Ary Bargon, humorista e escultor timorense, conquistou corações nas redes sociais e com as suas estátuas únicas. Natural de Liquiçá, ele transformou o sonho de infância de ser padre em uma carreira artística cheia de talento, criatividade e impacto.
Rivilino Barros Gonçalves, de 27 anos, mais conhecido como Ary Bargon, é um rosto familiar entre os timorenses, desde as crianças até aos mais velhos, sobretudo para aqueles que têm acesso ao Facebook, TikTok, WhatsApp, Twitter e YouTube.
Rivilino, mais conhecido pelo nome artístico Ary Bargon, nasceu no município de Liquiçá, no suco de Leorema, sendo o quinto de dez irmãos numa família humilde. Desde pequeno, demonstrava inclinação artística, tendo frequentado escolas locais como a Marcelo II e a Escola Católica São Pedro, onde iniciou os seus estudos. Bargon resulta da abreviatura dos seus apelidos, Barros e Gonçalves.
Quando concluiu o ensino secundário, em 2014, Ary considerou entrar no seminário, pois um dos seus sonhos de infância era ser padre. Contudo, mudou de ideias ao perceber o seu talento artístico.
“Decidi não entrar no seminário porque descobri que tinha jeito para fazer esculturas. Se fosse para o seminário, não conseguiria desenvolver o meu talento, porque teria de me focar na missão como sacerdote”, explicou ao Diligente.
Em 2013, Ary tentou também seguir carreira na música, mas, no início, quase desistiu, acreditando que não teria futuro.
“Queria ser cantor e treinava muito, embora soubesse que não tinha uma voz extraordinária. Fiz o meu melhor para ser um bom cantor. Treinava em frente ao espelho, cantava em eventos no bairro e em reuniões familiares. Até consumia ovos crus, acreditando que melhorariam a minha voz. Mas, um dia, olhei-me no espelho e achei que talvez não fosse destinado a essa profissão. Os meus amigos, no entanto, encorajaram-me a não desistir”, recordou.
Com o tempo, descobriu outro talento: fazer os outros rirem. Sem se aperceber, já era considerado um comediante natural. Participou em competições de teatro nos bairros, onde frequentemente conquistava o primeiro lugar.
“As pessoas riem-se sempre que falo, mesmo que eu não tenha essa intenção. Até já acharam graça quando estava a chorar”, contou.
A sua primeira peça, intitulada Telejornal Arbiru Deit, foi produzida em 2013. “Era uma espécie de noticiário transmitido de forma animada”, explicou.
A peça foi apresentada pela primeira vez na Escola São Pedro, em Comoro. Inicialmente, os professores mostraram resistência, por não compreenderem o conteúdo, mas a apresentação acabou por conquistar a simpatia do público.
Atualmente, Ary Bargon produz vídeos curtos que divulga no Facebook, TikTok e YouTube.
Um dos maiores desafios como comediante é criar ideias novas. “Uma música pode ser ouvida milhares de vezes sem enjoar, mas com a comédia é diferente. Temos de criar sempre coisas novas, porque repetir as mesmas piadas perde a graça”, afirmou.
Ary inspira-se no comediante indonésio Sule e no britânico Mr. Bean. Em Timor-Leste, admira o cantor, apresentador e mestre de cerimónias Anito Matos.
Conta com o apoio da família, que acompanha o seu percurso e o aconselha sobre a linguagem a utilizar nas suas peças. “A minha família lembra-me sempre das palavras que devo evitar”, referiu.
Ainda assim, Ary está consciente de que nem todos apreciam os seus vídeos. Por vezes, é alvo de insultos, mas responde calmamente, o que já levou algumas pessoas a pedirem desculpa.
De humorista a escultor
Ary Bargon não é apenas um comediante talentoso, mas também um escultor habilidoso. Descobriu este talento em 2014 e, desde então, dedica-se a criar estátuas a pedido de clientes. Cada peça pode demorar entre um a dois meses, dependendo do tamanho e da complexidade.
Barro, areia, cimento e ferro são os principais materiais que utiliza. Os preços variam: uma estátua de meio corpo com 50 centímetros de altura custa 500 dólares, enquanto as de um metro podem atingir 700 dólares. As mais elaboradas podem custar até 2.000 dólares.
Em 2016, Ary criou uma estátua de Xanana Gusmão, que lhe entregou como presente de aniversário. Segundo Ary, Xanana elogiou o trabalho e encorajou-o a continuar.
O jovem artista aprendeu técnicas de escultura no YouTube, começando com barro, material frequentemente usado por iniciantes. Mais tarde, passou a utilizar cimento para maior durabilidade.
Além de Xanana, Ary já criou estátuas de figuras como Mari Alkatiri, Naimori (do partido KHUNTO) e o falecido cantor Chico Maulohi. Produziu também estátuas religiosas, como a de São João Baptista, na Capela de Casnafar, em Aileu, e está a concluir a de São José Operário.
Ary sonha construir um museu de arte para expor estátuas de figuras nacionais e internacionais. Acredita que estas peças não só servirão como coleção, mas também como elementos históricos para as gerações mais jovens.
Em 2024, Ary representou Timor-Leste num encontro com o Papa Francisco, no Vaticano, ao lado de humoristas de 15 países. Aproveitou a oportunidade para conhecer comediantes norte-americanos como Stephen Colbert, Jimmy Fallon, Chris Rock e Conan O’Brien.
Hoje, Ary Bargon é reconhecido por mais de 200 vídeos, que lhe garantiram parcerias com várias empresas. Contudo, prefere não fixar preços para pequenas empresas nacionais, oferecendo os seus serviços gratuitamente como forma de as apoiar e animar o público.
Planos para o futuro
Ary sonha em construir um museu de arte em Timor-Leste, onde pretende expor esculturas de figuras nacionais e internacionais, como líderes históricos e desportistas famosos. “Quero que as crianças saibam não apenas os nomes dos nossos líderes, mas também quem eram e o que representavam”, explicou.
Apesar dos desafios, Ary continua dedicado ao seu talento, seja na comédia, escultura ou música, deixando uma mensagem de motivação para os jovens: “Não tenham medo de promover os vossos talentos. O importante é acreditar em si mesmo e trabalhar duro.”
comédia: arte ou género de entretenimento que tem como objetivo fazer as pessoas rirem através de situações engraçadas ou humorísticas.