Deslizar sobre as águas cristalinas, sentir a brisa do mar, observar a vida marinha e exercitar o corpo e a mente são algumas das razões que tornam o caiaque uma experiência única e inesquecível.
“Sinto-me fantástico. Na verdade, é uma atividade relaxante. Claro que cansa um pouco, porque movimentamos os braços, mas podemos parar sempre que quisermos. Basta relaxar e observar a água, aproveitando o sol e a paisagem.Tudo é verde, e Timor-Leste é ainda mais bonito visto do mar.”
Quem o diz é Levente Solyom, natural da Hungria, que no dia 22 de fevereiro experimentou o caiaque na Areia Branca, em Díli, com vista para o emblemático Cristo Rei. O caiaque é um desporto aquático que utiliza uma embarcação estreita movida a remos.
Embora já tivesse experiência em águas doces, onde os barcos tendem a ser menos estáveis, Levente confessou que estava um pouco nervoso. No entanto, surpreendeu-se ao perceber que conseguia saltar para a água e voltar a subir para o caiaque sem virar o barco ou molhar os seus pertences.
“Quando entrámos na água, fizemos snorkelling sobre o recife de coral. Fiquei maravilhado com a beleza dos corais e da vida marinha. Não esperava ver tantos peixes, estrelas-do-mar e corais”, partilhou.
A sua jornada começou na praia de Areia Branca, passou pelo Cristo Rei e seguiu até Dolok Oan, do outro lado do Cristo Rei, onde a água cristalina e a abundância de vida marinha enriqueceram ainda mais a experiência. “Não era muito profundo, por isso, consegui tocar no fundo do mar. Foi uma experiência fantástica. Gostei muito!”, recordou.

Embora tenha ficado encantado com a natureza e paisagem de Timor-Leste, Levente não deixou de notar um contraste marcante na capital: o lixo e a desigualdade social. “Principalmente quando vi as famílias mais pobres nas zonas rurais de Díli. Timor-Leste tem muito potencial e recebe bastante apoio de outros países, mas algo está a falhar para que tantas pessoas ainda não tenham comida suficiente”, observou.
Caiaque: uma aventura acessível a todos?
Ao contrário do que muitos pensam, praticar caiaque não exige saber nadar. Os participantes ficam a bordo e só entram na água se quiserem, sempre equipados com coletes salva-vidas. Quem quiser, pode levar um tubo de respiração para complementar a experiência com snorkelling.
Carlos de Jesus Guterres, funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (MNEC), recorda com entusiasmo a primeira vez que experimentou caiaque, no ano passado. Antes de entrar na água, recebeu instruções do instrutor Andy Miller sobre como usar o colete salva-vidas e remar corretamente.
“Se houver uma corrente forte, devemos continuar a remar. Aprendi a manter o equilíbrio no caiaque e a manter a calma em situações mais desafiantes”, contou. Para ele, a atividade é uma excelente forma de exercitar o corpo e a mente. Carlos incentiva os timorenses a experimentarem, garantindo que o caiaque não é perigoso e pode ajudar a valorizar e proteger o mar do país.

Para quem não sente grande fascínio pelo que está debaixo de água, o caiaque oferece outra vantagem: a oportunidade de se afastar da agitação da cidade e desfrutar de um momento de tranquilidade no mar.
Sun Camps, da Irlanda, gosta da sensação de estar sobre a água, mesmo sem mergulhar. “Gosto de estar suficientemente longe da ilha e olhar para trás, para a cidade. Ver Díli a partir do mar dá-nos uma perspetiva completamente diferente”, explicou.
Para ele, o caiaque é uma atividade libertadora e relaxante. “Ajuda a manter a saúde, a estar em contacto com a natureza e a conhecer novas pessoas”, disse. Sun Camps acredita que os timorenses deveriam aproveitar mais o seu próprio território e explorar os desportos aquáticos.
“Timor é uma ilha rodeada de mar. Faz parte do nosso ambiente e deve ser apreciado. Com o caiaque, podem aprender uma nova habilidade, conhecer pessoas, nadar em águas limpas e ver o que está debaixo da água. É uma experiência enriquecedora.”
Além disso, segundo ele, há muitos conhecimentos importantes que podem ser adquiridos, como a compreensão das correntes e marés. “Aqui, temos uma oportunidade única de ver baleias e golfinhos durante as suas migrações, mas para isso é preciso estar no mar.”

A iniciativa “Dili Kayaks”
Andrew David Miller, mais conhecido como Andy, professor de inglês na LELI, fundou há um ano o projeto “Dili Kayaks” com o objetivo de proporcionar às pessoas a oportunidade de explorar as águas de Timor-Leste e a sua vida marinha, que inclui dugongos, golfinhos, tartarugas e inúmeras espécies de peixes.
A iniciativa nasceu da falta de opções de lazer no país. “Timor-Leste não tem centros recreativos públicos nem piscinas. As infraestruturas são limitadas, mas o mar é espetacular. O recife de coral é incrível e muitas pessoas nunca tiveram a oportunidade de o ver de perto.”
Para expandir o projeto, Andy pretende colaborar com o grupo “Underwater Cinema”, que ensina crianças e jovens sobre o ambiente marinho e a importância da preservação. “Eles fazem um trabalho fantástico, levando crianças para a água e mostrando-lhes os recifes de coral e os peixes.”
No entanto, ao contrário do “Underwater Cinema”, que oferece experiências gratuitas, Andy aluga os caiaques através do Beachside, um hotel e restaurante na Areia Branca, onde os custos são elevados. Espera conseguir negociar preços mais acessíveis para os timorenses e até organizar eventos gratuitos em parceria com o Underwater Cinema.
As atividades são divulgadas no grupo de Facebook Kayaking & SUP Timor-Leste, que já conta com cerca de 180 membros. Os preços variam entre 20 dólares por duas horas e 15 dólares por uma hora, dependendo das condições do mar.
Normalmente, percorrem uma distância de dois a três quilómetros, mas podem chegar até cinco quilómetros para quem quiser um desafio maior. “Preferimos fazer percursos mais curtos para que todos possam relaxar, nadar e aproveitar o momento.”
Até hoje, centenas de pessoas já participaram na iniciativa, mas apenas quatro timorenses. Esta baixa adesão levou Andy a reforçar a divulgação da atividade e a tentar desmistificar os receios dos locais. “Muitos dos meus alunos na LELI dizem-me que têm medo de ir para a água. A primeira pergunta que fazem é: ‘E os crocodilos?’. Mas eu já faço isto há um ano e nunca vi nenhum.”
Outro fator que afasta os timorenses é a falta de experiência no mar e o receio de não saber nadar. Andy esclarece que nadar não é essencial, já que todos usam coletes salva-vidas e o snorkelling é opcional. “Mas tenho todo o gosto em ensinar a usar o snorkel e, se necessário, ajudar as pessoas a aprender a flutuar e a sentir-se mais confiantes na água.” Andy tem cinco caiaques na sua casa em Tasi Tolu e pondera disponibilizá-los a preços mais acessíveis.
Para ele, uma das melhores partes desta experiência é a oportunidade de ver Díli de um ângulo completamente diferente. “Quando estamos no mar, viramo-nos e podemos refletir em total paz e calma. É como estar numa cidade, mas num ambiente completamente diferente, quase paradisíaco.” Além dos benefícios físicos, Andy destaca os impactos mentais positivos da atividade. “O caiaque é relaxante, revigorante e oferece uma experiência única para cada pessoa.”