Em Timor-Leste, cães são capturados na rua, abatidos e vendidos como RW, um prato tradicional feito com carne de cão. O consumo não é regulado por lei, mas o roubo dos animais enquadra-se como crime. A prática, envolta em tradição, divide a sociedade e levanta questões legais, éticas e de saúde pública.
RW é um prato tradicional feito a partir de carne de cão, cozinhada com uma variedade de especiarias locais. Esta iguaria é particularmente popular em algumas regiões de Timor-Leste, sobretudo durante encontros sociais, festas ou celebrações tradicionais.
Ana Joanita (nome fictício) contou que, ao longo do tempo, passou a obter carne de cão através de pessoas que roubam os animais. Embora prefira não aprofundar o assunto, admite que a venda de RW é um negócio bastante lucrativo, especialmente devido à localização do seu ponto de venda, numa área com muitos consumidores regulares. Além de RW, Ana vende também bebidas alcoólicas, sobretudo a jovens, mantendo este negócio há já vários anos.
“Normalmente, compramos cães a outras pessoas, e quase todos são provenientes de roubo, o que nos permite obter descontos. Depois do processo de preparação, vendemos o RW em pequenas caixas por 2 dólares. Como o nosso local é muito frequentado, vendemos também bebidas alcoólicas. A maioria dos clientes são jovens que vêm para comer RW e beber com os amigos. Outros compram apenas para levar para casa”, explicou.
Um vídeo que circulou nas redes sociais ilustra bem este cenário, mostrando de forma clara como alguns cães são apanhados à força para posterior venda ou abate. O vídeo mostra dois homens a circular de mota a baixa velocidade, até se depararem com um cão. De forma repentina, param a mota e lançam uma corda na direção do animal, que fica preso, apesar de continuar a caminhar. O cão faz um esforço visível para se libertar, mas não consegue. Depois de o capturarem, os dois homens fogem do local. No entanto, é possível ver que duas outras motas os seguem de perto, sem aparente intenção de os perseguir. Nos comentários ao vídeo, muitas pessoas levantam suspeitas de que essas motas possam estar associa das ao mesmo grupo envolvido na captura.

Vazio legal e implicações jurídicas
Em Timor-Leste, após a pesquisa realizada para esta reportagem, não foi possível encontrar qualquer legislação específica que regule o abate, a comercialização ou o consumo de carne de cão. A ausência de enquadramento legal faz com que esta prática se mantenha num vazio jurídico, como se os animais não tivessem qualquer direito ou proteção reconhecida pelo Estado. Esta omissão contrasta com a tendência crescente noutros países asiáticos de debater e legislar sobre o bem-estar animal.
Contudo, em relação ao roubo de cães — frequentemente mencionado por vendedores e ilustrado em vídeos partilhados nas redes sociais — há base legal clara no Código Penal de Timor-Leste. O artigo 251.º define o furto simples como a subtração de um bem móvel alheio com intenção ilegítima de apropriação, sendo punível com pena de prisão até três anos ou multa. A tentativa também é punida. O processo, no entanto, depende de queixa formal da vítima.
Adolfo Soares, investigador jurídico do JSMP (Judicial System Monitoring Program), esclarece: “Atos como roubar um cão e depois vendê-lo a outra pessoa para ser consumido como RW enquadram-se na categoria de furto, conforme estabelecido nos artigos 251.º e 252.º do Código Penal. Estes artigos tratam da apropriação de bens pertencentes a outrem sem autorização, com a intenção de possuir algo que não nos pertence.”
O Código Penal contempla ainda o crime de receptação simples (artigo 271.º), que se refere à aquisição ou receção de bens cuja origem pode ser criminosa, sem verificação da sua legitimidade. A pena vai até dois anos de prisão ou multa. Caso esta prática ocorra de forma repetida ou organizada, aplica-se o artigo 272.º, referente à receptação agravada, com penas entre seis e oito anos de prisão.
“Estes artigos lembram-nos da importância de verificar a origem dos bens que compramos ou recebemos. Caso contrário, podemos ser responsabilizados nos termos da lei. A receptação não se aplica apenas a bens furtados, mas também a outras situações semelhantes”, acrescentou Adolfo Soares.
