Suzana Cardoso: “ser membro do Conselho de Imprensa exige experiência, compromisso e coragem para fortalecer a ética e a sustentabilidade no jornalismo”

Suzana Cardoso, fundadora e diretora do Media ONE Timor, eleita Conselheira do Conselho de Imprensa pelos órgãos de comunicação social/Foto: DR

Suzana Cardoso, a primeira mulher jornalista eleita para o Conselho de Imprensa, promete reforçar a ética e a sustentabilidade no jornalismo timorense. Com quase 30 anos de experiência, pretende apostar na formação de jornalistas e no apoio aos meios de comunicação.

Suzana Cardoso, fundadora e diretora do Media ONE Timor, tornou-se a primeira mulher jornalista a ser eleita para representar os órgãos de comunicação social no Conselho de Imprensa (CI) de Timor-Leste. Para o mandato 2025-2029, foram também eleitos Joaquim Coutinho, gerente da Rádio Comunitária Maubisse-Mauloko, e Cesar Mali, correspondente do Kyodo News.

A eleição, realizada de 11 a 13 de dezembro de 2024, foi um marco no setor dos média, consolidando o papel das mulheres em posições de liderança no jornalismo timorense. A nova equipa será formalmente empossada numa cerimónia presidida pela Presidente do Parlamento Nacional, Fernanda Lay.

Com quase 30 anos de experiência no jornalismo, Suzana Cardoso promete uma atuação focada na formação de jornalistas qualificados, na promoção da ética e no fortalecimento dos média independentes. Fundadora do Timor Post e do Media ONE Timor, a sua trajetória é marcada pela dedicação à formação de profissionais de comunicação.

O Diligente conversou com Suzana Cardoso para conhecer as suas motivações, os desafios que o setor enfrenta e as suas metas para o mandato no Conselho de Imprensa.

“O mais importante é representar os média, independentemente de ser homem ou mulher”

O que significa para si ser a primeira mulher jornalista eleita membro do Conselho de Imprensa? 

Para mim, o mais importante é representar os órgãos de comunicação social no Conselho de Imprensa, independentemente de ser homem ou mulher. O que importa é a competência e a capacidade de atuar com responsabilidade. A lei do Conselho de Imprensa e a Lei da Comunicação Social exigem que os conselheiros possuam as competências adequadas para a função.

Este cargo exige capacidade para acolher e apoiar todos os órgãos de comunicação social, sejam eles meios convencionais ou comunitários. O que me motiva é o desafio de garantir que o setor se desenvolva de forma ética e sustentável.

“Quero inspirar mais mulheres a acreditar que têm espaço no jornalismo e na liderança”

De que forma a sua liderança pode inspirar mais mulheres a ingressar no jornalismo ou a ocupar cargos de liderança?

Ser jornalista exige paixão, coragem e dedicação, mas também é preciso ter consciência de que nem sempre há garantias de estabilidade financeira. Esta profissão requer sacrifício e trabalho árduo, mas, em troca, oferece oportunidades de crescimento pessoal e profissional.

Para as mulheres, o setor dos média é um espaço para aprender, evoluir e mostrar a sua força. A minha mensagem para as mulheres que querem ser jornalistas é clara: sejam corajosas, mas também estudem e atualizem os vossos conhecimentos. Coragem sem conhecimento não é suficiente. É preciso ler, aprender e procurar formação contínua.

“Com quase 30 anos de experiência, quero agora contribuir de forma mais ampla para o setor”

Por que decidiu candidatar-se ao Conselho de Imprensa? 

Decidi candidatar-me porque, depois de quase 30 anos de experiência no setor dos média, sinto que é o momento de contribuir de forma mais ampla. Fundei o Timor Post e o Media ONE Timor e, ao longo da minha carreira, participei em várias ações de formação de jornalistas.

Fui uma das fundadoras do Conselho de Imprensa e estive envolvida na elaboração da Lei da Comunicação Social e na criação da Secretaria de Estado da Comunicação Social. Com esta bagagem, sinto que tenho a responsabilidade de fazer a diferença.

A minha prioridade será fortalecer todos os órgãos de comunicação social, especialmente os meios online, que frequentemente enfrentam maiores dificuldades de financiamento e capacitação. Muitos destes meios foram criados por jornalistas que, hoje, precisam de mais apoio para assegurar a qualidade das suas publicações.

