O projeto FOCO.UNTL encerra oficialmente após mais de cinco anos de trabalho, deixando um legado significativo na promoção da língua portuguesa e no fortalecimento de competências dos professores e alunos timorenses. Parceiros e dirigentes apelam à sua continuidade para garantir avanços duradouros.
Iniciado em julho de 2019, o projeto resulta de uma cooperação entre o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., e a Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL). Apesar de operar com menos recursos humanos do que inicialmente previsto, o FOCO.UNTL superou várias metas e implementou iniciativas inovadoras, como o projeto “Português no Bairro”, jornadas pedagógicas e a publicação de materiais educativos.
Embora contasse com apenas 13 professores nacionais, considerados o maior legado do programa, e 4 internacionais, um número significativamente abaixo do previsto (20 nacionais e 10 internacionais), o projeto FOCO.UNTL conseguiu atingir e, em alguns casos, ultrapassar os resultados esperados.
O projeto realizou atividades que promoveram a língua portuguesa no ensino, nas instituições e na comunidade, como o projeto “Português no Bairro”, seis edições de jornadas pedagógicas, a publicação de livros de resumos, a dinamização de seminários e oficinas, entre outras iniciativas.
Para o vice-reitor para os Assuntos Académicos e de Garantia da Qualidade, bem como coordenador-geral do projeto FOCO.UNTL, Samuel de Sousa Freitas, “o legado que o projeto deixa não são bens materiais, mas sim os docentes nacionais, que estão preparados com a qualidade que vemos aqui”. Segundo ele, para a continuidade do projeto, é fundamental manter o foco na qualificação.
Um dos quatro resultados esperados é o reforço de competências científicas, pedagógicas e comunicativas dos professores nacionais do Centro de Língua Portuguesa. Nesta meta, incluem-se tutorias de língua e codocência, onde os professores nacionais são acompanhados pelos professores internacionais no ensino. Este acompanhamento melhorou significativamente a experiência dos professores nacionais, que consideraram o projeto essencial para o desenvolvimento do ensino da língua portuguesa no país.
Mónica de Araújo, professora convidada do Projeto FOCO.UNTL, mostrou-se grata pela experiência adquirida, destacando que aprendeu bastante sobre como preparar materiais para lecionar, através de tutorias, partilha de materiais, entre outras atividades. Desde que se juntou à equipa, em 2021, também aprofundou o conhecimento sobre a cultura portuguesa, ao comunicar exclusivamente em português com os professores internacionais.
“A minha vida melhorou muito. O projeto é um caminho para desenvolver a língua e atrair o interesse dos estudantes em aprender o idioma,” partilhou a professora. Para ela, as atividades organizadas pelo projeto, como as jornadas pedagógicas, o projeto “Português no Bairro”, a leitura de livros e encenações, têm contribuído significativamente para o desenvolvimento da língua portuguesa em Timor-Leste.
Mónica recordou que, antes de beneficiar do projeto FOCO.UNTL, quando ensinava na UNTL como professora estagiária, não tinha o mesmo domínio da língua que possui agora. Contudo, reconheceu que um dos desafios do projeto é o trabalho árduo, que consome muito tempo, mas que é essencial para alcançar as metas estabelecidas.
“Espero que o novo projeto continue com os programas já realizados, como a certificação, tutorias, codocência e acompanhamento, porque acredito que, para melhorar a qualidade do ensino, é necessário termos alguém a avaliar-nos,” sugeriu Mónica de Araújo.
Quanto à capacitação em língua portuguesa dos alunos da UNTL, o segundo resultado esperado, os objetivos foram superados, com mais de 90 estudantes a beneficiarem dos cursos oferecidos pelo projeto.
Na capacitação do Centro de Língua Portuguesa (CLP) como centro de formação e certificação em língua portuguesa, foram elaborados 9 módulos, totalizando 270 horas de formação, e 9 provas para cada nível de proficiência, exceto para o nível C1. Espera-se que, no próximo ano, o CLP se torne um centro de certificação, sendo o terceiro no mundo, depois de Portugal e Brasil.
Relativamente ao quarto resultado, que abrange a capacitação e certificação linguístico-comunicativa de funcionários de instituições públicas e do público em geral, o número de alunos ultrapassou o dobro do esperado desde 2022. Este facto demonstra que o trabalho do FOCO.UNTL é altamente procurado e que os professores nacionais estão devidamente capacitados para ministrar cursos de língua portuguesa.
As instituições que colaboram com o projeto incluem a UNTL, a Autoridade Nacional de Petróleo e Minerais (ANPM), o Gabinete do Primeiro-Ministro (GPM), o Ministério das Obras Públicas (MOP), o Ministério Coordenador dos Assuntos Sociais (MCAS), a Presidência da República (PR), o Trade Invest, o Colégio Santo Inácio de Loiola, a Embaixada de Portugal e a Fundação Oriente (FO).
Na cerimónia oficial de encerramento do projeto, realizada no dia 21 de novembro, no Auditório da Faculdade de Ciências Sociais da UNTL, os convidados destacaram a qualidade do trabalho desenvolvido ao longo de mais de cinco anos pelos professores do Projeto FOCO.UNTL, bem como os resultados alcançados.
O reitor da UNTL, João Soares Martins, apelou à urgência de iniciar os procedimentos legais para a oficialização do CLP como centro de certificação de competências em língua portuguesa. Paralelamente, enfatizou a importância de o Camões, I.P., e a UNTL firmarem um novo protocolo de cooperação que permita a continuidade do trabalho realizado.
“Pedimos ao ministro do Ensino Superior, Ciência e Cultura que seja criada uma base legal para que o CLP tenha a competência de ser um centro de certificação. Terminámos o projeto, mas a ambição de disseminar a língua portuguesa continua,” afirmou João Martins. O reitor destacou ainda que, se não tivesse participado nos cursos, talvez não falasse português da mesma forma. Referiu-se ao português como “uma língua não estrangeira, mas materna de Timor-Leste”.
A embaixadora de Portugal, Manuela Bairos, realçou que, desde a independência de Timor-Leste, a língua portuguesa continua a ser uma língua de resistência, embora ainda não seja acessível a todos. No entanto, observou que o projeto tem contribuído significativamente para mudar esta realidade.
“As universidades são espaços para fomentar motivação, e o projeto, por si só, pode contribuir para essa inspiração. Deve ser uma referência de valor, identidade e soberania. Vamos repensar os contributos para que uma nova edição deste trabalho seja possível. Um por todos, todos por um,” concluiu a embaixadora.
A cerimónia contou com a presença do ministro do Ensino Superior, Ciência e Cultura, José Honório Jerónimo, da diretora do Centro de Língua Portuguesa, Sabina da Fonseca, de coordenadores de outros Projetos de Cooperação em Timor-Leste, do diretor da Escola Portuguesa de Díli, e de diversas figuras das esferas académica, política, diplomática, religiosa e civil.
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