Timor-Leste, conforme noticiado por Dr. Elias Ferreira, responsável pelo Instituto Nacional de Estatística (INETL), registou um défice comercial significativo de 787 milhões de dólares americanos em 2024. Isto marcou um aumento notável em relação aos anos anteriores, refletindo uma profunda dependência de bens importados. Em novembro de 2024, as importações do país atingiram os 868.952.829 dólares americanos, enquanto as exportações foram significativamente inferiores, situando-se em 80.977.568 dólares americanos. A forte dependência das importações, incluindo necessidades básicas, combustível, veículos, equipamento elétrico, materiais de construção e até alimentos básicos como o arroz, sublinha as vulnerabilidades económicas do país.
De acordo com vários estudos, as implicações económicas do défice comercial derivam do facto de existir um elevado nível de importações que torna Timor-Leste economicamente vulnerável às flutuações globais do mercado e às perturbações da cadeia de abastecimento. Esta dependência pode, certamente, levar à instabilidade nos preços e à disponibilidade de bens essenciais. Défices comerciais sustentados podem esgotar as reservas cambiais, pressionando a moeda nacional e tornando mais desafiante o pagamento das importações.
No setor agrícola, apesar de possuir terrenos produtivos, a dependência de Timor-Leste do arroz importado realça a subutilização do seu potencial agrícola. O aumento da produção interna de alimentos básicos pode reduzir a dependência da importação e aumentar a segurança alimentar. A base de exportação limitada, constituída principalmente por café, velas, feijão seco e coco dessecado, indica a necessidade de diversificação. Entretanto, não há políticas para diversificar este setor. A expansão para novos mercados e o desenvolvimento de bens exportáveis adicionais é crucial para melhorar o balanço comercial.
Além disso, embora Timor-Leste não tenha dívida externa significativa, os défices comerciais persistentes também impediram o crescimento económico, obrigando o governo a contrair empréstimos. Como tal, a dívida nacional subiu, reduzindo os fundos disponíveis para investimentos em setores críticos, como as infraestruturas, a saúde e a educação.
Agora é tempo de o governo seguir novos caminhos para o desenvolvimento sustentável. Timor-Leste precisa de aumentar a sua produção doméstica. Isto pode ser feito através do desenvolvimento agrícola, onde o Ministério da Agricultura, Pecuária, Pesca e Silvicultura tome a iniciativa de implementar políticas destinadas a aumentar a produção de alimentos domésticos. A falta de atenção nesta área tem prejudicado a subsistência de cerca de 70% da população que reside em zonas rurais e depende da agricultura. Investir em técnicas agrícolas modernas, fornecer subsídios aos agricultores locais e melhorar os sistemas de irrigação pode aumentar a produtividade agrícola e reduzir a dependência das importações de alimentos.
Quem governa o país deve também estar atento às indústrias de valor acrescentado. Incentivar o desenvolvimento de indústrias de valor acrescentado, como a transformação e o acondicionamento de alimentos, pode criar novas oportunidades de emprego e aumentar o valor dos produtos nacionais. Sucessivos Ministros do Comércio têm dado pouca atenção a este setor e não foram tomadas quaisquer iniciativas para colmatar esta lacuna.
Como tal, a diversificação das exportações foi mínima. A gama de produtos de exportação está quase completamente paralisada. Para além do café, Timor-Leste não tem conseguido explorar outros produtos agrícolas e manufaturados que possam ser exportados de forma competitiva. Investir em investigação e desenvolvimento para identificar novos bens exportáveis pode ajudar a diversificar a base de exportações.
Timor-Leste precisa de procurar o acesso ao mercado a nível internacional, diversificando as suas exportações e reforçando as relações comerciais com os parceiros existentes, como os países europeus, a Indonésia, Portugal e a Austrália. A exploração de novos mercados pode abrir caminhos adicionais para as exportações.
Timor-Leste também precisa de atrair investimento estrangeiro. Para tal, é necessário criar um ambiente de negócios favorável através de reformas regulamentares, protegendo os direitos dos investidores e oferecendo incentivos que possam atrair investimento direto estrangeiro (IDE). O IDE pode trazer capital, tecnologia e conhecimentos necessários ao desenvolvimento económico. A atenção neste setor tem sido tão mínima que desencoraja os investidores a investir no país. O governo convidou investidores potenciais para conferências, que depois têm lugar, mas até hoje poucos responderam positivamente.
Além disso, a promoção de parcerias público-privadas pode facilitar o desenvolvimento de infraestruturas e o estabelecimento de indústrias que podem ser introduzidas para impulsionar a produção interna e as exportações. Embora o governo tenha investido muito neste setor, a falta de um ambiente de negócios saudável, de um quadro jurídico adequado e de um ambiente favorável aos negócios desencorajou o investimento direto estrangeiro (IDE).
O governo pretende agora investir na melhoria das infraestruturas de transporte e logística para facilitar o transporte de mercadorias das zonas de produção para as zonas urbanas, reduzir o custo da produção interna e tornar os produtos de Timor-Leste mais competitivos nos mercados internacionais. No entanto, ainda precisam de ser feitos esforços para impulsionar a produção de nível médio para consumo local.
