais desempenham um papel crucial na proteção das zonas costeiras, na purificação da água e na criação de habitat para várias espécies. Além disso, funcionam como um ponto de reflexão sobre a necessidade de preservar os recursos naturais.

Com o tempo, os esforços de reflorestação deram resultados visíveis. Os mangais cresceram e foram criadas trilhas e caminhos entre as árvores, permitindo aos visitantes apreciar a paisagem panorâmica. A popularidade do Centro aumentou significativamente em 2019, quando se tornou viral nas redes sociais, particularmente no Facebook, atraindo um número crescente de visitantes.

Atualmente, o Centro oferece várias atividades educativas e recreativas. Os visitantes podem explorar as diferentes espécies de mangais presentes na zona, participar em programas de sensibilização ambiental e desfrutar de espaços naturais, como uma gruta e áreas de contemplação da paisagem. Para estudantes e turistas interessados no turismo educativo, o Centro é um local ideal para compreender a importância da preservação ambiental e do ecossistema dos mangais.

Além disso, o Centro disponibiliza áreas para caminhadas e atividades ao ar livre, proporcionando aos visitantes uma experiência direta com o ecossistema de mangais e reforçando a sua ligação à natureza.

“Uma Peskiza” (Casa de pesquisas), uma cabana dedicada ao estudo do ecossistema marinho/Foto: Diligente

Os visitantes do Centro de Estudos de Mangrove da Conservação Flora e Fauna começam a sua experiência percorrendo uma trilha bem cuidada, rodeada por vegetação exuberante. Ao longo do caminho, podem observar diversas espécies de mangal e aprender sobre elas através de informações visuais e autocolantes explicativos colados nas árvores.

A trilha não é apenas uma viagem pela natureza, mas também uma galeria ao ar livre: obras criativas feitas por jovens locais, como bancos e objetos esculpidos em madeira, destacam-se ao longo do percurso. Estas peças, preservando a estrutura original das madeiras, atraem a atenção pela sua simplicidade e beleza.

No coração da zona de vegetação, encontra-se a “Uma Peskiza” (Casa de Pesquisas), uma cabana dedicada ao estudo do ecossistema marinho. Próximo deste espaço está um edifício moderno, recentemente construído, que se foca na conservação da flora e fauna da região. Ambos os locais são essenciais para quem deseja compreender melhor a importância ecológica dos mangais.

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Gruta da Nossa Senhora de Fátima e ponto elevado/Foto: Diligente

Um dos pontos altos do Centro é a Gruta de Nossa Senhora de Fátima, considerada um espaço de grande importância religiosa e espiritual. Localizada numa área montanhosa e junto a uma vertente rochosa, a gruta oferece um ambiente sereno, ideal para meditação, oração e momentos de reflexão.

A partir da entrada da gruta, os visitantes podem desfrutar de uma vista deslumbrante sobre o mar, criando uma atmosfera calma e inspiradora. A combinação entre as rochas e o oceano torna o local único e perfeito para fotografias ou para relaxar em família ou em casal.

Além da gruta, um ponto elevado nas proximidades permite descansar e apreciar ainda mais a paisagem. Este espaço é frequentemente procurado por visitantes que procuram tranquilidade ou desejam registar memórias especiais através de fotografias.

De acordo com João Fátima Benevides, vice-presidente do conselho fiscal do Centro, o local também serve como espaço de aprendizagem sobre o oceano, incluindo temas como recifes de coral e segurança marítima. “É um local que facilita a formação e fornece informações importantes antes de se dirigirem ao mar”, explica.

O Centro de Estudos de Mangais combina de forma harmoniosa a educação ambiental, a preservação da biodiversidade e a espiritualidade. Seja para aprender sobre o ecossistema, desfrutar de paisagens deslumbrantes ou simplesmente encontrar um momento de paz, o local oferece uma experiência inesquecível que une natureza, cultura e reflexão.

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Instalação de apoio para formações e treinos destinados a futuros investigadores/Foto: Diligente

O local está devidamente equipado para acolher tanto estudantes como investigadores interessados em estudar a biodiversidade marinha, incluindo os recifes de coral. Funciona ainda como uma instalação de apoio para formações e treinos destinados a futuros investigadores. Antes de iniciarem as atividades, todos os participantes recebem instruções e orientações importantes sobre segurança pessoal.

Para além da sua função científica, o espaço proporciona uma experiência agradável para os visitantes, que podem desfrutar da vista deslumbrante sobre o mar a partir de uma casa de madeira localizada numa área protegida. Este ponto está estrategicamente conectado a dois miradouros, que oferecem vistas únicas sobre o oceano e o ambiente circundante.

