Em 2025, Timor-Leste celebrará o 50.º aniversário da declaração unilateral de independência, um marco significativo para refletir sobre o passado e projetar um futuro sustentável. No centro das comemorações, destaca-se o desafio da transição geracional na liderança, à medida que o país tenta equilibrar o seu legado histórico com a criação de oportunidades para uma nova geração.
O Primeiro-Ministro, Xanana Gusmão, defende uma transição gradual, enfatizando a estabilidade e a unidade como pilares para garantir a continuidade na construção do Estado e da nação. Por sua vez, o ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri propõe uma plataforma intergeracional que incentive a colaboração entre líderes veteranos e jovens, promovendo um governo equilibrado e inclusivo. O Presidente da República, José Ramos-Horta, prevê uma transição geracional completa entre 2027 e 2028, com foco na capacitação de líderes jovens para implementar reformas sustentáveis. Já Taur Matan Ruak (TMR), antigo presidente e primeiro-ministro, destaca a dinâmica competitiva da transição de liderança, sublinhando as influências das ambições políticas e da luta pelo poder no processo.
Estas abordagens evidenciam a complexidade da evolução democrática de Timor-Leste. A transição geracional é uma necessidade política e um reflexo do espírito de durabilidade da democracia timorense. O desafio que se coloca aos líderes históricos é claro: como equilibrar o legado do passado com as tensões presentes e preparar um futuro que inspire confiança na nova geração.
Xanana Gusmão: a transição gradual como símbolo de continuidade
O Primeiro-Ministro Xanana Gusmão, figura icónica de Timor-Leste, mantém o estatuto de líder lendário do movimento de independência e da governação do país. Xanana posiciona-se como uma ponte entre gerações, defendendo uma transição gradual de poder que privilegie a estabilidade e a continuidade. Para ele, esta transição é um gesto simbólico de passagem da luta pela independência para uma nova era, orientada para o futuro.
Embora tenha enfrentado desafios significativos, como a inércia política de 2015-2016 e a dependência de aliados, Xanana tem consistentemente sublinhado a importância da juventude como motor do futuro. A sua estratégia procura assegurar que a transição de liderança ocorra de forma estruturada, reconhecendo a fragilidade da democracia timorense e a necessidade de consolidar progressos já alcançados.
José Ramos-Horta: a defesa de uma transição geracional completa
O Presidente José Ramos-Horta apresenta uma visão transformadora, propondo uma transição geracional completa até 2028. A sua abordagem sublinha o mérito, a capacidade e a experiência dos novos líderes como elementos fundamentais para promover a inovação e a sustentabilidade das instituições democráticas.
Ramos-Horta reconhece os riscos de desestabilização associados a mudanças radicais numa democracia jovem e frágil, mas vê essas preocupações como oportunidades para planear um processo inclusivo e colaborativo. A sua liderança aposta na formação das novas gerações, garantindo que estas assumam um papel central na realização do sonho nacional de um Timor-Leste próspero e moderno.
Mari Alkatiri: uma plataforma intergeracional
O ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri propõe uma plataforma intergeracional, promovendo a convivência entre a experiência dos líderes históricos e a criatividade dos novos líderes. A sua abordagem destaca a necessidade de equilibrar continuidade e inovação, integrando diferentes perspetivas para criar uma governação adaptável e inclusiva.
No entanto, Alkatiri reconhece os desafios de implementar esta visão num contexto marcado por rivalidades políticas e lealdades profundas. Apesar disso, a sua proposta reflete um compromisso com a unidade nacional e a renovação política, oferecendo uma alternativa ao modelo tradicional de transição polarizada.
Taur Matan Ruak: competição para construir o futuro
Taur Matan Ruak adota uma perspetiva pragmática e competitiva, considerando a transição de liderança como uma arena de disputa pelo poder político. Para TMR, a mudança geracional deve ser vista como uma oportunidade para “competir para conquistar” e moldar o futuro da nação.
Embora esta abordagem possa renovar o cenário político, TMR alerta para o risco de uma competição excessiva, que pode intensificar a polarização e prejudicar os esforços de inclusão. A sua visão reconhece que o poder político, em Timor-Leste, é algo que deve ser conquistado e não simplesmente transmitido, mas sublinha a importância de equilibrar competição com colaboração para avançar como nação.
Conclusão: um caminho para a unidade e o progresso
A transição geracional em Timor-Leste é um momento decisivo para a democracia do país. Os líderes históricos enfrentam a responsabilidade de servir como pontes para o progresso, enquanto os jovens líderes devem assumir um papel ativo na definição de um futuro inclusivo e sustentável.
Para que a transição seja bem-sucedida, é essencial ultrapassar divisões políticas e ambições pessoais, unindo esforços em torno de uma visão coletiva que dê prioridade à unidade, à estabilidade e ao progresso nacional. Com um caminho claro e inclusivo, Timor-Leste tem a oportunidade de se afirmar como um exemplo de renovação democrática no cenário global.
Viva Timor-Leste! Juntos, construiremos um futuro próspero e seguro.
Quintiliano A. Belo, mestrado na área da agricultura e desenvolvimento na Universidade da Gadjah Mada, Indónesia, é um official Senior do Ministério da Agricultura, Floresta, Pecuária e Pescas (MAFPP). É membro ativo do Movimento Timor Avante (MOTIVA), criado em 2023 com o objetivo de preparar os jovens para liderar o país.