Com a entrada plena de Timor-Leste na ASEAN prevista para outubro, cresce o debate sobre os benefícios e perigos da integração. Sem investimento na produção local e nos bens de primeira necessidade, o país pode enfrentar mais desafios do que oportunidades.
A Presidência da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) declarou, na 46.ª Cimeira da organização, realizada em maio de 2025, em Kuala Lumpur, que Timor-Leste será admitido como 11.º Estado-Membro na próxima cimeira, agendada para outubro, no mesmo país.
Timor-Leste tem vindo a trilhar o caminho para a integração plena desde março de 2011, altura em que o Governo timorense submeteu o pedido oficial de adesão. Antes disso, já era observador desde 2002. Só vinte anos depois é que o estatuto foi elevado, permitindo ao país participar plenamente nas reuniões e cimeiras, embora ainda sem direito a voto.
Agora, Timor-Leste prepara-se para dar um passo decisivo rumo à integração regional. Criada em 1967, a ASEAN reúne atualmente dez países do Sudeste Asiático: Indonésia, Malásia, Singapura, Tailândia, Filipinas, Brunei, Vietname, Laos, Myanmar e Camboja. Juntos, formam um bloco que promove a cooperação económica, política e cultural e que representa uma das regiões com maior crescimento económico do mundo.
Para se tornar membro de pleno direito, Timor-Leste precisa de cumprir vários critérios exigentes, como reforçar a capacidade administrativa do Estado, traduzir milhares de documentos oficiais e criar condições logísticas e humanas para participar de forma efetiva nas estruturas da ASEAN.
Mas afinal, o que poderá mudar com esta adesão? Que oportunidades se abrem e que riscos se colocam ao país?
Fomos ouvir economistas, especialistas em relações internacionais, representantes da sociedade civil e cidadãos atentos para perceber o que pensam sobre este momento crucial para o futuro de Timor-Leste.
“Corremos o risco de ser dominados por outros países do bloco, devido à nossa fraca capacidade de capital, à fragilidade dos recursos humanos e à limitada exploração das nossas riquezas”

“Se Timor-Leste aderir à ASEAN, os recursos humanos disponíveis são, em geral, inadequados, em termos de qualidade, para competir com os recursos humanos dos restantes países membros. Quando comparamos o nível de conhecimento dos nossos recursos humanos com os dos outros países da ASEAN, Timor-Leste encontra-se ainda num patamar muito baixo. Por isso, o Governo deve dar atenção prioritária ao desenvolvimento dos recursos humanos, para que, no futuro, o país possa competir de forma mais eficaz nos setores da economia, agricultura, turismo, entre outros.
Após a adesão, Timor-Leste enfrentará vários obstáculos. Por exemplo, teremos de competir no setor económico. Que produtos temos atualmente para oferecer aos outros países? Neste momento, apenas contamos com o café, a nogueira de iguape e o coco, mas a sua produção é muito reduzida. Esta realidade não nos permite competir de forma sólida com os restantes países da ASEAN em termos de oferta de produtos. Por isso, é fundamental que o país se prepare com seriedade. Caso contrário, corremos o risco de ser dominados por outros países do bloco, devido à nossa fraca capacidade de capital, à fragilidade dos recursos humanos e à limitada exploração das nossas riquezas.
Apesar dos desafios, a integração na ASEAN também pode abrir oportunidades. Outros países poderão querer investir em Timor-Leste, por exemplo, com a instalação de fábricas, o que poderá ajudar a empregar jovens timorenses e a combater o desemprego.
Contudo, atualmente, a realidade mostra que estamos mais focados em preparar os jovens para aprenderem outras línguas e irem trabalhar para o estrangeiro, em vez de os preparar para trabalharem no país. Esta opção pode ter consequências futuras. Se todos os jovens forem trabalhar para fora, quem ficará para desenvolver Timor-Leste? Por isso, temos de preparar as nossas pessoas para atingirem níveis de qualificação como o mestrado e o doutoramento, porque, ao aderirmos à ASEAN, precisamos de profissionais qualificados em todos os setores. A questão que se coloca é: já temos os recursos humanos necessários para responder a essas exigências?
Além dos recursos humanos, é essencial falarmos das infraestruturas — estradas, aeroportos, abastecimento de água, eletricidade, entre outras. Tudo isso é fundamental para impulsionar o desenvolvimento económico. Por exemplo, com estradas em mau estado, como podemos garantir uma economia eficiente e competitiva?
