A depressão pós-parto afeta muitas mães que, após o nascimento dos filhos, enfrentam tristeza, ansiedade e exaustão. Este artigo explora os sinais, causas e impactos dessa condição, destacando a importância de reconhecer os sintomas e procurar apoio para garantir o bem-estar das mães e dos seus bebés.
A gravidez e o nascimento de um bebé são frequentemente associados a sentimentos de alegria e realização. Porém, muitas mães enfrentam uma realidade diferente, marcada por tristeza profunda, ansiedade, angústia, desânimo e dúvidas. Esses sentimentos e pensamentos podem ser mais do que inseguranças, desgaste físico ou alterações comuns de humor e na rotina diante das novidades e mudanças trazidas por essa nova fase. Podem ser sintomas de depressão pós-parto.
No entanto, devido ao preconceito, ao desconhecimento e à idealização do que uma mãe deve ou não sentir, algumas mulheres sofrem em silêncio e culpam-se por não conseguirem corresponder às exigências e expectativas familiares e sociais. Compreender os sinais da depressão pós-parto e procurar apoio são passos fundamentais para a adoção de medidas preventivas e assegurar a saúde mental da mãe, os cuidados adequados ao recém-nascido e o bem-estar da família.
O que é depressão pós-parto?
A depressão pós-parto é uma condição psicológica que afeta algumas mães após o nascimento do bebé. Caracteriza-se por tristeza profunda, falta de energia e dificuldades em cuidar do bebé e de si própria. A depressão pós-parto, atualmente, não é reconhecida como um transtorno separado, mas está associada aos sintomas de um episódio depressivo.
Quais as causas da depressão pós-parto?
A depressão pós-parto pode ser desencadeada por múltiplos fatores que envolvem aspetos biológicos, sociais, familiares, económicos e psicológicos. Entre os principais fatores de risco, que podem atuar de forma isolada ou combinada, estão: alterações hormonais bruscas, stress emocional, falta de apoio social, antecedentes de depressão pessoal ou familiar, dificuldades financeiras, ansiedade durante a gravidez, sedentarismo e alimentação inadequada, experiências traumáticas, privação do sono, conflitos conjugais, cansaço extremo e complicações durante o parto.
Quais os sintomas da depressão pós-parto?
Identifica-se a depressão pós-parto por sinais que podem incluir: tristeza constante, irritabilidade, choro fácil, alterações no sono, mudança nos hábitos alimentares ou falta de apetite, ganho ou perda de peso sem que haja alteração na dieta, desinteresse pelo bebé, dificuldades de concentração, cefaleia e dores no corpo, desmotivação, melancolia, fadiga e falta de energia, indecisão e insegurança, sentimentos de culpa e incapacidade, perda de interesse nas atividades diárias, até pensamentos suicidas. É importante estar atenta aos sinais de ansiedade durante a gravidez, pois este tende a ser um dos primeiros sintomas a surgir neste período.
Como é feito o diagnóstico de depressão pós-parto?
O diagnóstico é clínico e realizado por um profissional da área da saúde. Os sintomas podem surgir durante a gravidez ou entre quatro e seis semanas após o parto (de acordo com os indicadores do DSM-5-TR e da CID-11, respetivamente). No entanto, inúmeros estudos sugerem que a depressão pós-parto pode manifestar-se a qualquer momento ao longo do primeiro ano após o parto. O profissional de saúde utilizará uma série de técnicas e critérios diagnósticos para identificar as causas, a intensidade, o tempo de ocorrência e o tipo de sintomas, a fim de perceber se estes são ou não indicadores de depressão pós-parto.
Há outros problemas psicológicos associados ao pós-parto?
Sim, por isso o diagnóstico deve ser feito por um profissional especializado para que o tratamento seja planeado adequadamente. Há a possibilidade de os sintomas indicarem, por exemplo, blues pós-parto, ansiedade pós-parto, transtorno obsessivo-compulsivo pós-parto, stress pós-traumático pós-parto, pânico pós-parto, entre outros.
O que significa blues pós-parto?