O ciclo do consumo: do abate ao prato
O processo de preparação começa com a morte do cão, geralmente por espancamento ou esfaqueamento. Uma vez confirmado o óbito, o animal é queimado para remoção da pele. De seguida, abre-se e limpa-se o interior. Depois, a carne é cozinhada com várias especiarias típicas, que conferem sabores intensos, picantes e salgados. Por fim, o prato é embalado em pequenas caixas transparentes e colocado à venda.
Oldenito Maia, natural do município de Ermera, afirmou que não consegue descrever o sabor da carne de cão em palavras, mas que, se pudesse escolher, preferiria este tipo de carne a qualquer outra. “O sabor do RW é único. Prefiro este prato porque é mesmo saboroso. Não sei explicar por palavras”, disse.
Ainda assim, por vezes sente pena dos cães usados para alimentação: “Sinto pena quando penso que são cães, mas depois, quando já são comida, continuo a comer. Acontece muitas vezes — os cães criados em casa acabam por ser utilizados para RW. Durante a preparação da comida, não tenho coragem de olhar”, confessou.
Felisberto Monteiro, do município de Viqueque, acrescenta que o consumo de carne de cão é mais saboroso quando acompanhado de álcool. “Para nós, não é proibido. Os meus irmãos é que não comem porque têm medo. Eu não vejo problema em comer carne de cão, desde que esteja bem cozinhada, é como qualquer outra carne.”
Apesar de, em algumas zonas de Timor-Leste, os cães serem vistos como alimento, noutras são tratados como membros da família, companheiros de brincadeiras, animais de guarda ou simples presenças afetuosas no quotidiano das pessoas. Esta ligação emocional faz com que, para muitas famílias, a ideia de consumir carne de cão seja impensável e até traumática. A crescente urbanização, a influência dos media e o contacto com outras culturas — onde os cães são reconhecidos como animais de estimação e protegidos por lei — têm contribuído para uma mudança de perceção, sobretudo entre as gerações mais jovens.
Maria do Céu, de 29 anos, ama animais, especialmente cães, afirmou que não tem qualquer proibição por parte de ninguém, mas que ela própria decidiu não consumir carne de cão. Isto porque sente uma grande tristeza sempre que vê alguém matar ou maltratar um cão, mesmo que não seja dela.
“Fico extremamente triste ao ver pessoas a baterem em cães, especialmente quando alguém tenta roubar. E ainda mais ao ver alguém matar um cão – sinto como se também morresse e chorasse, mesmo que o cão não seja meu, porque sei que os cães são animais extremamente leais aos seus donos. Momentos tristes como estes fazem-me lembrar do meu próprio cão”, disse ela.
Rogério da Costa, de 35 anos, natural de Soibada, partilha a razão pela qual nunca comeu carne de cão. Para os seus pais, o cão era um animal com um profundo valor simbólico e afetivo. “Quando os nossos cães morriam, os meus pais nunca os comiam, nem os descartavam. Enterrávamo-los. Para eles, o cão era como um amigo — alguém que os acompanhava em qualquer lado, especialmente quando iam para o quintal ou para lugares mais distantes. Não era apenas companhia, era também guia. Quando os meus pais se atrasavam e o cão regressava sozinho, sentíamo-nos aliviados: sabíamos que eles estavam a caminho”, recorda Rogério. “Por tudo isso, decidi nunca consumir carne de cão.”
Um episódio particularmente triste marcou a sua família há alguns meses. Um cão mais velho atacou e matou um cão mais pequeno. Emocionalmente abalado, o cunhado de Rogério decidiu matar o cão mais velho: colocou-o num saco e bateu-lhe até à morte, para depois o cozinhar. “Foi um momento horrível. Eu queria ajudar o animal, mas já era tarde demais. Os meus pais queriam enterrar o cão velho, como era hábito, mas o meu cunhado insistiu em cozinhá-lo. No fim, ninguém o quis comer. Foi tudo muito triste”, recorda, visivelmente comovido.
Implicações sociais e culturais
Apesar da sua popularidade em algumas zonas, o consumo de carne de cão é culturalmente proibido em certas comunidades e casas sagradas, especialmente para as mulheres. Isto demonstra que há variações no consumo consoante o género e as crenças locais.