Enquanto o setor energético movimenta a economia, qualquer governo precisa de investir em fontes de energia renováveis para reduzir a dependência do país dos combustíveis importados, reduzir os custos energéticos e promover o desenvolvimento sustentável.
Para além de tudo o que foi dito anteriormente, o reforço do capital humano através da educação e da formação é altamente importante. Investir em programas de educação e formação profissional pode criar uma força de trabalho qualificada, capaz de apoiar diversas indústrias. O desenvolvimento do capital humano é essencial para promover a inovação e impulsionar o crescimento económico. O governo deve agora concentrar-se no capital humano baseado em competências para aumentar a força de trabalho profissional e qualificada, a ser utilizada e também atrair IDE.
Por fim, garantir a saúde e o bem-estar dos jovens é importante. É necessário garantir o acesso a serviços de saúde de qualidade, porque isso é fundamental para manter uma força de trabalho produtiva e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Timor-Leste precisa ainda de trabalhar arduamente para criar um sistema que, por sua vez, ajude o país a resolver a sua economia e o défice comercial.
Para terminar, o défice comercial de Timor-Leste de 787 milhões de dólares americanos em 2024 sublinha os desafios económicos enfrentados pelo país enquanto Pequeno Estado Insular em Desenvolvimento (PEID). Enfrentar estes desafios requer uma abordagem multifacetada que se concentre no aumento da produção interna, na diversificação das exportações, na atração de investimento estrangeiro, no desenvolvimento de infraestruturas e no reforço do capital humano. Ao implementar estas estratégias, Timor-Leste pode trabalhar no sentido de alcançar uma posição comercial mais equilibrada, promovendo o crescimento económico e garantindo o desenvolvimento sustentável a longo prazo. O caminho a seguir exige esforços coordenados do governo, do setor privado e dos parceiros internacionais para construir um futuro resiliente e próspero para Timor-Leste.
Esta opinião é pessoal e não vincula as instituições que o escritor representa.
Dionísio da Costa Babo Soares é académico e político timorense, doutorado em Antropologia pela Universidade Nacional da Austrália em 2003. Atualmente é o Representante Permanente de Timor-Leste junto da Organização das Nações Unidas. Foi ministro dos Negócios Estrangeiros de 2018 a 2020, para além de outros cargos importantes ao longo da sua carreira.
Folgo muito em ler o que o Dr. Dionísio Babo Soares escreveu e que vai no sentido do que muitos outros, incluindo organizações internacionais e alguns observadores — incluindo eu — têm dito ao longo dos anos.
O facto de o Dr. Babo Soares ser um membro proeminente do partido do Governo e tomar estas posições, QUASE COMPLETAMENTE OPOSTAS AO QUE OS GOVERNOS DO CNRT TÊM FEITO AO LONGO DOS ANOS, é muito significativo e muito importante. Infelizmente temo que seja uma voz no deserto pois quem manda já demonstrou ao longo dos anos que é incapaz de compreender estas recomendações e tirar daí as conclusões necessárias para a política económica e para o bem-estar dos timorenses.
Curioso também que estas palavras não entram em choque — pelo contrário — com as do Dr. Aniceto Guterres no seu discurso de encerramento do debate sobre o OGE25.
Enfim, tudo isto parece confirmar que as novas gerações estão preparadas para tomarem BOA conta da governação do país. Ouviram, katuas?!…
Parabéns, Sr Embaixador. Gostei de ler o seu artigo que está bem elaborado, chamando a atenção dos governantes para as áreas mais vulneráveis do processo de desenvolvimrnto de Timor-Leste. É muito importante que a nova geração de quadros reflita, participe, identifique os problemas e as fraquezas que impedem que o país avance.
Que venham mais artigos, mais propostas, mais opiniões, mais reflexões porquê só assim podemos construir um país que sabe o que quer e para onde quer ir
Certo, sra embaixadora. Onde se vê que quando as pessoas têm dois dedos de cabeça e põem os interesses do país e dos seus concidadãos acima dos interr$$e$ pessoais é possível entenderem-se para o be comum.
Concordo com o que diz Dionísio Babo Soares. SUBLINHO a parte que diz: “o reforço do capital humano através da educação e da formação é altamente importante. Investir em programas de educação e formação profissional pode criar uma força de trabalho qualificada, capaz de apoiar diversas indústrias. O desenvolvimento do capital humano é essencial para promover a inovação e impulsionar o crescimento económico. O governo deve agora concentrar-se no capital humano baseado em competências para aumentar a força de trabalho profissional e qualificada, a ser utilizada e também atrair IDE.”
COMPREENDER a importância do capital humano, TORNAR o sistema de educação capaz de produzir pessoas que sejam capazes de produzir (em vez de apenas consumir), reconhecer que o SABER e saber FAZER é o ponto de partida para melhorar o que que que seja. É preciso QUERER e TRABALHAR muito para saber e saber fazer.