Em Timor-Leste, apesar das dificuldades, os professores continuam a ser pilares da educação, moldando o futuro. As vozes ouvidas destacam a necessidade de melhorar a qualidade de ensino e de valorizar a carreira docente, enquanto os desafios como a falta de recursos e o baixo salário persistem.
No Dia Mundial do Professor, celebrado hoje, dia 5 de outubro, o Diligente conversou com professores e alunos para entender a importância desta profissão fundamental para o desenvolvimento das sociedades. Mais do que simples transmissores de conhecimento, os professores são guias e educadores de futuras gerações. Através das suas vozes, compreendemos como, apesar das dificuldades, a dedicação e o empenho destes profissionais moldam o futuro, inspirando cidadãos a serem agentes de mudança no mundo.
Todos os entrevistados concordam que os professores desempenham um papel essencial, reconhecendo, no entanto, a necessidade de se melhorar a qualidade da educação, dado que são eles que moldam o futuro do país.
A forma como os professores ensinam tem um impacto profundo na relação dos alunos com as disciplinas. João Fátima de C. Soares, de 7 anos, aluno do 1.º ano no Ensino Básico Filial (EBF) 1.º e 2.º Ciclo Nuu Laran, em Díli, afirma que a sua disciplina favorita é o português, “porque a professora ensina bem”. Com a determinação própria de uma criança, João já sabe o que quer para o futuro: ser polícia.
Safeisa Soriano, de 11 anos, aluna do 6.º ano da mesma escola, também aprecia as disciplinas de português e matemática, porque, segundo ela, os professores “ensinam com calma e não nos castigam quando cometemos erros.”
Apesar de muitos professores se terem formado em universidades timorenses, as críticas sobre a qualidade do ensino persistem. O Governo afirma estar a trabalhar para melhorar a qualidade dos educadores através de um sistema de recrutamento baseado no mérito. Alguns já foram colocados nas escolas, enquanto outros continuam a aguardar.
Na EBF Nuu Laran, às 10h30 da manhã do dia 4 de outubro de 2024, após o recreio, muitas crianças ainda vagueavam pelos corredores e nas imediações da escola, enquanto as aulas já tinham começado. Alguns professores estavam doentes, deixando os alunos a brincar sem supervisão. À porta do seu gabinete, o coordenador da escola, Zeferino Verdial, com um semblante triste e irritado, observava os alunos que o ignoravam, tal como a jornalista que caminhava pelos corredores.
Em conversa com o Diligente, Zeferino contou que começou a trabalhar na escola no início do ano, depois de ter sido transferido da escola privada Sagrado Coração de Jesus, em Becora. Notou uma diferença significativa, lamentando a falta de uma estrutura administrativa eficaz: “Estou a gerir a escola enquanto tento disciplinar os alunos, que discutem todos os dias, com alguns a ficarem até feridos”, desabafou.
No ensino básico e secundário, o salário continua a ser um dos maiores desafios para que os professores desempenhem as suas funções de forma adequada. O salário mínimo mantém-se inalterado desde 2012, quando a Comissão Nacional de Trabalho (CNT) o fixou em 115 dólares americanos. Com a inflação, este valor perdeu 22,5% do seu poder de compra, conforme indica um relatório económico do Banco Mundial, publicado no passado mês de agosto.
A proposta do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2025, com um montante de 2,6 mil milhões de dólares americanos, aprovada pelo Conselho de Ministros a 30 de setembro, destina 145,8 milhões (5,6% do total) à construção de novas escolas, formação de professores e ao fortalecimento do sistema de gestão educativa. A percentagem de investimento voltou a descer para 5,6% do total do OGE previsto para 2025, após ter atingido 10,1% em 2024.
“O papel dos professores é transmitir conhecimento, facilitar um ambiente propício ao ensino e à aprendizagem, avaliar e fazer autoavaliação, e tentar sempre formar alunos críticos, analíticos e capazes de resolver problemas”

