Uma guitarra que atravessa oceanos: o centenário de Carlos Paredes ecoa em Díli

O Projeto 100 Paredes celebra 100 anos de Carlos Paredes com concertos que unem Portugal e Timor-Leste/ Foto: Diligente

O som da guitarra portuguesa atravessou mares e fronteiras e encontrou nova alma em Díli. No centenário de Carlos Paredes, músicos portugueses e timorenses subiram ao palco juntos, em dois espetáculos que uniram tradição e inovação, notas e poesia, coração e memória. Entre a melodia inconfundível de Paredes e os sons da música local, nasceu um diálogo cultural que transformou o Centro Cultural Português Jorge Sampaio numa verdadeira ponte entre Timor-Leste e Portugal.

O projeto 100 Paredes celebra os 100 anos do mestre da guitarra portuguesa e percorre 15 países ao longo de seis meses, reunindo mais de 40 iniciativas em todo o mundo. Lançado em Portugal, envolveu centenas de artistas, coros, orquestras e comunidades, promovendo concertos, oficinas e ações educativas que reforçam a universalidade da música e o diálogo entre culturas. Em Díli, a iniciativa encontrou nova harmonia ao cruzar a sonoridade de Carlos Paredes com a música tradicional timorense, apresentada em dois emocionantes concertos no Centro Cultural Jorge Sampaio, realizados nos dias 25 e 27 de outubro.

Lançado em fevereiro, o projeto começou em Portugal, envolvendo cerca de 100 atividades em 23 municípios, com a participação de 120 associações e mais de mil artistas. Uma celebração que percorreu palcos, praças e comunidades, evocando o espírito criador e livre do compositor que deu à guitarra uma alma própria.

Mais do que uma homenagem, o 100 Paredes é um gesto de encontro entre tradição e inovação — entre o fado e o futuro. A digressão leva a música portuguesa a diferentes continentes e promove concertos, oficinas e ações culturais e educativas, reafirmando a força da arte como ponte entre povos. Desta vez, foi em Díli que esse diálogo encontrou nova harmonia, ao cruzar-se com a musicalidade timorense.

André Varandas, pianista e diretor artístico do projeto, partilha a visão que o move. “Dedico-me à criação artística com dimensão comunitária. O Bruno Costa, um dos grandes nomes da guitarra portuguesa em Coimbra, representa a herança viva de Carlos Paredes. O centenário foi o ponto de partida — queríamos fazer algo que honrasse o homem e o músico que ele foi”, explicou.

O guitarrista português Bruno Costa, de 44 anos, partilhou a sua paixão pela guitarra portuguesa e pela homenagem a Carlos Paredes, na sequência do projeto 100 Paredes, que está agora em Timor-Leste. “Toco guitarra portuguesa desde os 11 anos e quero ser, de certa forma, um embaixador deste instrumento pelo mundo”, afirmou o músico.

Sobre o conceito artístico, Varandas sublinha que a homenagem não se limita à repetição da obra. “Trabalhamos os arranjos que o Carlos Paredes tocava, mas criámos novas molduras para a sua pintura. Ele próprio não queria ser copiado — queria ser continuado.”

A mesma ideia ecoa nas palavras de Bruno Costa. “O Carlos Paredes dizia que não gostava que o imitassem. Isso dá-nos uma enorme liberdade. Respeitamos a sua obra, mas permitimo-nos recriá-la. Num dos temas, juntámos até um coro, e penso que conseguimos encontrar o equilíbrio entre respeito e criação.”

Comunidades em sintonia: a guitarra portuguesa une povos

Para André Varandas, o propósito do projeto 100 Paredes vai muito além do palco. A ideia, explicou, é revelar toda a amplitude da obra de Carlos Paredes e, com ela, unir comunidades, coros e orquestras locais em Portugal e noutros países.

Bruno Costa partilha a mesma visão. Segundo o guitarrista, o projeto nasceu do desejo de levar a guitarra portuguesa ao encontro de novos públicos, através de concertos, palestras e oficinas comunitárias. “Queremos dar a conhecer este instrumento às crianças, às comunidades locais, trabalhar com músicos dos países por onde passamos. Já o fizemos em São Tomé, na Guiné-Bissau e agora em Timor, esta terra maravilhosa”, contou, com emoção.

