Bruno Barbosa: “eu viajo à boleia por causa das pessoas”

Bruno Barbosa viaja pelo mundo à boleia e passou por Timor-Leste/Foto: Diligente

Bruno Barbosa, mais conhecido como bruno_worldtraveler nas redes sociais, não é apenas um viajante comum, está a cumprir o sonho do seu pai de conhecer o mundo. E faz isso de uma forma muito especial: à boleia. Com 94 países já visitados e sem planos de parar, Bruno vive para se conectar com pessoas de todas as culturas, ouvindo histórias e criando memórias em cada canto do mundo.

Atualmente no Japão, Bruno esteve recentemente em Timor-Leste, onde partilhou com o Diligente as motivações, desafios e aprendizagens desta jornada inspiradora.

Como é que está a ser esta aventura? O que é que já conheceu e até quando vai ficar?

Cheguei aqui há cerca de uma semana. Não tenho planose não sei quando vou embora porque estou apaixonado pelo povo timorense; estas pessoas são incríveis. É um povo muito amoroso, genuíno e simpático. Estou a adorar conhecer as pessoas, e não sei por quanto tempo mais ficarei, mas quero explorar bem o país. Quero conhecer muitas pessoas e quero fazer muitos amigos timorenses para guardar Timor no meu coração para sempre.

Vou partilhar todo o tipo de conteúdo que eu estou a criar diariamente, através das minhas redes sociais – Instagram, TikTok e Facebook – para que todos possam ver. Infelizmente, Timor é um país pouco conhecido e do qual poucos falam. Gostava de mostrar Timor ao mundo, pois é uma terra muito bonita, com pessoas maravilhosas, e acho que merece ser mais valorizado em termos de turismo.

Sabemos que o seu pai trabalhou na TAP e sempre teve o sonho de conhecer o mundo de mochila às costas. Como se sente a cumprir este sonho por ele?

Este sonho é meu, embora tenha nascido por causa do meu pai. Quando era criança, viajava com ele. Entretanto, o meu pai faleceu e eu continuei com o sonho. Hoje, este sonho é meu. É também por ele, mas também por mim. Adoro o mundo, adoro viajar e tenho o sonho de conhecer todos os países do mundo. São 197 países e, até agora, já estive em 93.

Como era a sua vida antes de começar a viajar?

Nasci e cresci em Portugal, onde vivi quase toda a minha vida toda. Também fui emigrante em França durante três anos, mas não era feliz lá. Fui para França com 19 anos e, aos 22, regressei a Portugal, e aí comecei a viajar primeiro pela Europa. Com o tempo, viajar tornou-se um vício. Passaram-se quase 15 anos, agora tenho 36 e hoje a minha vida é viajar. É o que me faz feliz e sentir-me vivo.

Viajar à boleia não é para todos. Por que escolheu esta forma de viajar?

São estilos diferentes, cada pessoa tem a sua maneira de viajar. Eu viajo à boleia porque acho que é uma excelente de me conectar com o povo local e talvez aprender coisas que não aprenderia se viajasse em transportes públicos. Viajo à boleia, não por ser mais barato, mas por causa das pessoas.

Que conselhos daria a alguém que pensa em viajar desta forma? Há algum segredo para conseguir boleia mais facilmente?

Há duas ou três coisas que ajudam muito. Primeiro, sorrir e olhar nos olhos. Sorrir é muito importante. Depois, escolher um lugar onde os carros ou as motas possam parar em segurança.

Qual foi a primeira boleia?

A primeira boleia foi no aeroporto. Em quase todos os países, saio do aeroporto logo à boleia, se possível. No caso de Timor, no aeroporto de Díli, há uma estrada logo à saída, por isso apanhei boleia de uma mota.

Já visitou 93 países à boleia e certamente conheceu pessoas incríveis ao longo do caminho. Tem alguma história inesquecível de uma boleia ou de uma pessoa que o marcou especialmente?

Tenho várias. Agora, por exemplo, vim da Austrália, onde fiz 5 mil quilómetros à boleia e a dormir numa tenda. Uma das boleias foi de uns senhores que me convidaram para dormir na casa deles. Deram-me comida e tudo o que precisei, porque há muitas pessoas boas no mundo. Felizmente, o bem ainda prevalece.

Conheço pessoas que, curiosas pelas minhas histórias, acabam por me ajudar, oferecendo comida e água. As boas histórias e as experiências incríveis também.  Já passei por várias situações ao longo das minhas viagens, já dormi na casa de várias pessoas e depois trocamos o Facebook, o Instagram e ficamos amigos para sempre.

 

Dormiu em aeroportos, estações de serviço e até debaixo das escadas rolantes.

Sim, já dormi muitas vezes em aeroportos, na rua, debaixo de camiões, no McDonald’s, em jardins, em muitos sítios.

Qual foi o maior desafio que enfrentou em viagem e como isso o ajudou a crescer?

Viajar em si já é um desafio. Na Austrália, por exemplo, foi muito difícil, pois é um dos países mais caros do mundo para se viajar. Viajei com um orçamento de 10 dólares por dia, à boleia, a dormir numa tenda, a tomar banho nas casas de banho do McDonald’s e das praias, a cozinhar massa com atum numa panela todos os dias. Foi uma grande aventura e um desafio enorme.

Em que país permaneceu mais tempo?

