Cerca de 600.000 pessoas participaram na missa celebrada pelo Papa Francisco em Tasi-Tolu. Na homilia, o Papa elogiou a beleza e juventude do país, apelando ao cuidado das crianças e idosos e sublinhando a importância de uma sociedade atenta aos mais vulneráveis.
A partir das 5h da manhã, os timorenses começaram a caminhar em direção a Tasi-Tolu, ansiosos por participar na missa solene celebrada pelo Papa Francisco. Pessoas de todas as idades carregavam água, alimentos e outros artigos essenciais, movidas pelo entusiasmo e pela esperança. “Que a vossa Fé seja a vossa cultura” era a frase inscrita nas camisolas brancas que muitos vestiam, simbolizando o espírito da ocasião.
Apesar dos portões do recinto da missa só abrirem mais tarde, muitos chegaram cedo, aguardando pacientemente. A Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL), as F-FDTL e grupos de voluntários coordenavam a entrada e organizavam os fiéis, que continuavam a caminhar em direção ao local. A missa estava marcada para as 16h, mas os peregrinos, movidos pela fé, não se importavam com o tempo de espera. Enquanto isso, o Papa Francisco encontrava-se com crianças com deficiência na Escola Alma, na Praia dos Coqueiros, e com outros grupos religiosos na Catedral Imaculada da Conceição.
Às 7h, a cerimónia começou com a entrada dos peregrinos em Tasi-Tolu, onde as bandeiras do Vaticano foram içadas. Apesar das temperaturas acima dos 30°C, o entusiasmo dos fiéis manteve-se elevado, com o apoio musical de bandas locais como Lulik, Dame e Alcatraz. Vieram de todas as regiões do país, incluindo a Região Administrativa Especial Oecússe-Ambeno, e também da Nusa Tenggara Timur (NTT), na Indonésia, num total de 164.777 peregrinos registados. Estima-se que, até às 10h, cerca de 600.000 pessoas já estivessem presentes no local. Com 97,5% da população timorense sendo católica, de acordo com os dados do censo de 2022, a adesão foi massiva.
Ao meio-dia, os fiéis rezaram o Angelus, e, às 15h30, sacerdotes e religiosas conduziram a oração do Rosário, seguida do cântico “Avé Maria”. O momento culminante foi a chegada do Papa Francisco, aclamado por “Viva o Papa!” quando entrou no recinto. O ambiente era de pura emoção. Representantes dos grupos culturais timorenses ofereceram presentes ao Santo Padre, incluindo um pequeno tais, enquanto o som do huu karau dikur (o chifre do búfalo) anunciava a sua entrada no altar.
A missa, celebrada em português e com excertos em espanhol, foi um marco espiritual para todos os presentes. O Papa Francisco, na sua homilia, refletiu sobre a passagem bíblica “Um filho nasceu para nós, um filho nos foi dado”, do profeta Isaías, e destacou os perigos da autossuficiência e do egoísmo dos poderosos, que, apesar da riqueza material, deixam os mais pobres na miséria. “Há muita riqueza, porém o bem-estar cega os poderosos, iludindo-os com a ideia de serem autossuficientes, de não precisarem do Senhor e a sua presunção leva-os a serem egoístas e injustos”. Neste sentido, sublinhou ainda a importância da humildade e da necessidade de conversão, apelando ao regresso à pureza e à simplicidade, e elogiou a juventude vibrante de Timor-Leste, símbolo de esperança e renovação.
“Timor-Leste é belo porque tem muitas crianças. A presença de tantos jovens é um dom e um sinal de esperança”, disse o Papa, reforçando a mensagem de acolher os mais pequenos e de viver com humildade perante Deus e os outros. “Olhem para as crianças, mas também olhem para os velhos, uma vez que fazem parte da memória desta terra. Obrigado. Obrigado pela bondade, obrigado pela fé. Avancem com esperança”, disse o Papa.
O Papa também destacou dois símbolos importantes da cultura timorense: o kaibauk e o belak, que representam a força e a ternura, respetivamente. Estes adornos, feitos de metal precioso, simbolizam a realeza de Deus, marcada pela caridade e misericórdia.
No final da missa, o Cardeal Virgílio do Carmo da Silva expressou o seu agradecimento ao Papa Francisco, afirmando que a visita do Santo Padre era um sinal da proximidade de Deus com o povo simples e humilde de Timor-Leste. Também destacou a importância da cooperação entre o Estado e a Igreja no processo de construção da identidade nacional.
Após a missa, Pedro Monteiro, um peregrino de 47 anos da Diocese de Maliana, partilhou a sua alegria por participar no evento. “Sinto-me muito feliz. Ver o Papa, que é tão simples e humilde, é uma bênção”, disse Pedro, que chegou ao local às 4h da manhã após uma longa caminhada. Apesar da fome e da espera, a felicidade de estar presente superou qualquer desconforto.
“Espero que a visita de três dias do Papa Francisco em Timor-Leste possa motivar o nosso Governo a ajudar o povo a superar a pobreza e as dificuldades”, sublinhou. O peregrino caminhou durante 2 quilómetros, desde Liquiçá até Tasi-Tolu. “Apesar de rápida, esta visita é muito valiosa para o povo de Timor-Leste. Quando estávamos sob a ocupação indonésia em 1989, o Papa João Paulo visitou o nosso país para rezar connosco e conseguimos a independência”, frisou.
Olinda Pinto Doutel, de 46 anos, da Diocese de Díli, também se mostrou emocionada por ter recebido a bênção do Papa. “Senti que Jesus veio a Timor-Leste através do Papa Francisco”, afirmou com gratidão.
A visita do Papa Francisco deixou uma marca profunda no coração dos timorenses, com a esperança de que inspire o Governo a trabalhar em prol de um futuro melhor para todos.
Nao existe maior pureza e simplicidade que a do POVO de TL!