“Um conselheiro tem de ser mais do que um técnico, tem de ser um líder e um apoio para os jornalistas”

Quais são as principais qualidades que um membro do Conselho de Imprensa deve ter? 

Ser conselheiro não é só ocupar um cargo, é preciso ter um espírito de serviço e de compromisso com o setor. Não basta ser alguém que começou agora a carreira. É necessário ter conhecimento aprofundado de jornalismo, experiência e vontade de ajudar os colegas.

Os conselheiros precisam de estar prontos para fazer sacrifícios, apoiar a formação dos jornalistas e acompanhar de perto os meios de comunicação social. A ética, o rigor e a responsabilidade são valores fundamentais para exercer esta função.

“A concorrência desleal das redes sociais e a falta de financiamento são os maiores desafios”

Quais são os maiores desafios que os jornalistas enfrentam atualmente em Timor-Leste? 

Os maiores desafios estão relacionados com a concorrência das redes sociais e a falta de financiamento dos meios de comunicação social. As redes sociais são plataformas ágeis, mas também são um terreno fértil para a desinformação e a disseminação de notícias falsas.

Além disso, muitos ministérios e instituições públicas preferem divulgar as suas informações nas redes sociais, em vez de recorrerem aos média tradicionais. Isso enfraquece o papel dos órgãos de comunicação social e reduz as suas receitas.

Outro grande desafio é a falta de profissionais qualificados. Muitas vezes, os jornalistas têm dificuldade em escrever reportagens mais profundas e em produzir conteúdos de qualidade. Isto reflete-se na produção de notícias rápidas e superficiais. Para ultrapassar esse problema, é necessário apostar em formação contínua e no reforço da capacidade de investigação jornalística.

“O Conselho de Imprensa deve aproximar-se mais dos média”

Como avalia o trabalho do Conselho de Imprensa até agora? 

Na minha opinião, o Conselho de Imprensa poderia ser mais próximo dos média. Atualmente, o Conselho só intervém quando surgem casos de irregularidades cometidas por jornalistas, mas não se antecipa para prevenir problemas.

Seria importante haver mais formações especializadas para os jornalistas, por exemplo, nas áreas da igualdade de género e direitos humanos, temas pouco abordados até agora. Além disso, o Conselho deveria realizar visitas regulares aos meios de comunicação social para conhecer as suas dificuldades e apoiá-los de forma prática.

Outro ponto crucial é identificar os meios de comunicação que encerraram atividade e analisar as causas desse encerramento. Isso permitiria perceber como apoiar as empresas de comunicação para que possam manter o seu funcionamento e prestar um bom serviço público.

“Os média precisam de olhar para além da política. As histórias humanas são essenciais”

Que visão tem para o setor dos média no futuro? 

A minha visão para o setor é clara: os média devem ser sustentáveis e focados no interesse público. Para isso, pretendo visitar as redações para compreender as suas dificuldades e, a partir daí, propor soluções. Pretendo também reforçar a formação em gestão de meios de comunicação social, pois a sustentabilidade financeira é fundamental.

Outro objetivo importante é apostar na formação em jornalismo de investigação e reportagens especiais, para garantir uma cobertura mais aprofundada e relevante para a sociedade. O jornalismo de investigação é essencial para o controlo social e a transparência.

“Se o Conselho de Imprensa for forte, garantimos a liberdade de imprensa e de expressão”

Como pretende assegurar a liberdade de imprensa e de expressão no futuro? 

Acredito que a liberdade de imprensa está diretamente ligada à força e autonomia dos média. Para garantir esta liberdade, é necessário assegurar que os meios de comunicação social tenham sustentabilidade financeira e capacitação técnica para produzir conteúdos de qualidade.

Se o Conselho de Imprensa for mais ativo e mais próximo dos média, será possível garantir que as notícias sejam fidedignas e produzidas com responsabilidade. Isso fortalecerá a confiança pública nos órgãos de comunicação social e protegerá o espaço de liberdade de imprensa em Timor-Leste.

O futuro do jornalismo timorense depende do esforço conjunto de jornalistas, conselheiros, órgãos de comunicação social e das autoridades. Todos têm de trabalhar juntos para fortalecer o setor e garantir uma informação livre, ética e de qualidade.

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