Nina Brígida, do município de Lautém, contou que nunca provou carne de cão, porque a sua casa sagrada impõe essa proibição: “Desde pequena nunca provei carne de cão. Os meus avós sempre disseram que mulheres e homens não devem comê-la. Se o fizermos, o cabelo pode cair todo e aparecem feridas pequenas”, afirmou.
Adélia Amaral, também de Viqueque, apesar da proibição da sua casa sagrada, decidiu experimentar carne de cão por curiosidade. Teve, no entanto, problemas de saúde. “Eu sabia da proibição, que se aplica apenas às mulheres, mas como não conhecia a razão e estava curiosa, comi. A seguir, a minha barriga inchou como se estivesse grávida e fiquei doente durante três semanas. Tratei-me com remédios tradicionais e recuperei.”
Mais tarde, voltou a consumir carne de cão, acreditando que a doença anterior não estaria relacionada com a carne, mas os sintomas repetiram-se. “Pensei que fosse outra coisa no meu corpo, por isso experimentei novamente. Fiquei doente outra vez. Três dias depois de tomar remédios tradicionais, melhorei. Desde então, nunca mais comi carne de cão”, acrescentou.
Adelino Pinto, jovem de Viqueque, explica que, na sua comunidade, acredita-se que mulheres que consomem carne de cão podem tornar-se agressivas. “Para nós, se uma mulher come carne de cão, passa a comportar-se como um cão — fala de forma rude e gosta de arranjar confusão. Mas no fim, depende da fé e da vontade de cada um.”
Embora os cães sejam vistos por muitos como animais de estimação, parte da família ou até como companheiros, há quem os veja como fonte de alimento. Contudo, em zonas urbanas e entre as gerações mais jovens, o consumo de RW é cada vez menos comum, também porque não é fácil encontrar quem o venda.
A perspetiva cultural: o cão na tradição timorense
Além das proibições associadas a casas sagradas e das variações no consumo consoante o género, o cão tem também um valor simbólico importante em Timor-Leste. O antropólogo Josh Trindade explica como este animal é visto na tradição timorense e o que isso revela sobre a relação entre cultura e alimentação.
Josh Trindade explica que este animal ocupa um papel simbólico associado à proteção e à segurança — uma metáfora profundamente enraizada na visão tradicional sobre os papéis de género.
“Na tradição timorense, chamamos à mulher feto maromak, porque ela é vista como a fonte da vida — é quem dá à luz, cuida dos filhos e garante a continuidade da família. Já o homem é chamado mane asu, pois, segundo a nossa cultura, a sua principal responsabilidade é a segurança, a proteção e a defesa”, afirma.
É neste contexto que surge também o termo asuwain, utilizado para designar os combatentes da resistência timorense, como os da FALINTIL. “Em tétum terik, asu significa cão e wain significa bom. Ou seja, asuwain refere-se àqueles que protegem o povo — os bons cães de guarda. Chamamos mane asu aos homens não como ofensa, mas como reconhecimento do seu papel protetor.”
Josh Trindade recorre ainda a uma metáfora cultural para ilustrar a importância da dignidade feminina: “Porque o homem é visto como um cão, diz-se que a mulher deve proteger a sua carne — símbolo da sua dignidade — e colocá-la onde o cão não a possa alcançar, ou seja, deve preservar e respeitar o seu valor.”
O antropólogo relata também que, em certos rituais, as pessoas se tratam por asu inan (mãe cão) e asu aman (pai cão), numa alusão simbólica ao papel coletivo de guardiões em cerimónias sagradas.
Sobre o consumo de carne de cão, Trindade explica que, em algumas comunidades, este é proibido devido às ligações a casas sagradas ou por razões espirituais. No seu local de origem, por exemplo, comer carne de cão é tabu: “Acredita-se que, se alguém comer, pode começar a desenvolver unhas como as dos cães. Mas mais do que isso, muitos não consomem carne de cão porque o veem como um amigo. Crescemos com eles, criamos laços emocionais. Comer cão seria como comer um companheiro.”