Se falamos de recursos humanos, temos de passar necessariamente pelo setor da educação. Este setor é fundamental para resolver qualquer questão. No que diz respeito aos especialistas em Economia, Timor-Leste até tem alguns, mas são muito poucos. Precisamos de aumentar o número de especialistas em todas as áreas para garantir a sustentabilidade, uma vez que a adesão à ASEAN é definitiva e exige uma visão a longo prazo.
Se olharmos para as potencialidades de Timor-Leste, percebemos que a maioria da população sobrevive da agricultura. Por isso, este setor deve ser reforçado como base do desenvolvimento económico. Quando falamos numa economia de base, temos de pensar em melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem nas zonas remotas.
Não podemos continuar a depositar toda a nossa confiança apenas nos recursos do petróleo e do gás. Esses recursos são finitos. Sabemos que, atualmente, quase não há produção de petróleo. Por isso, é essencial que Timor-Leste invista nos setores produtivos e diversifique a economia para alcançar um desenvolvimento sustentável.”
“Precisamos de investir fortemente na educação para formar recursos humanos qualificados e competitivos, capazes de concorrer com a força de trabalho dos países da ASEAN”

“A entrada de Timor-Leste como membro permanente da ASEAN, prevista para outubro de 2025, é uma boa notícia para todos nós. O Governo tem feito esforços há bastante tempo para que o país possa integrar esta organização. A adesão é importante, porque pode abrir espaço a investimentos de outros países, criar empregos, diversificar a economia e acelerar o desenvolvimento.
No entanto, os timorenses podem enfrentar dificuldades se o Governo continuar a não demonstrar seriedade no desenvolvimento de setores vitais, como a educação e a agricultura. Observando a situação atual, percebe-se que a maioria dos graduados das universidades não encontra oportunidades de trabalho nem consegue criar os seus próprios negócios, o que revela falhas no nosso sistema educativo.
Além disso, a produção agrícola enfrenta vários desafios. Timor-Leste tem poucos produtos com potencial de exportação — o café é praticamente o único.
Precisamos de investir fortemente na educação para formar recursos humanos qualificados e competitivos, capazes de concorrer com a força de trabalho dos países da ASEAN. Quando o Governo não aposta na qualificação dos seus cidadãos, corremos o risco de nos tornarmos estrangeiros no nosso próprio país.
O Governo precisa ainda de melhorar os mercados e as infraestruturas, como as estradas, para facilitar o escoamento dos produtos agrícolas e ajudar a população a ter mais acesso aos mercados.”
“No pilar económico, avaliamos que Timor-Leste ainda não está totalmente preparado para tirar pleno proveito da adesão, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento económico e à concorrência no mercado regional. Com apenas 1,3 milhões de habitantes, temos um mercado interno muito limitado. Para beneficiarmos do mercado da ASEAN, precisamos de produtos verdadeiramente competitivos”

“No pilar económico, avaliamos que Timor-Leste ainda não está totalmente preparado para tirar pleno proveito da adesão, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento económico e à concorrência no mercado regional. Com apenas 1,3 milhões de habitantes, temos um mercado interno muito limitado. Para beneficiarmos do mercado da ASEAN, precisamos de produtos verdadeiramente competitivos.
Timor-Leste solicitou formalmente a adesão à ASEAN em 2011 e tem acompanhado o processo desde então. O Governo encara esta integração como uma oportunidade para impulsionar o desenvolvimento económico, comercial, agrícola e a integração regional.
Contudo, a nossa preparação, sobretudo no setor económico, permanece limitada. Os pilares sociocultural e político-securitário poderão ser ajustados, mas o económico continua atrasado. Atualmente, o país depende fortemente das exportações de café, não possuindo uma oferta diversificada e competitiva para o mercado regional.
É, portanto, essencial que o Governo dê prioridade aos preparativos internos, nomeadamente ao desenvolvimento de produtos de maior qualidade e ao aumento da capacidade de concorrência. Embora a maioria dos Estados-membros da ASEAN já tenha aprovado a nossa adesão, a preparação no terreno continua a ser decisiva para tirar verdadeiro proveito da integração.
A dependência de Timor-Leste dos recursos do petróleo e gás não é sustentável a longo prazo. Os setores agrícola, industrial, turístico e das cooperativas continuam subdesenvolvidos, apesar do seu enorme potencial. A ausência de políticas eficazes de diversificação económica é um dos principais obstáculos.
Com a aproximação à ASEAN, é urgente modernizar os produtos timorenses para que possam competir. Caso contrário, limitamo-nos a ser mercado de escoamento de produtos alheios. O desenvolvimento tecnológico e educacional deve ser uma prioridade.
