Refletindo sobre o 30.º aniversário do genocídio contra os tutsis no Ruanda

Ao longo de 100 dias, mais de 800.000 vidas — principalmente da minoria tutsi — foram brutalmente ceifadas numa campanha orquestrada de violência e desumanização/Foto:DR

Este ano, em que assinalamos 30 anos desde o genocídio de 1994 contra os tutsis no Ruanda, somos obrigados a refletir profundamente sobre o impacto duradouro deste horrível capítulo da história da humanidade. Ao longo de 100 dias, mais de 800.000 vidas — principalmente da minoria tutsi — foram brutalmente ceifadas numa campanha orquestrada de violência e desumanização. Embora tenham passado três décadas, as cicatrizes desta tragédia permanecem gravadas não só na memória coletiva do Ruanda, mas também na consciência da humanidade.

O genocídio contra os tutsis serve como um duro lembrete das consequências devastadoras da indiferença e da inação. O mundo assistiu às atrocidades, mas os atores internacionais não conseguiram intervir. A questão da responsabilização pesa fortemente: quem foi o culpado por não agir?

A comunidade internacional, especialmente as Nações Unidas, enfrentou críticas generalizadas pela sua resposta — ou pela falta dela — ao genocídio. A força de manutenção da paz da ONU no Ruanda, a UNAMIR (Missão de Assistência das Nações Unidas para o Ruanda), foi prejudicada por um mandato limitado e pela falta de recursos. Apesar dos avisos dos comandantes, os pedidos urgentes de reforços e de aumento de autoridade foram ignorados.

Além disso, muitas das nações mais poderosas do mundo fecharam os olhos. As hesitações burocráticas, os cálculos geopolíticos e uma relutância geral em envolver-se no que foi considerado “um conflito interno” atrasaram uma intervenção significativa. Em retrospetiva, a inação da comunidade internacional representou um fracasso catastrófico na defesa dos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e na Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio.

Ao assinalar este aniversário solene, devemos assegurar coletivamente que tal tragédia nunca mais se repetirá. Isto começa com um exame honesto dos fracassos passados e com uma dedicação renovada à proteção dos direitos humanos universais. O princípio da Responsabilidade de Proteger (R2P), adotado pela ONU nos anos que se seguiram ao genocídio, deve ser defendido não apenas na retórica, mas também na ação. Exige que a comunidade internacional atue de forma decisiva para prevenir e pôr termo às atrocidades onde quer que ocorram.

A educação desempenha também um papel crucial. Ao ensinarmos as gerações futuras sobre os horrores do genocídio, honramos a memória das vítimas e cultivamos uma cultura global de vigilância contra o ódio, a divisão e a violência.

O percurso do Ruanda ao longo dos últimos 30 anos tem sido de uma resiliência notável. Através de esforços de reconciliação, de governação inclusiva e de desenvolvimento socioeconómico, a nação tem trabalhado incansavelmente para curar as feridas do seu passado. No entanto, o mundo deve manter-se vigilante no apoio aos esforços do Ruanda e na abordagem das causas profundas de tais conflitos a nível mundial — sejam tensões étnicas, discriminação sistémica ou desigualdade.

Que esta comemoração sirva como um lembrete de que a promessa de “nunca mais” depende da ação coletiva. Juntos, devemos defender a santidade dos direitos humanos, honrar a nossa humanidade partilhada e garantir que as lições do passado orientam as nossas ações para um futuro melhor. As vidas perdidas em 1994 obrigam-nos a confrontar a nossa responsabilidade moral e a trabalhar incansavelmente para salvaguardar a dignidade e os direitos de todas as pessoas, conforme a Carta das Nações Unidas e as convenções internacionais.

Ao recordar o genocídio contra os tutsis, não só lamentemos, como também nos comprometamos a construir um mundo onde tais atrocidades sejam inconcebíveis. Falhar neste esforço seria falhar com a própria humanidade.

Opinião pessoal e não vinculativa das instituições que o autor representa.

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