No ano passado, viajei à boleia pela Arábia Saudita, durante o Ramadão, uma altura muito especial para os países muçulmanos. Fui recebido como se fosse um filho. No Ramadão, as pessoas davam-me comida e água, mesmo sabendo que eu não era muçulmano. Foi uma experiência incrível. Estou a sentir o mesmo aqui em Timor-Leste. Tenho vontade de ficar aqui porque estou apaixonado pelo país e pelo povo.

Viajou muitas vezes com pouco ou quase nenhum dinheiro. O dinheiro é uma barreira ou apenas mais um detalhe nesta aventura?

Para mim, o dinheiro não é importante, nunca foi. Se não tiver dinheiro, vou na mesma. Sempre viajei com pouco dinheiro e consegui safar-me. O que interessa é o espírito e ser positivo.

Viaja muito, mas admira profundamente a sua terra natal, Portugal. Como compara a mentalidade das pessoas em Portugal com as dos outros países como em Timor-Leste?

Adoro o meu país, é verdade, mas, em geral, somos um povo com uma mentalidade fechada e mais fria. No início, criar amizade com portugueses pode ser mais difícil, mas quando se consegue, são amigos para a vida. Em Timor, as pessoas são mais abertas e calorosas, é muito mais fácil fazer amizades e ganhar um sorriso. No meu país, infelizmente, é diferente, mas há todo o tipo de pessoas, não podemos generalizar.

Disse muitas vezes para desligarmos a televisão, porque é tudo mentira. O que quer dizer com isso?

Digo isso para que as pessoas perceba, que muita coisa que vemos na televisão não corresponde à realidade. Por exemplo, na Arábia Saudita, fui recebido com muito carinho, apesar das mensagens que recebi a avisarem-me de que me iam cortar a cabeça.

Foi a melhor experiência da minha vida, fui recebido como um filho e as coisas que nos falam na Europa, sobretudo na televisão, é que esses países são perigosos. A televisão, muitas vezes, mostra uma visão distorcida sobre outros países, criando medo e preconceitos.

Tem um amor especial tanto por aeroportos como por andar à boleia. O que é que o fascina mais nestes dois modos de viajar que são tão diferentes?

Adoro aeroportos. O meu pai trabalhava no aeroporto e desde criança que eu ia com ele para o trabalho e sempre tive o fascínio de andar de avião.

Esse fascínio já está a morrer um bocadinho, ultimamente tenho tido mais medo. São dois tipos de viagens completamente diferentes. O avião é para nos levar para o outro lado do mundo e eu apanho o avião para o outro lado do mundo e depois ando à boleia.

Definiu as viagens como uma espécie de droga.

Sim. Quando digo droga, quero dizer vício. Sou viciado em viajar. Se não viajar, fico triste, deprimido. Sinto-me preso e não estou a viver como gosto, porque a vida que eu gosto é a viajar.

Mas o que lhe dá essa adrenalina e o faz querer continuar?

É a minha maneira de ser feliz, é o ar que respiro. Se não viajar, não respiro.

Tem algum destino que ainda não visitou?

Sim, gostava de visitar o Irão, o Iraque e o Japão.  Cada um destes países tem uma cultura fascinante, pessoas acolhedoras e histórias muito ricas. No Irão, as pessoas são muito inteligentes, tem uma arquitetura fantástica, a gastronomia dizem que é espetacular. Todos os viajantes como eu, que conheço e sigo nas redes sociais, dizem que o país preferido deles é o Irão.

Tenho curiosidade em visitar o Japão pelo respeito que os japoneses têm pelos outros, pela natureza, o civismo, o saber estar. O Iraque também é semelhante ao Irão. Estou a seguir muitos portugueses agora no Iraque, há muitos portugueses a viajar para lá, e todos ficam encantados com as pessoas.

Visitar Timor-Leste fazia parte dos planos?

Não, o plano era dar a volta à Austrália, mas o visto só dura 3 meses. Em 3 meses era praticamente impossível dar a volta à Austrália, à boleia. Era possível, mas tinha de correr e não aproveitava nada. Então, num mês fiz 5 mil km e cheguei a Darwin. Lá, percebi que estava perto de Timor. Pensei que era a oportunidade certa, e talvez a única, para visitar Timor-Leste. Pensei vir e voltar para a Austrália, mas agora quero ficar mais tempo em Timor. Depois, quero entrar na Indonésia, que também já visitei. Gostava de visitar o arquipélago das Flores, que também tem raízes portuguesas. Daqui, irei passar a fronteira à boleia até Kupang e depois apanhar um barco para as Flores. Em princípio, vai ser assim.

Qual é a impressão que tem de Timor?

O que eu observei até agora é que Timor-Leste tem um passado triste devido à ocupação indonésia. Morreram muitas pessoas. Estou impressionado como é que, com um passado triste tão recente, as pessoas têm uma alegria e um sorriso tão grande. Estou impressionado. É o que eu sinto. As pessoas e o país têm uma energia boa.

Ver os comentários para o artigo

  1. Eu tambem viajo de boleia pois estou teso. Voces ja viram os precos dos bilhetes de aviao?
    Da para apanhar um enfarto cardiaco.
    A minha melhor maneira de viajar, barata e ilucinante, e nos sonhos.
    Os sonhos levam-me a todo o lado, sem ter de sorrir, olhar nos olhos ou ter de aguentar maus cheiros de bromidrose.

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