O setor económico não petrolífero é ainda frágil. Em 2022, as importações atingiram os 786 milhões de dólares, enquanto as exportações foram apenas de 29 milhões — excluindo o petróleo e o gás. A maioria das importações provém de países da ASEAN e dos seus parceiros de comércio livre, revelando a nossa baixa competitividade.
Durante duas décadas, o foco governamental esteve no setor extrativo, em detrimento dos setores produtivos. Embora se tenha começado a investir na agricultura — com a aquisição de tratores e máquinas modernas — os agricultores continuam mal preparados e, em grande parte, envelhecidos. O acesso à terra e a necessidade de investimento robusto são outros entraves ao crescimento de um setor agrícola moderno.
A adesão à ASEAN trará benefícios políticos, sobretudo ao nível da formação e capacitação. No entanto, os principais desafios são económicos. O Governo tem de apostar no setor produtivo e ajustar leis e políticas aos padrões da ASEAN.
Esta preparação não é apenas responsabilidade do Estado — envolve toda a sociedade. Se o país não estiver preparado, a mão de obra e os investimentos estrangeiros poderão dominar o mercado, enquanto os timorenses continuarão sem capacidade de competir. A preparação abrangente é, por isso, essencial para que a adesão se traduza em verdadeiros benefícios para Timor-Leste.”
“Politicamente, dizemos que estamos prontos, mas, na prática, ainda não estamos. Não temos indústrias e, se o Governo quer mesmo insistir na adesão à ASEAN, deve investir. Investir na produção de bens de primeira necessidade”

A entrada de Timor-Leste na ASEAN significa a abertura de fronteiras marítimas, aéreas e terrestres. Isso pode representar um desafio, se não houver empresas produtoras que aproveitem os recursos do país. O investimento externo pode traduzir-se em exploração dos recursos naturais, levando para fora produtos de qualidade e os lucros gerados localmente.
A agricultura e as pescas serão provavelmente os setores mais visados pelos investidores estrangeiros, tendo em conta a procura de produtos marinhos por parte de países como Singapura, Brunei Darussalam e Malásia. Os pescadores timorenses podem ser dos mais afetados. E, tecnicamente, não conseguimos competir com os restantes países, que têm mais recursos humanos e financeiros.
Há intenções de investir em ecoturismo e turismo marinho, mas os avanços têm sido lentos devido à falta de segurança para o investimento. Por exemplo, o Governo exerceu pressão para que o hotel Hilton estivesse concluído antes da visita do falecido Papa, mas o projeto acabou por não avançar e o hotel permanece encerrado, tendo tido uma avaliação negativa. Até hoje, o hotel continua encerrado. Uma empresa também tentou abrir um hospital, mas não recebeu apoio do Governo, e continuamos a ter de sair do país para tratar certas doenças.
Com a entrada na ASEAN, podemos trabalhar noutros países da região, mesmo com salários baixos. Apenas Singapura e Brunei oferecem melhores remunerações. Isso pode gerar remessas para Timor-Leste, mas atualmente as remessas que saem do país são superiores às que entram, devido às grandes empresas estrangeiras que operam internamente.
Na prática, não estamos prontos. Não temos indústrias, o aeroporto não cumpre ainda os padrões internacionais — a primeira pedra foi apenas recentemente lançada. O alargamento da cidade não avançou, e até o estádio que queremos construir em Tasi Tolu vai sacrificar um parque natural.
Neste momento, os nossos produtos exportáveis são poucos: café, algas, óleo de coco virgem e baunilha, e mesmo assim, são produzidos em pequena escala. É urgente apostar na gestão dos recursos naturais para manter o dinheiro a circular dentro do país.
A produção de bens de primeira necessidade praticamente não existe, à exceção dos chips de banana frita, que não respondem à procura interna. Em breve, corremos o risco de importar esse produto da Tailândia ou da Malásia, que já o estão a exportar.
A maioria das empresas depende do orçamento do Estado. As médias e grandes empresas com fluxo de caixa entre 50 e 150 mil dólares por mês, como o Leader, o Timor Plaza e a Meimart, que não dependem diretamente do Governo, talvez consigam competir. A entrada na ASEAN poderá beneficiá-las mais, uma vez que favorece o comércio transfronteiriço.
Mesmo antes da adesão, já se nota a competição. No setor da restauração, muitos restaurantes indonésios foram substituídos por empresários de Singapura. No entanto, as barracas de comida indonésia continuam. O catering é frequentemente atribuído a empresas estrangeiras como o Hotel Timor ou o Osteria. Muitas empresas timorenses de hospitalidade dependem dos contratos de catering do Governo.