O concerto em Díli foi precisamente o reflexo desse processo de partilha. “Hoje integrámos este coro de timorenses que trabalhou connosco. Eles participaram num tema do Carlos Paredes e, depois, a guitarra do Bruno fez parte de uma canção timorense. Essa é a originalidade do projeto — colocar a obra de Paredes ao serviço do diálogo e empurrar-nos a todos a pensar o futuro”, sublinhou Varandas.

Durante a estadia em Timor-Leste, o grupo realizou oficinas criativas com músicos locais, promovendo um intercâmbio artístico de grande riqueza. “Contactámos o Kay, um músico muito reconhecido aqui, que reuniu um grupo excecional. Fizemos uma oficina em que apresentei a guitarra portuguesa, toquei alguns temas, e eles também cantaram e tocaram para nós. Ficámos logo encantados com aquelas vozes e melodias maravilhosas. Foi fácil criar esse encontro, porque somos países irmãos e há uma enorme afinidade artística”, relatou Bruno Costa.

A colaboração com os artistas timorenses condensou-se em poucos dias, mas deixou marcas profundas. “Trabalhamos cerca de uma semana em cada país. Este concerto foi o resultado direto dessa oficina criativa que realizámos juntos”, explicou Varandas, acrescentando que a experiência foi profundamente tocante.

“Trabalhar com o povo timorense foi muito emocionante. Há entre nós uma ligação muito especial. É um povo de sorrisos, de generosidade, de entrega e de humildade, com uma sensibilidade enorme para as artes.”

Timor-Leste em diálogo com a guitarra portuguesa

A emoção atravessou o palco e tocou todos os que assistiram. Entre os momentos mais marcantes do concerto, André Varandas recorda a atuação de uma artista timorense que o comoveu profundamente. “Ver a Febriana declamar um poema de Manuel Alegre que fala de um país livre… Esse país era Portugal, na altura do fascismo, e nós lutámos muito pela nossa liberdade. Ouvir esse poema na voz da Febriana, de uma timorense, e perceber como cabia na perfeição na história e na alma de Timor foi algo de profundamente emocionante”, partilhou o diretor artístico.

Além do concerto com artistas locais, o grupo visitou também uma escola, onde apresentou o projeto e o som singular da guitarra portuguesa. “Tem sido maravilhoso. As crianças ficam curiosas, recetivas… é gratificante ver esse interesse genuíno”, contou Bruno Costa, visivelmente tocado pela experiência.

Para o guitarrista, a digressão tem mostrado “o papel universal da guitarra portuguesa” — um instrumento que, nas suas palavras, “fala todas as línguas, porque fala com o coração”. Bruno confessou ainda que visitar Timor-Leste era um sonho antigo. “Era um sonho vir aqui, e concretizou-se. Timor-Leste é uma terra magnífica, um país lindo. As pessoas são muito queridas, há empatia em todo o lado e não consigo encontrar nada de mau. Só coisas boas. Tivemos a sorte de visitar locais paradisíacos, mas o mais importante é o povo maravilhoso, a quem deixo um grande abraço”, afirmou com um sorriso.

Questionado sobre o que espera do público timorense relativamente ao legado de Carlos Paredes, Varandas destacou a ligação natural entre os dois povos. “Os timorenses têm uma ligação enorme à música, ao povo e à cultura portuguesa. Queremos muito voltar. Sentimos que as pessoas gostaram de nós e têm vontade que regressemos, para trabalhar novamente com as comunidades, com mais tempo e mais calma. Algo me diz que isso vai acontecer”, disse.

Bruno Costa despediu-se de Díli com emoção à flor da pele. “Saio de Timor-Leste com o coração cheio. Levo estas melodias na cabeça, levo a missão cumprida de deixar um pouco da cultura do meu país — mas levo muito mais do que deixo. E vou voltar, de certeza, porque estou apaixonadíssimo por este país”, frisou o guitarrista.

Também André Varandas não escondeu o encantamento. “Esta foi a nossa primeira visita a Timor-Leste, e não será a última”, garantiu. “Conhecia outros países da CPLP — os meus pais são africanos, tenho uma ligação grande à África e à Lusofonia — mas não vinha à espera de uma ilha tão incrível. É lindíssima. O povo é generoso, a cidade vibra de uma forma muito bonita. Tudo é bonito. E a luz… a luz é o que mais me impressiona aqui. Este sol é incrivelmente bonito.”