“Ensino do 1.º ao 3.º ciclo há quase 5 anos. Gosto de ser professor porque sempre me fascinou a ideia de partilhar conhecimento com os outros. É uma profissão digna, pois o professor é um agente da educação, um setor essencial. O cientista Paulo Freire refere que a educação não transforma o mundo, mas muda as pessoas, e as pessoas transformam o mundo.
O papel dos professores é transmitir conhecimento, facilitar um ambiente propício ao ensino e à aprendizagem, avaliar e fazer autoavaliação, e tentar sempre formar alunos críticos, analíticos e capazes de resolver problemas.
Ser um bom professor implica estar capacitado, ser inteligente, criativo e ativo, continuar a aprender, inovar e adaptar-se às necessidades atuais. Eu e os meus colegas organizamos debates e exposições científicas, que são oportunidades de prática e de despertar curiosidade. Devemos interagir bem com os alunos, dar mais atenção aos que mais precisam, ser pacientes, motivadores e guias para o futuro, mostrando-lhes diferentes saídas profissionais, para que possam tomar decisões bem ponderadas.
Os alunos são todos diferentes. Para lidar com certas atitudes, não devemos recorrer à violência. Primeiro, aproximo-me das crianças como um amigo, para entender a raiz do problema. Dominar a aula é crucial, pois há momentos em que os alunos ficam aborrecidos. Devemos cativá-los com atividades interessantes, como jogos e histórias, para atrair a sua atenção. Motivo-os falando da economia familiar, do sacrifício dos pais para que possam frequentar a escola.
Se fazem barulho, fico calado e deixo-os. Eles acabam por parar e ouvir. Acredito que a indiferença de alguns alunos pode vir do ambiente em que vivem, especialmente se não recebem a devida atenção dos pais e da família.
Os problemas que enfrento são as dificuldades em transmitir conhecimentos de forma eficaz. A falta de materiais didáticos prejudica o plano de ensino, pois perdemos tempo a copiar apontamentos do quadro para os cadernos. Os materiais didáticos estão desatualizados, com conteúdos desorganizados e, muitas vezes, não se adaptam às condições de Timor-Leste.
Ainda há professores que acreditam que se deve usar violência para educar alunos que têm comportamentos difíceis, mas há muitas formas de lidar com essas situações. É necessário melhorar a qualidade dos professores e recrutar aqueles que trabalham com dedicação. O nepotismo faz o oposto. Sugiro a nomeação de um inspetor independente para gerir melhor os recursos humanos no setor da educação.
O salário continua a ser um desafio, pois é muito baixo. 270 dólares por mês só dá para sobreviver durante duas ou três semanas. O salário máximo que um professor com décadas de experiência e grau de mestrado pode receber ronda os 700 dólares. Alguns abandonam a carreira e vão para o estrangeiro. Os professores devem ser valorizados, pois são fundamentais para o desenvolvimento da economia e dos outros setores, que têm origem na educação.”
“Para elevar a qualidade do ensino, é essencial investir em atividades laboratoriais que permitam aplicar os conteúdos teóricos”

“Quero ser professor porque desejo transformar a educação, passando de uma abordagem quantitativa para uma abordagem qualitativa. O professor é o guia que ajuda os alunos a crescerem, passando da inocência à experiência. Tive professores que não conseguiam cativar os alunos, concentrando-se apenas em completar o programa. Quero mudar isso. Temos muitos estudantes e muitos professores, mas o nosso objetivo é não apenas aumentar a quantidade, mas também melhorar a qualidade. Trabalhamos diariamente para nos aperfeiçoarmos e, assim, melhorar o sistema educativo em Timor-Leste.
Para elevar a qualidade do ensino, é essencial investir em atividades laboratoriais que permitam aplicar os conteúdos teóricos. O método de ensino tradicional, baseado no discurso, já não atrai os alunos. É necessário substituí-lo por métodos de demonstração e experimentação, que envolvam os estudantes de forma mais ativa. Para isso, é fundamental obter financiamento para adquirir materiais, como réguas, fitas métricas e eletromagnetos na disciplina de Física, para que os alunos possam conhecê-los e aprender a usá-los.
A atitude e a abordagem dos professores têm um grande impacto no interesse dos alunos pela aprendizagem. Durante o Estágio Pedagógico II, que fiz durante seis meses na Escola Secundária 10 de Dezembro, em Díli, aprendi a ensinar alunos do 10.º ano e a motivá-los a interessar-se pela Física. Os estudantes mostraram-se satisfeitos e, mesmo após o fim do estágio, continuam a pedir-me aulas extra.
Procurei aproximar-me dos alunos que tinham dificuldades em compreender a matéria, para que pudessem partilhar os seus desafios. É essencial refletirmos sobre como despertar o interesse dos estudantes pela ciência.
Para lidar com comportamentos inadequados, costumava dar trabalhos de casa como sanção, explicando que a falta de cumprimento afetaria a nota final. Quando a má atitude persistia, tentava abrir-lhes a mente, incentivando-os a refletir sobre a importância da escola, sobre os sacrifícios económicos dos pais e sobre a necessidade de jovens inteligentes e qualificados para o desenvolvimento do país. Muitos dos meus alunos frequentavam a escola sem aproveitar as aulas. No entanto, alguns demonstraram interesse e até venceram um concurso de Física.”
“O salário deve ser aumentado, pois é a base de todas as outras profissões. O Governo também precisa de apoiar com materiais didáticos, limitar o número de alunos por turma e construir mais infraestruturas”