O restaurante Dilicious tem um espaço na praia One Dollar Beach como estratégia para responder à procura. Pretendemos alargar a produção agrícola para garantir abastecimento orgânico, mas a falta de financiamento trava os avanços. O crédito de 3%, lançado pelo governo anterior, é de difícil acesso.
A entrada na ASEAN pode atrair mais clientes do Brunei, da Malásia e da Indonésia, mas se vierem grandes investidores no setor da restauração, com melhor equipamento e instalações, a competição será ainda maior.
As cafetarias, que hoje ainda estão seguras, poderão enfrentar concorrência de empresas com grande capital, que abrirão espaços nos aeroportos, na capital e nos municípios.
Apesar dos desafios, devemos manter uma perspetiva positiva. Se o Governo quer realmente avançar com a adesão, tem de investir: investir na produção de bens de primeira necessidade e também na educação. Já existem algumas escolas internacionais de Singapura e de outros países da ASEAN a operar em Timor-Leste.
As áreas que podem criar oportunidades para os jovens incluem o setor da hospitalidade, serviços de limpeza e outros. Os jovens podem ser cozinheiros, jogadores de futebol e muito mais.”
“O principal desafio são os recursos humanos. Os funcionários das instituições públicas precisam de melhorar as suas competências em inglês para estarem prontos para participar nas reuniões da ASEAN. Isto requer reformas educativas alinhadas com as necessidades regionais”

“Na reunião em Kuala Lumpur, a maioria dos líderes da ASEAN aprovou a adesão de Timor-Leste, o que significa que as questões políticas estão praticamente resolvidas, restando apenas alguns aspetos técnicos relacionados com a segurança.
A adesão à ASEAN poderá ajudar Timor-Leste a modernizar o seu setor da segurança e a reforçar a capacidade das forças armadas e da polícia, incluindo o acesso a formações conjuntas, partilha de inteligência, informação sobre cibersegurança, combate ao terrorismo e gestão de catástrofes. Em situações como sismos ou quedas de aeronaves, Timor-Leste poderá receber ajuda dos países membros. A adesão representa também um compromisso mútuo para enfrentar ameaças como desastres naturais, terrorismo ou sequestros.
Além disso, a ASEAN representa um vasto mercado com 600 milhões de pessoas, enquanto Timor-Leste conta apenas com 1,3 milhões. Esta diferença abre oportunidades económicas e de emprego que, se forem bem aproveitadas, poderão reduzir o desemprego e as tensões sociais entre os mais jovens.
Em termos de infraestruturas, Timor-Leste precisa de hotéis, internet e hospitais com padrões internacionais para acolher as milhares de reuniões que podem ocorrer anualmente. É também essencial garantir o cumprimento das normas de protocolo internacional. O reforço dos recursos humanos é igualmente fundamental, nomeadamente através da integração de diplomados estrangeiros fluentes em inglês e da oferta de salários dignos para garantir motivação e desempenho.”
“Alguns países têm vantagens no setor dos serviços, outros no turismo. E Timor-Leste, o que poderá oferecer? Será que vamos continuar a depender apenas dos recursos minerais? Precisamos de diversificar a economia e apostar noutros setores para podermos competir de forma sustentável”

“A adesão de Timor-Leste à ASEAN é uma das principais agendas do país. É um compromisso assumido pelo Estado desde o primeiro pedido formal de adesão, em 2011, o que demonstra que nenhum país se pode desenvolver de forma isolada, pois a cooperação com outras nações é essencial.
Do ponto de vista económico, sabemos que a nossa economia ainda se encontra numa fase de construção. A realidade mostra que dependemos fortemente do Fundo Petrolífero, das remessas, das receitas domésticas e da ajuda internacional para sustentar a economia interna. Contudo, ao focarmo-nos no desenvolvimento económico interno, é evidente que enfrentamos inúmeros desafios. Podemos afirmar que a nossa economia ainda não é resiliente, já que depende de fontes limitadas e não está suficientemente preparada nos setores produtivos.
Embora haja muitos compromissos por parte dos governantes para desenvolver vários setores, na prática não se observa um desempenho consistente nas áreas da agricultura, economia e turismo, entre outras. Isso acontece porque cada Governo que entra em funções apresenta os seus próprios planos. Quando termina o mandato, o Governo seguinte introduz novas prioridades e não dá continuidade às políticas anteriores. Esta falta de continuidade compromete o progresso económico.