O projeto 100 Paredes já passou por vários países, mas cada etapa traz novas descobertas. “Fizemos três países muito especiais — São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor-Leste — e seguimos agora para realidades completamente diferentes: Nova Iorque, Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Índia, Macau, Turquia, Polónia. Todos tão distintos entre si, todos únicos. Levamos connosco não apenas música, mas sobretudo a gratidão das pessoas”, concluiu Varandas, com o tom sereno de quem sabe que a arte, quando é verdadeira, não conhece fronteiras.

Homenagem e introspeção: a guitarra como ponte da alma

O diretor artístico André Varandas descreveu o projeto como “uma homenagem a Carlos Paredes, mas também uma viagem interior”.

“Sou diretor artístico de profissão, e um diretor artístico é alguém que agrega linguagens, que lhes dá um sentido estético e assina o concerto por baixo. É um privilégio enorme poder trabalhar com tantas linguagens e culturas diferentes, com tantas disciplinas artísticas — música, teatro, dança, vídeo e poesia”, afirmou.

Para Varandas, “o bem maior é a guitarra portuguesa, o Bruno [Costa] e a obra de Carlos Paredes”, sublinhando que “a obra de Carlos Paredes é profundamente universal”.

O guitarrista Bruno Costa partilha a mesma visão e acredita que as culturas se integram naturalmente através da música. “Todos aprendemos uns com os outros e enriquecemo-nos com essas partilhas de conhecimento e novas sonoridades. A guitarra portuguesa tem um timbre muito próprio — mesmo quem nunca a ouviu recebe o som com alegria, porque é um som agradável, que toca o coração”, destacou.

Falando sobre a parceria com os artistas timorenses, Varandas explicou que o Centro Cultural Português em Díli tem procurado valorizar tanto a cultura local como os criadores timorenses, promovendo a lusofonia sem nunca perder de vista a identidade do país.

Segundo o diretor, o Centro já dispunha de uma rede de contactos locais, o que facilitou a concretização do projeto. “Quando lançámos o desafio, os artistas aderiram com enorme entusiasmo”, contou.

A Embaixada de Portugal em Timor-Leste também desempenhou um papel importante, mapeando artistas timorenses e fornecendo uma lista de opções a partir da qual foram selecionados aqueles que melhor se enquadravam nos objetivos da iniciativa.

Ao recordar a passagem por Díli, Varandas confessou. “Levamos muita vontade de voltar e muita pena de ter sido tão pouco tempo. Acho que deixámos muito por fazer. Levamos connosco uma lufada enorme de generosidade, humildade, energia boa, alegria e felicidade para continuarmos esta jornada de 15 países em cinco meses e meio. É uma loucura — quase não saímos do avião, andamos a saltar de um país para outro — mas levamos muita alegria e o sentido de missão cumprida. Acho que deixámos um bocadinho de nós e levamos muito mais na mala.”

O músico refletiu ainda sobre o verdadeiro legado destas viagens. “O que fica são as pessoas — os amigos que fazemos e que levamos no coração. Vocês, timorenses, têm algo muito especial. Têm o coração no sítio certo, estão muito resolvidos com o vosso propósito. São um povo generoso, sem mágoas, de boa gente, boas pessoas, uma sociedade bonita”, concluiu.

Ao despedir-se de Timor-Leste, Bruno Costa sublinhou o quanto aprendeu com a experiência humana e cultural. “Levo daqui muita humildade. As pessoas são muito afáveis — isso faz-nos lembrar o que realmente importa. Nos países ocidentais andamos sempre apressados e esquecemos o contacto humano. Aqui, percebi que a afetividade é essencial. Levo comigo os sorrisos e a ternura deste povo — são genuínos, são bonitos, e ficam para sempre connosco”, disse, emocionado.

Quando música e poesia se encontram em Timor-Leste

O músico timorense Kay Seran Limak, do grupo Belafonic Ensemble, foi convidado pela Embaixada de Portugal em Díli para participar na digressão internacional dos 100 Paredes.