A disforia puerperal, também conhecida como blues pós-parto, baby blues ou tristeza pós-parto, é uma condição temporária e com sintomas menos intensos do que a depressão pós-parto. Geralmente surge entre o primeiro e o quarto dia após o parto, caracterizando-se por tristeza, choro fácil, preocupações exageradas com a saúde do bebé, dificuldade de concentração e alterações nos hábitos alimentares e de humor. Sem tratamento, o blues pós-parto tende a desaparecer sozinho entre uma a duas semanas.
Como é feito o tratamento da depressão pós-parto?
Após a confirmação do diagnóstico e a devida identificação das causas, fatores de risco, tipo e intensidade dos sintomas, o tratamento pode incluir acompanhamento psicológico, alterações no estilo de vida, suporte social e económico e, em certos casos, a administração de medicamentos, como antidepressivos ou ansiolíticos.
Homens podem ter depressão pós-parto?
Sim, os homens também podem experienciar depressão pós-parto, embora seja menos comum e frequentemente subdiagnosticada.
Quais as causas da depressão pós-parto em homens?
As causas incluem alterações na rotina de vida, aumento do stress e da responsabilidade, problemas no relacionamento, falta de apoio emocional, dúvidas intensas sobre a sua capacidade de ser pai, problemas financeiros, medo de rejeição da parceira e, por vezes, predisposição genética ou hormonal.
Quais os sintomas da depressão pós-parto em homens?
Nos homens, os sintomas podem manifestar-se como irritabilidade, fadiga, distanciamento emocional, falta de interesse pelo bebé e pela parceira, baixa autoestima e, em alguns casos, abuso de substâncias.
Sinto-me triste e desanimada, isto significa que estou com blues pós-parto ou depressão pós-parto?
De forma alguma. A gravidez desencadeia uma série de mudanças físicas, hormonais, emocionais e na dinâmica familiar. É comum as mulheres experienciarem sentimentos contraditórios, terem dúvidas, medos, ansiedades, fadiga física e oscilações de humor ao longo desse período. No entanto, se esses sentimentos se tornarem intensos, persistentes e afetarem o seu bem-estar, pode ser um sinal de que algo não está a correr bem.
As regras sociais e culturais têm algum impacto na depressão pós-parto?
Os fatores culturais e sociais desempenham um papel importante na ocorrência e na experiência da depressão pós-parto. As exigências sociais e idealizações em torno da maternidade podem gerar expectativas irreais e provocar sentimentos de inadequação e culpa. Em Timor-Leste, por exemplo, há alguns fatores de risco que dificultam o reconhecimento dos sintomas e a busca por ajuda. Entre eles estão o estigma associado aos problemas de saúde mental, a sobrecarga de responsabilidades (como cuidar da casa, atender às expectativas do marido, trabalhar em turnos duplos ou ter de abrir mão do trabalho, cumprir deveres familiares e algumas obrigações ligadas à Lisan), a interrupção dos estudos para cuidar do bebé, a dependência financeira, a pressão para ter filhos (de preferência o primogénito do sexo masculino) ou para manter a gravidez mesmo quando não desejada, a perceção de problemas psicológicos como punições espirituais, a pouca autonomia das mulheres sobre o próprio corpo e o preconceito contra mulheres solteiras que engravidam. Além disso, a falta de apoio social, tanto familiar como comunitário, pode agravar a situação, tornando mais difícil para as mães lidarem com as mudanças e desafios do pós-parto. Assim, o contexto cultural e social, pode influenciar a prevalência da depressão pós-parto.
A prevenção da depressão pós-parto pode centrar-se em programas que invistam na redução das vulnerabilidades e dos fatores de risco, na partilha de informações, na identificação precoce dos sintomas, no incentivo à procura de apoio profissional e na facilitação do acesso aos cuidados de saúde. É importante que as mulheres se sintam à vontade para falar sobre as suas experiências, dúvidas e preocupações, sem receio de críticas ou punições. Programas de apoio psicológico, orientação pré-natal e redes de suporte social podem também ajudar as mães (e futuras mães) a compreender as dificuldades da maternidade e os sentimentos que a acompanham, além de fornecer estratégias eficazes para enfrentar as pressões sociais e culturais.