Grande parte das passadeiras nas ruas de Díli está desvanecida ou simplesmente desapareceu, tornando perigosa a travessia dos peões e aumentando o número de situações de risco. A população exige uma intervenção urgente do Governo e apela à sensibilização dos condutores para o respeito pelas regras de segurança rodoviária.
As linhas brancas pintadas no asfalto, conhecidas como passadeiras de peões, deveriam garantir a segurança de quem atravessa a rua. No entanto, com o passar do tempo e devido à falta de manutenção, muitas destas marcações desapareceram ou estão quase impercetíveis em várias zonas da cidade de Díli. A perda de visibilidade das passadeiras representa uma ameaça real à segurança dos peões.
Em muitos pontos da capital, sobretudo em áreas de grande movimento, como junto a escolas, mercados e escritórios, a inexistência ou degradação das passadeiras dificulta a travessia segura. Como consequência, os peões são obrigados a arriscar-se no meio do trânsito intenso, expondo-se diariamente a situações perigosas.
Os residentes locais pedem que o Governo Municipal de Díli proceda à reposição urgente da sinalização horizontal e assegure uma manutenção regular das passadeiras. Defendem ainda que é essencial reforçar a sensibilização dos condutores para o respeito pelos direitos dos peões e para o cumprimento das regras de segurança rodoviária, de modo a garantir que as passadeiras voltem a cumprir a sua função: proteger vidas.

A falta de passadeiras visíveis representa um risco significativo para os utilizadores destas vias. Trata-se de uma zona muito movimentada, frequentada diariamente por trabalhadores, estudantes e moradores, o que aumenta a probabilidade de acidentes.
Para reforçar a segurança, é urgente que as linhas das passadeiras sejam repintadas e que se adotem medidas complementares, como a colocação de sinais de alerta e iluminação adequada junto às travessias. Estas ações podem ajudar a aumentar a visibilidade e a atenção dos condutores e dos peões, reduzindo o perigo de atropelamentos.
Tarsisio Gonçalves, assistente do programa de educação no CAMSTL, que diariamente conduz a sua mota para o trabalho, partilhou a sua preocupação com o estado da sinalização.
“O sinal da passadeira é muito importante para garantir que os peões atravessem com segurança. Na zona de Caicoli, junto à UNTL, as marcas desapareceram completamente e não sabemos se isso se deve à má qualidade da tinta ou ao tempo decorrido desde a última pintura. O problema é que, ao conduzirmos a alta velocidade, ficamos surpreendidos por ver que as linhas já não existem — e as pessoas acabam por atravessar fora do local indicado”, afirmou.

Foi precisamente numa destas zonas que ocorreu um dos casos mais trágicos relacionados com a falta de segurança rodoviária em Díli.
Há alguns meses, Zizelma Gonçalves, uma jovem de 18 anos, perdeu a vida ao ser atropelada numa passadeira por um condutor que não possuía carta de condução. Apesar de ter sido levada de urgência para o hospital, acabou por não resistir aos ferimentos. O tribunal decidiu suspender a pena do autor do crime, decisão que gerou indignação e tristeza na sociedade timorense. O caso de Zizelma tornou-se um símbolo da insegurança nas estradas e expôs tanto as más condições de trânsito como a fragilidade do sistema judicial no país.
Sónia de Sousa, estudante da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), que se desloca frequentemente a pé, confessou sentir-se traumatizada sempre que se lembra do acidente.
“Sinto-me traumatizada sempre que me lembro do que aconteceu. Quando quero atravessar na passadeira, espero sempre que haja várias pessoas a atravessar primeiro. Não tenho coragem de passar sozinha, porque vejo que as linhas estão a desaparecer cada vez mais”, contou.
A jovem apelou ao ministério competente para que mande repintar urgentemente as passadeiras, recordando que este é um direito básico dos peões. “É preciso repintar rapidamente, porque, se as linhas desaparecerem, os condutores deixam de perceber que existe uma passadeira e, quando os peões atravessam, o risco de acidente aumenta”, acrescentou.

Leonito Soares, segurança num museu e utilizador frequente das passadeiras, partilhou a sua preocupação com a falta de manutenção e com o comportamento de muitos condutores.
“Há cada vez mais transportes e a maioria é conduzida por jovens. Muitos conduzem de forma descuidada, sem prestar atenção às passadeiras. Quando algo acontece, acabamos por culpar-nos uns aos outros, mas a responsabilidade também é do Governo, porque situações como esta não deveriam acontecer. O Governo devia prestar atenção e corrigir estas falhas atempadamente”, afirmou.