Segundo Kai, a colaboração surgiu de forma natural entre o Belafonic Ensemble e o mentor do projeto, André Varandas. “Nós trabalhamos sobretudo com instrumentos tradicionais timorenses. Juntámos alunos e estudantes da escola de música tradicional. O André sugeriu que participássemos no coro e interpretássemos variações de Carlos Paredes e, no final, propôs integrar uma música timorense, da autoria de Chico Maulohi”, explicou.

O músico contou que o tempo de preparação foi curto. “A Adida contactou-me há cerca de um mês, e os 100 Paredes chegaram ao país apenas três dias antes da realização do concerto”, relatou.

Ainda assim, a sintonia foi imediata. “Propusemos dois temas de música tradicional timorense, mas o André gostou particularmente do tema de Chico Maulohi — e foi assim que nasceu essa sinergia apresentada no espetáculo”, acrescentou Kai.

Para o artista, a experiência foi “um grande prazer e uma honra”. “Sinto-me profundamente emocionado por celebrar o centenário de Carlos Paredes. É uma grande honra ter tido a oportunidade de participar neste concerto, numa ocasião tão especial, que celebra os 100 anos do grande mestre da guitarra portuguesa”, afirmou.

Kay destacou ainda a importância de iniciativas como esta para o fortalecimento dos laços culturais. “Espero que haja mais sinergias entre a cultura portuguesa e a cultura lusófona como um todo. Timor faz parte dessa génese da lusofonia. Apesar de termos passado por um período de distanciamento, a ligação continua viva”, sublinhou.

O músico defendeu que a língua portuguesa é um elemento essencial da identidade timorense. “Sem a língua portuguesa, é difícil imaginar Timor-Leste. Este tipo de eventos estimula a energia cultural e reforça o contacto com os países da CPLP — de Portugal ao Brasil, dos países africanos de língua portuguesa a territórios como Macau e Goa”, concluiu.

A jovem poeta timorense Febriana Teixeira também subiu ao palco, onde declamou o poema “O Súbito de um Sino”, de Manuel Alegre, acompanhada pelos guitarristas André Varandas, Bruno Costa e Nuno Botelho.

“Fiquei muito, muito honrada, feliz e satisfeita com esta apresentação”, disse emocionada. “O poema representa o modo como os portugueses navegaram até aos países da lusofonia e simboliza também o caminho dos povos que lutaram para ser independentes.”

Febriana destacou o caráter intercultural do concerto, que uniu diferentes expressões artísticas e tradições musicais. “Este concerto foi uma verdadeira mistura de culturas — os timorenses puderam aprender sobre a cultura portuguesa e, ao mesmo tempo, os músicos portugueses puderam sentir os reflexos da música de Timor-Leste”, explicou.

A jovem recordou ainda que o evento deu espaço às sonoridades locais, valorizando o património musical timorense. “Além da música portuguesa, o concerto incluiu também obras timorenses, como a de Chico Maulohi, que trouxe muitas definições e significados para o público”, acrescentou.

Os concertos contaram igualmente com a participação de dois músicos portugueses convidados. André Esteves, perito de Língua Portuguesa no Consultório da Língua para Jornalistas (CLJ), interpretou e cantou o emblemático tema “A Morte Saiu à Rua”, de Zeca Afonso, num momento de forte carga simbólica e emotiva. Já Pedro Lavouras deu voz ao poema “Verdes Anos”, de Pedro Tamen, num registo delicado e poético que acrescentou ainda mais profundidade à celebração musical em torno da obra de Carlos Paredes.

André Esteves descreveu a experiência como “uma mistura de alegria e nervosismo”. Para ele, “foi uma honra pisar o palco com músicos que têm a coragem e o talento para homenagear o nome maior da guitarra portuguesa”. Sobre a interpretação de Zeca Afonso, acrescentou: “Cantar Zeca Afonso é gritar pela liberdade em tempos tão sombrios”.

Emoções que atravessam oceanos: o público sente Carlos Paredes

Para Tomás Cabral da Assunção, um dos participantes no concerto, o maior encanto foi mesmo a guitarra portuguesa.

“Muitas vezes, quando ouvimos fado, prestamos atenção sobretudo ao cantor — mas o fado é muito, se não quase tudo, a guitarra. Gostei imenso de ouvir a guitarra portuguesa, de a deixar soar, de a deixar cantar. E também gostei muito da mistura entre a guitarra portuguesa e as vozes dos artistas timorenses e portugueses”, contou.