Sabemos que Timor-Leste possui recursos como os recifes de coral, o que representa uma boa oportunidade para promover a economia azul, sobretudo agora que foi noticiado que já não há produção de petróleo no campo de Bayu-Undan.
Em todos os setores, os recursos humanos são a peça-chave para o desenvolvimento. Precisamos de capital humano resiliente e qualificado. Ao aderir à ASEAN, devemos estar preparados para adotar os acordos estabelecidos, especialmente no âmbito da Comunidade Económica da ASEAN. No futuro, os timorenses terão acesso aos mercados dos países membros da ASEAN. Por isso, é importante pesar os custos e benefícios. O benefício para o país deve ser superior ao custo. Este deve ser um plano estratégico prioritário para o Governo.
Quanto à preparação de Timor-Leste para se tornar membro pleno da ASEAN, a atual condição do país indica que ainda enfrentaremos desafios. Para afirmar que estamos verdadeiramente prontos, é necessário analisar todos os setores, com especial atenção aos recursos humanos, que devem ser considerados uma prioridade. Estarmos preparados ou não depende da vontade política e do compromisso do Estado. Todos os Governos devem criar consensos. Temos o Plano Estratégico de Desenvolvimento 2011–2030, mas faltam apenas cinco anos para a sua conclusão. Isso exige uma avaliação cuidadosa: o que já foi alcançado até agora? Apesar dos desafios, Timor-Leste deve preparar-se para integrar plenamente a ASEAN.
Um dos principais obstáculos é a questão política. Ainda não há uma abordagem séria e consistente por parte dos Governos em relação aos assuntos importantes. Cada Governo apresenta os seus planos, mas o seguinte, ao assumir funções, tende a ignorar os programas anteriores. No entanto, a política e a economia estão interligadas e essa instabilidade compromete o progresso económico.
A integração na economia da ASEAN abrirá muitas oportunidades. Mas como poderemos competir? Alguns países têm vantagens no setor dos serviços, outros no turismo. E Timor-Leste, o que poderá oferecer? Será que vamos continuar a depender apenas dos recursos minerais? Precisamos de diversificar a economia e apostar noutros setores para podermos competir de forma sustentável.”
“Precisamos de nos capacitar e aprender muitas coisas novas, sobretudo no domínio das competências digitais, marketing nas redes sociais e angariação de fundos, para podermos competir com os restantes países.”

“A adesão à ASEAN pode representar uma porta de entrada para o mercado regional. Pode trazer oportunidades de formação, ligação a outros empreendedores, acesso a fundos de financiamento, utilização de tecnologias como o comércio eletrónico, serviços bancários digitais e pagamentos online, com o objetivo de melhorar os negócios e estabelecer parcerias de investimento com países da ASEAN.
Entre os desafios está a concorrência com grandes empresas da região, que chegam com experiência, capital e tecnologia avançada. Cada produto timorense terá de cumprir os padrões internacionais para poder ser exportado. Isso implica garantir uma boa imagem de marca, embalagens adequadas e volumes de produção suficientes.
Os empreendedores timorenses ainda não têm acesso facilitado a crédito para expandirem os seus negócios. As infraestruturas, como estradas e logística, bem como o acesso à internet, continuam a ser obstáculos.
Muitos empreendedores, sobretudo os que produzem café orgânico ou artesanato tradicional nas zonas rurais, não têm literacia digital nem competências de marketing.
Enquanto nova geração, é necessário apostar na educação e formação dos jovens em áreas como literacia financeira, contabilidade, empreendedorismo, criação de marcas, controlo de qualidade, liderança e outras competências profissionais.
É também essencial aprender línguas como o inglês e o indonésio, e saber utilizar ferramentas básicas como o email para estabelecer contactos profissionais com empresas estrangeiras. É importante ter uma atitude criativa, procurar soluções e coragem para iniciar um pequeno negócio. Devemos também adaptar-nos aos padrões regionais, conhecer os regulamentos do mercado da ASEAN, respeitar princípios éticos de produção e obter certificações profissionais.
Precisamos de nos capacitar e aprender muitas coisas novas, sobretudo no domínio das competências digitais, marketing nas redes sociais e angariação de fundos, para podermos competir com os restantes países.
As áreas com maior potencial no mercado da ASEAN são a agricultura — sobretudo a produção de café, cuja procura tem vindo a crescer —, o ecoturismo, graças às paisagens naturais e ainda pouco exploradas, e o artesanato e as indústrias criativas, que podem atrair o mercado regional com produtos de qualidade. Na era digital, a digitalização é essencial, em especial para os jovens que trabalham em empresas emergentes de tecnologia, fintech, design e marketing digital.”