Em Fatuhada, existem zonas onde deveriam existir passadeiras, mas onde as linhas já desapareceram quase por completo ou subsistem apenas de forma parcial. Nestes locais, o tráfego é particularmente intenso.
Embora existam alguns sinais de travessia, a sua eficácia é limitada quando não são acompanhados de marcações visíveis no asfalto. Idealmente, cada sinal deveria corresponder a uma passadeira completa e bem pintada, de modo a garantir que condutores e peões reconhecem claramente o espaço destinado à travessia. A repintura urgente das passadeiras e a instalação de sinalização consistente e visível seriam medidas fundamentais para melhorar a segurança rodoviária em Fatuhada.
Jefriano Ramalho, residente na zona, relatou as dificuldades que enfrenta diariamente ao tentar atravessar. “Na nossa área, é muito difícil atravessar nas passadeiras. Muitas vezes, mesmo quando já estamos em cima delas, os veículos não nos deixam passar. A situação não é segura para os peões, sobretudo porque a tinta das passadeiras começou a desaparecer. À noite é ainda pior: há carros e motas que passam a alta velocidade e quase nos atropelam”, contou.

Em Becora, a visibilidade das passadeiras também é cada vez menor, sobretudo na área que dá acesso à Escola Sagrado Coração de Jesus, à estrada principal e ao Hospital de Becora. Durante a noite, as linhas estão praticamente invisíveis, o que representa um risco elevado para os peões e também para os condutores que circulam regularmente por esta zona.
Angelino Carceres, condutor com vários anos de experiência, afirmou estar habituado a conduzir em áreas onde as passadeiras se encontram parcialmente apagadas, mas sublinhou a importância da sua manutenção.
“Embora em alguns locais as linhas das passadeiras já tenham desaparecido, nós, condutores, ainda conseguimos reconhecer onde normalmente elas existiam. No entanto, é fundamental manter esses sinais e repintar as linhas para que todos possamos circular com segurança”, explicou.

Nos semáforos perto do Timor Plaza, a maioria das passadeiras já desapareceu, apesar de estas zonas serem amplamente utilizadas pelos cidadãos para atravessar.
Durante uma conferência de imprensa, a Fundasaun Mahein (FM) salientou que ainda existem muitas passadeiras invisíveis ou completamente apagadas em várias cidades de Timor-Leste, incluindo Díli. A organização advertiu que esta situação tem consequências graves, sobretudo face aos elevados desafios de trânsito, à fraca cultura de segurança rodoviária e ao risco constante para os peões nas áreas urbanas mais movimentadas.
“Muitos condutores não têm conhecimento sobre os direitos dos peões e a maioria não reduz a velocidade, mesmo quando se aproxima de uma passadeira. Os peões enfrentam grande perigo ao tentar atravessar ruas com tráfego intenso”, alertou a FM.
A organização recomendou ao Governo de Timor-Leste que repinte urgentemente as passadeiras, sobretudo nas zonas com maior circulação de pessoas, como escolas, mercados e hospitais. “É necessário dar prioridade a infraestruturas seguras para os peões — incluindo passadeiras claramente marcadas, iluminação adequada, sinais sonoros para pessoas com deficiência e passagens estratégicas em áreas densamente povoadas”, acrescentou.
A FM apelou ainda à PNTL para reforçar a presença policial nas passadeiras e principais travessias, impondo sanções imediatas aos condutores que desrespeitem os direitos dos peões. “A colaboração com organizações comunitárias e escolas em campanhas de segurança rodoviária é essencial, para que possam servir de exemplo e agentes de mudança nas suas comunidades”, concluiu.
Em resposta a estas preocupações, segundo informações obtidas pelo Diligente através de uma estação de televisão independente, durante uma audição pública da Comissão E do Parlamento Nacional, o Ministro dos Transportes e Comunicações, Miguel Manetelu, apresentou esclarecimentos sobre o processo de repintura das passadeiras em Díli.
“Em coordenação com o Ministério das Obras Públicas, surgiram várias questões relacionadas com este tema. Atualmente, algumas estradas de Díli já se encontram em bom estado e, para outras, existem planos de pavimentação que incluem a pintura de passadeiras. O processo foi entregue ao Ministério das Obras Públicas para verificação e já foi analisado pela Direção Nacional de Aprovisionamento (DNA) no que respeita aos custos. O dossiê será agora remetido à Comissão Nacional de Aprovisionamento (CNA) para a abertura do concurso público”, afirmou o governante.