Sobre o compositor homenageado, Tomás admitiu que já conhecia o nome de Carlos Paredes, mas não a fundo. “Já tinha ouvido falar dele há uns vinte anos, mas não conhecia muito bem”, confessou.

Quando questionado sobre o que mais o surpreendeu no espetáculo, destacou a qualidade artística e a entrega dos intérpretes. “A novidade foi ver artistas tão excelentes a interpretar Carlos Paredes, a fazer a guitarra portuguesa trinar — é uma forma antiga de dizer, mas muito justa. Foi muito bem tocada, e também os artistas que cantaram estiveram magníficos”, elogiou.

Assistir ao concerto em Díli teve, para ele, um significado especial. “Gostei muito deste concerto. Em Timor-Leste é sempre muito especial, porque aqui sinto-me em casa. Como português, sinto-me sempre muito bem. Ouvir a guitarra portuguesa em Timor-Leste é uma grande emoção — é sempre muito bonito”, afirmou com visível emoção.

Quando questionado sobre o que leva consigo dessa noite, Tomás respondeu sem hesitar. “Levo o coração muito cheio. Não só pelo som da guitarra, pelo concerto em si, mas também pela exposição. Havia vídeos, entrevistas, aprendemos quem foi o Carlos Paredes, a humildade que ele tinha, a luta que travou pelos que mais precisavam. Eu não conhecia, e saio daqui com vontade de conhecer mais.”

Com brilho nos olhos, falou ainda do que espera para o futuro cultural do país. “Quero continuar a ver vida, a ver programas, a ver oferta cultural, encontros de pessoas e de ideias — vidas bonitas, que nos inspiram e nos ensinam. Gostava muito de ver mais noites como esta.”

Tomás sublinhou por fim o papel do Centro Cultural Português em Díli como espaço de encontro e partilha. “O Centro é um lugar excelente para continuar a construir pontes entre Timor e Portugal, entre o tétum e o português — através da música, das vidas e das histórias que nos unem”, concluiu.

Portugal e Timor-Leste unidos pela música: o embaixador elogia a ponte cultural

O Embaixador de Portugal em Timor-Leste, Duarte Bué Alves, classificou o espetáculo do projeto 100 Paredes como “absolutamente maravilhoso” e confessou ter-se surpreendido com a forma como o concerto se desenrolou. “Naturalmente que conhecia o conceito, mas não conhecia a sequência do espetáculo. Foi, portanto, uma surpresa maravilhosa aquilo que assistimos hoje à noite”, afirmou.

O diplomata sublinhou que o interesse do público justificou a realização de dois concertos, no sábado e no domingo. “Quando começámos a organizar, percebemos que a procura era enorme. Dois espetáculos não são demais para homenagear Carlos Paredes, que foi o maestro infinito na relação simbiótica com a guitarra”, afirmou.

Duarte Bué Alves destacou a atuação do grupo como uma experiência que transporta o público para o universo musical do compositor. “Assistimos a uma relação íntima, profunda e dialogante com a música de Carlos Paredes. Mas não foi só isso: este espetáculo é também uma ponte cultural que ligará vários países ao longo da digressão”, explicou.

Para o embaixador, a dimensão intercultural do projeto é um dos seus aspetos mais relevantes. “Vimos um diálogo entre a música e a expressão cultural timorense, incluindo artes plásticas locais. Esta é, de facto, a missão de um centro cultural como o Centro Cultural Português Jorge Sampaio, da Embaixada de Portugal em Díli: ser uma montra da cultura portuguesa, mas abrir-se ao diálogo com a cultura local”, acrescentou.

O diplomata salientou ainda que o concerto reflete o espírito da política cultural portuguesa promovida pelo Instituto Camões, que definiu o centenário de Carlos Paredes como uma das linhas-mestras para 2025. “O espetáculo pretende ser uma montra cultural, com especificidade em cada país, construindo pontes e promovendo o diálogo com a cultura local”, observou.

Embora a promoção direta da língua portuguesa não seja o objetivo principal, Duarte Bué Alves sublinhou que o evento reforça a divulgação da música e da cultura de Portugal. “Talvez Carlos Paredes seja um dos expoentes máximos da música portuguesa”, concluiu, encerrando assim uma celebração que une história, arte e emoção, e que deixa uma marca indelével na memória de Timor-Leste.

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