Em certos rituais, afirma, o sangue do cão é utilizado em juramentos simbólicos: “Já presenciei rituais em que o sangue do cão era misturado com tua sabu (uma bebida alcoólica tradicional) e bebido como parte de um juramento de sangue. Quem quebrasse o compromisso seria assombrado pelo espírito do cão.”
Consumo de carne de cão na Ásia: uma tradição em transformação?
A polémica em torno do consumo de carne de cão não é exclusiva de Timor-Leste. Vários países asiáticos, onde esta prática é também tradicional, têm vindo a rever as suas políticas e costumes, impulsionados por transformações culturais, pressão pública e preocupações com o bem-estar animal.
Uma reportagem de 2002 do jornal britânico The Telegraph descrevia de forma crua as práticas associadas ao consumo de carne de cão na Coreia do Sul: “A morte dos cães é tão desumana como a sua criação. Quase todos são espancados até à morte, pois acredita-se que tal estimula a produção de adrenalina, vista pelos homens coreanos como estimulante para a sua virilidade. Uma vez mortos ou quase mortos, os cães são atirados para água a ferver, esfolados e pendurados pela mandíbula num gancho de carne. Muitos cozinheiros usam então um maçarico para lustrar a carcaça.” Este retrato chocante reflete uma realidade que, embora ainda presente em algumas zonas da Ásia, está a ser progressivamente contestada.
Em janeiro de 2024, a Coreia do Sul aprovou por unanimidade no Parlamento uma lei que proíbe, a partir de 2027, o abate, criação, comércio e venda de carne de cão. A decisão representa um marco histórico num país onde, durante décadas, a carne de cão foi consumida como reforço da virilidade masculina — crença refletida em práticas descritas como brutais por organizações de defesa animal e, já em 2002, denunciadas pela imprensa internacional.
Na China, a cidade de Shenzhen tornou-se, em abril de 2020, a primeira a proibir oficialmente o consumo de carne de cão, gato e animais exóticos. A decisão foi tomada na sequência da pandemia de Covid-19 e da suspeita de transmissão de vírus entre espécies, integrando uma restrição mais ampla ao comércio de animais selvagens. Segundo a Human Society International, estima-se que 30 milhões de cães sejam mortos por ano para consumo humano em toda a Ásia.
Também no Vietname, os sinais de mudança começaram a emergir. Em 2021, a cidade turística de Hoi An foi a primeira a comprometer-se com a proibição da venda e consumo deste tipo de carne, em colaboração com a organização Four Paws International. A medida surge num contexto de crescente adoção de cães como animais de companhia e de maior consciência sobre o bem-estar animal. Um inquérito nacional revelou que apenas 6,3% dos vietnamitas ainda consomem carne de cão, enquanto 88% apoiam a sua proibição.
Já na Índia, o estado de Nagaland proibiu, em julho de 2020, a importação, venda e consumo de carne de cão, depois de imagens chocantes de cães amarrados em sacos terem causado indignação nacional. Estima-se que mais de 30 mil cães sejam traficados todos os anos para aquela região, onde são mortos de forma cruel para consumo humano. A proibição, contudo, gerou controvérsia, com algumas vozes a alertar para o impacto nos hábitos alimentares tradicionais de parte da população local.
Impacto para a saúde
A organização internacional de bem-estar animal Four Paws, que trabalha na proteção de animais sob influência humana direta, publicou em 2021 o estudo “O comércio de carne de cão e gato: um risco global para a saúde”.
Segundo esse estudo, como o abate e a preparação da carne de cão e gato não são regulamentados, não há garantias de segurança ou higiene. Isso inclui o risco de contaminação com agentes patogénicos zoonóticos e o uso de substâncias tóxicas, como cianeto de potássio, para imobilizar ou matar os animais.
Além disso, os locais onde esta carne é processada atraem moscas, insetos e roedores, contribuindo para a propagação de doenças. Para além da raiva, o consumo de carne de cão está associado a infeções graves como E. coli e Salmonella spp., comuns em carnes contaminadas, bem como outras doenças de notificação obrigatória: carbúnculo, brucelose, hepatite, cólera e triquinelose.