No percurso entre o segundo miradouro e o local principal, os visitantes têm a oportunidade de observar águas cristalinas repletas de vida marinha, incluindo cardumes de peixes. A zona é também rica em vegetação e árvores, criando um ambiente fresco e acolhedor, o que torna o local atrativo tanto para investigadores como para turistas, devido à combinação da biodiversidade marinha e da beleza natural.

Os dois miradouros, situados nas encostas de uma colina, oferecem panoramas impressionantes sobre o mar e a paisagem envolvente, proporcionando uma experiência memorável.

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Bero/Foto: Diligente

O Bero, localizada num ponto elevado na montanha e com um formato que lembra uma canoa, oferece vistas panorâmicas únicas. Para alcançá-lo, é necessário subir por escadas bastante inclinadas, exigindo algum esforço físico. No entanto, a recompensa é significativa: uma paisagem deslumbrante que abrange as montanhas, o mar em várias direções com águas cristalinas e os densos mangais de difícil acesso.

O local é particularmente encantador durante o crepúsculo, sendo uma escolha ideal para tirar fotografias ou admirar o pôr do sol, que transforma a paisagem num espetáculo visual.

De acordo com relatos de anciãos da região, no passado, o Bero era usado como ponto estratégico por pescadores locais para comunicarem com os pescadores da ilha de Ataúro, situada junto à montanha de Manukoko. Estes pescadores utilizavam sinais de fogo para transmitir informações sobre as condições do mar: um fogo aceso indicava águas calmas e seguras para a pesca, enquanto um fogo apagado alertava para condições perigosas. De forma semelhante, os pescadores de Hera recebiam sinais da ilha de Ataúro através de fogueiras no cume de Manukoko. Esta prática histórica reflete a relação cooperativa entre as comunidades piscatórias e a importância do local para a segurança e sustento da região.

Atualmente, o Bero é conhecido como “Bero Titanic”, embora ainda esteja em fase de conclusão. O local mantém o seu caráter acessível, proporcionando vistas privilegiadas sobre o mar, os mangais e a ilha de Ataúro, mantendo viva a sua relevância histórica e cultural.

O Centro de Estudos de Mangais  da Conservação Flora e Fauna, onde se encontra o Bero, está localizado a cerca de 10 a 12 km do centro de Díli, com uma viagem que dura entre 20 a 30 minutos, dependendo do trânsito. O espaço está aberto diariamente, desde manhã até ao final da tarde, e o acesso requer o pagamento de um dólar por pessoa, sem limite de tempo para permanência.

As instalações incluem uma cafetaria e a possibilidade de adquirir alimentos para dar aos animais da área, como macacos. O espaço também conta com a trilha Mangrove Trekking, criada com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Esta trilha tem como objetivo principal promover a conservação das espécies de plantas e animais locais, além de destacar a importância dos mangais, que desempenham um papel essencial na filtragem da água e na redução dos impactos de fenómenos naturais como tsunamis.

A receita obtida com as taxas de entrada é parcialmente utilizada na construção e melhoria das infraestruturas do centro, garantindo maior conforto aos visitantes e contribuindo para a preservação do ecossistema. Desde a sua inauguração, o Centro tem atraído visitantes de diferentes partes do país e do estrangeiro, tornando-se uma referência importante no turismo educativo e ecológico.

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Quadro informativo no Centro de Estudo de Manguais de Hera/Foto: Diligente

Regras e benefícios do Centro

Para garantir a preservação deste espaço e uma experiência enriquecedora para todos, é fundamental que os visitantes sigam algumas regras importantes.

Na entrada e no interior do Centro, estão instalados painéis informativos com detalhes relevantes sobre o ecossistema local. É recomendável que os visitantes leiam atentamente estas informações.  É proibido deitar lixo, danificar a vegetação ou perturbar os animais presentes na área.

João Fátima Benevides, vice-presidente do Conselho Fiscal do Centro, sublinha: “Quando os visitantes entram no Centro, devem consultar as informações disponíveis nos painéis. Caso não compreendam alguma informação, podem sempre pedir ajuda à nossa equipa. É essencial que os visitantes respeitem as plantas, os animais e, sobretudo, que não deitem lixo para o chão. Embora não apliquemos sanções, acreditamos na educação e na sensibilização para corrigir estas atitudes.”

O principal objetivo do Centro é promover a educação ambiental. Através das trilhas educativas e das visitas guiadas, os visitantes têm a oportunidade de aprender sobre os mangais, a biodiversidade marinha e a importância da sua preservação. Este é um espaço que sensibiliza estudantes, turistas e a comunidade local para questões ambientais essenciais.

Ao visitar o Centro de Estudo de Mangrove de Hera da Conservação Flora e Fauna, não só estará a desfrutar de uma experiência única de contacto com a natureza, como também a apoiar a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável da comunidade. É um local onde a educação, a cultura e a biodiversidade se encontram em perfeita harmonia.

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