“O papel do professor é levar os estudantes a conhecer o mundo. Desde criança, sempre quis ser professora, porque admirava a postura e a forma como uma professora ensinava. Ela fazia-me compreender as matérias e ajudava os alunos com mais dificuldades. Durante o estágio, ensinei Ciências Naturais, Física, Educação Artística, Língua Portuguesa e Tétum a uma turma do 1.º ano.
O ambiente influencia muito o desenvolvimento dos alunos. É necessário que as famílias, as escolas e a comunidade trabalhem em conjunto. Alguns estudantes não se sentem motivados para entrar na sala de aula porque se aborrecem. Devemos usar métodos diversificados para captar o interesse, como contar histórias e realizar jogos. Um professor deve dominar a turma e conhecer os seus alunos individualmente. Se eles não quiserem ouvir, devemos falar com paciência, não com violência. Quando os alunos têm dificuldades, devemos dar-lhes mais atenção, oferecendo aulas extra.
Há estudantes que têm um sonho desde cedo, enquanto outros frequentam a escola por obrigação. No entanto, os objetivos de vida podem desenvolver-se ao longo do percurso. Houve uma situação em que, durante um exame, um aluno desenhou insultos na folha de resposta, talvez por não saber responder. Não sei se a culpa foi dos professores, que não ensinaram bem, ou do aluno, que não quis aprender.
Os professores enfrentam muitos problemas, como o salário baixo, que os obriga, por vezes, a criar gado para conseguir sobreviver. O salário deve ser aumentado, pois é a base de todas as outras profissões. O Governo também precisa de apoiar com materiais didáticos, limitar o número de alunos por turma e construir mais infraestruturas.”
“No futuro, quero ser médica, por isso preciso de estudar muito, especialmente Biologia, e os professores são muito importantes para nos ajudarem a aprender”

“Gosto mais de Ciências Naturais porque aprendo sobre desastres naturais e que não devemos deitar lixo em qualquer lugar ou queimar árvores, e também gosto de Matemática, porque gosto de fazer divisões. No futuro, quero ser médica, por isso preciso de estudar muito, especialmente Biologia, e os professores são muito importantes para nos ajudarem a aprender.
Aqui, vi que muitos alunos não respeitam os professores, pois, mesmo quando lhes é pedido para entrarem na sala de aula, continuam a brincar lá fora. Acho que os professores devem ser mais firmes com os alunos mais difíceis. Antes, muitos colegas gostavam de gozar com as pessoas que passavam perto da escola, mas agora temos um portão e isso já não acontece.”
“O professor é fundamental, porque, através de uma boa educação, conseguimos desenvolver setores essenciais como a saúde, a agricultura e muitos outros”

“Sou professora desde 1982, quando fazia voluntariado no mato durante três anos. Depois de ter sido capturada pelos militares indonésios, fui levada para a cidade, onde continuei a ensinar até hoje. Desde criança, sempre gostei de ser professora. Sinto-me feliz a ensinar e nunca me sinto cansada. Atualmente, estou à espera da reforma, que o Governo está a tratar.
O professor é fundamental, porque, através de uma boa educação, conseguimos desenvolver setores essenciais como a saúde, a agricultura e muitos outros. A profissão é valorizada pelas pessoas. Trabalho há 42 anos e, atualmente, recebo um salário de 425 dólares. No entanto, quando penso no passado, recordo o nosso compromisso de servir o país sem esperar nada em troca.
A educação evoluiu ao longo dos anos. Antigamente, recorríamos à violência para disciplinar as crianças, mas hoje, para lidar com alunos desobedientes, optamos por nos aproximar deles, conversar, brincar juntos e, acima de tudo, ter paciência. No futuro, quando me reformar, ficarei contente, pois poderei descansar, ver os netos, cuidar da minha saúde e passar mais tempo com os meus filhos.”
O professorado e um sacerdocio.
Nos dias de hoje o professor tem de usar muitos exemplos de factos da vida, a chamada analogia.
O sector privado pode e deve desenvolver um papel importante em termos de material didatico.
Um aspecto negativo no nosso TL e que os professores tem de colmatar lacunas de educacao civica que cabe ao agregado familiar, pai e mae. De pequenino se torce o pepino. A educacao comeca em casa no berco!
O saber nao ocupa lugar mas pode ter um peso positivo no futuro de um povo.