A diretora nacional de Veterinária, Joanita John, informa que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Pescas (MAPPF), através da Direção Nacional de Veterinária (DNV), está a ponderar a criação de uma lei que proíba o consumo de carne de cão, como forma de prevenir doenças zoonóticas, em especial a raiva, que pode ser transmitida aos seres humanos. Esta medida visa também proteger a saúde pública e alcançar o conceito de One Health, que integra, de forma holística, a saúde humana, animal e ambiental.
“Atualmente, o MAPPF ainda não dispõe de uma legislação específica que regule o consumo de carne de cão. No entanto, tendo em conta a situação do surto de raiva no país, o ministério está a considerar a criação de uma lei que proíba esse consumo, por ser uma potencial fonte de transmissão de doenças zoonóticas. Pretende-se, com isso, reduzir os riscos para a saúde humana e avançar no sentido do conceito de One Health”, explicou Joanita John.
Acrescentou que o Governo de Timor-Leste ainda não possui uma legislação específica sobre o abate e consumo de carne de cão, mas que se prevê, no futuro, a inclusão desta matéria numa estratégia mais ampla, que inclua também o controlo populacional de cães e gatos.
“O Governo ainda não tem uma lei que regule especificamente o consumo de carne de cão nem a gestão da sua população. No entanto, estão a ser consideradas políticas futuras, que incluem o controlo de cães e porcos, para reduzir o risco de propagação da raiva”, acrescentou.
Joanita John sublinha ainda que a DNV tem alertado a população desde o aparecimento da raiva e investido na educação das comunidades sobre os perigos do consumo de carne de cão. “Desde que a raiva se tornou endémica em Timor-Leste, temos vindo a sensibilizar a população para os riscos do consumo de carne de cão. Através de campanhas educativas em várias regiões, estamos a reforçar a atenção da comunidade para as doenças zoonóticas, especialmente a raiva. Em colaboração com veterinários de diferentes municípios, temos promovido a importância da higiene alimentar e da prevenção de doenças”, referiu.
A diretora nacional realça que o consumo de carne de cão representa um risco grave para a saúde humana, sobretudo se o animal estiver infetado com raiva. É, por isso, fundamental que a população esteja informada e atenta a estes perigos. Em caso de suspeita, os casos devem ser imediatamente reportados à DNV.
“O consumo de carne de cão representa um risco elevado para a saúde. Muitas vezes, não se sabe se o cão estava infetado com raiva. O contacto com saliva ou sangue contaminado, especialmente durante o abate ou a preparação, pode levar à transmissão da doença e pôr em risco a vida humana. Por isso, qualquer caso suspeito deve ser imediatamente comunicado à Direção Nacional de Veterinária”, concluiu.
A médica veterinária Carmelita Soares de Jesus, da clínica veterinária Castela, afirmou que a carne de cão não é recomendada para consumo humano, não sendo um alimento nutritivo, nem adequado. Sublinhou ainda que o cão é um animal que, por natureza, acompanha o ser humano e estabelece com ele uma relação de proximidade, pelo que não deveria ser visto como fonte de alimento.
Embora reconheça que a cozedura a altas temperaturas (acima dos 100 °C) possa eliminar microrganismos e tornar a carne aparentemente segura para consumo, Carmelita alerta para o facto de o risco maior estar no momento da matança. “Recentemente, registaram-se vários casos de raiva em Timor. A raiva é uma doença transmitida por cães e pode representar um risco grave para os consumidores — especialmente se a carne for mal processada — mas também para quem abate os animais, pois o contacto da saliva com feridas abertas ou com os olhos pode ser suficiente para transmitir a infeção”, explicou.
A veterinária acrescenta que uma das formas mais eficazes de desencorajar o consumo de carne de cão é através da educação da comunidade. “É essencial informar as pessoas sobre os riscos para a saúde e explicar que o cão não deve ser visto como um alimento, mas como um companheiro que acompanha o ser humano ao longo da vida”, defendeu.
O Diligente tentou contactar a Associação de Médicos Veterinários de Timor-Leste (AMVTL) para obter a sua posição sobre o consumo de carne de cão e os riscos para a saúde pública, mas até ao momento da publicação desta reportagem não obteve resposta.
O mane asu trata muito mal a fetu maromak. Que vergonha.