Jornalistas reforçam competências para comunicar em situações de desastre

Workshop do PNUD, UNESCO e APC reforça competências dos media para transmitir informação rigorosa, inclusiva e atempada durante emergências num país altamente vulnerável a desastres naturais.

A comunicação social desempenha um papel decisivo na proteção de vidas durante desastres. Foi neste contexto que, ontem, 21 de novembro, no Hotel Novo Turismo, em Díli, decorreu o workshop de formação “Comunicação de Impacto em Desastres e Sensibilidade Pública”, destinado a reforçar as competências dos jornalistas na transmissão de informação precisa e fiável.

Cientes da importância dos media na salvaguarda de vidas em situações de emergência, o PNUD e a UNESCO, em colaboração com a Autoridade de Proteção Civil (APC), organizaram esta formação com vista a fortalecer a capacidade dos jornalistas para divulgar informação precisa, inclusiva e atempada à população.

Num país altamente vulnerável a desastres naturais como Timor-Leste, os media desempenham um papel estratégico para garantir que informações vitais chegam a todas as comunidades — incluindo populações remotas, grupos vulneráveis e zonas com acesso limitado. Porém, persistem desafios significativos, como a ausência de protocolos padronizados de comunicação, o fluxo fragmentado de informação e o risco crescente de desinformação, que dificultam a eficácia da comunicação de emergência.

O PNUD, através do projeto Green Climate Fund (GCF), introduziu uma nova plataforma moderna e integrada de gestão de dados sobre desastres. Segundo Firuz Ibragimov, gestor do projeto PNUD GCF, este sistema só será plenamente eficaz se os media conseguirem interpretar e divulgar corretamente os dados ao público.

“O novo sistema digital garante que os dados sobre desastres sejam mais precisos e facilmente verificáveis, mas são os media que fazem a ponte da informação para a população. Por isso, o reforço das capacidades dos jornalistas para compreender e comunicar os dados de desastres é fundamental”, destacou Firuz.

O PNUD sublinha ainda que a colaboração entre os media, o governo e as organizações humanitárias é essencial para assegurar uma resposta rápida e políticas baseadas em evidências. “Através do mesmo projeto, continuaremos a colaborar com as autoridades de proteção civil, os ministérios relevantes, os governos locais, o PNUD, a UNESCO e outros parceiros, fazendo o nosso melhor para apoiar a tomada de decisões assente em evidências sólidas.”

A UNESCO reforça que o direito à informação é um dos mais essenciais em situações de crise. Sem competências jornalísticas robustas — especialmente no combate à desinformação e à informação errada — dados incorretos podem agravar ainda mais a situação.

“O direito à informação e a liberdade de expressão não são ideais abstratos. São direitos humanos fundamentais que sustentam a governação democrática e o desenvolvimento sustentável. Em tempos de crise, estes direitos tornam-se ainda mais vitais. Quando a informação é transmitida de forma eficaz, reforça a resposta humanitária, salva vidas, reduz o sofrimento e promove a dignidade humana”, destacou Adelina Lourdes, coordenadora de programas da UNESCO.

Desde 2022, a UNESCO, em parceria com a AJTL, tem formado jornalistas, jovens e académicos para combater a desinformação, incluindo a criação da Timor-Leste Fact-Check Alliance. Atualmente, a organização está a expandir estes esforços através de formação em temas de mudança climática, programas de bolsas e diálogos interinstitucionais para desenvolver protocolos conjuntos de comunicação de emergência.

Cirilio de Jesus Lobo Baptista, Oficial de Desenvolvimento Resiliente ao Clima e Desastres, salientou que os desastres naturais não resultam apenas de chuvas intensas, inundações ou deslizamentos de terra, mas também da vulnerabilidade humana e da falta de preparação.

“Para prevenir desastres e os seus impactos, os jornalistas têm um grande poder, porque a população precisa de informação clara, precisa, transparente e rápida. Os media são uma via de vida que liga a comunidade, as autoridades e os serviços de proteção civil. Através dos media, os líderes sabem como agir e tomar decisões com base no que está a acontecer”, afirmou.

Desafios persistentes na comunicação durante desastres

Zevónia Vieira, Presidente da AJTL, destacou os desafios que os jornalistas enfrentam na cobertura de desastres, sobretudo a falta de sincronização de dados entre o governo e os parceiros. Esta situação gera frequentemente confusão na população e abre espaço para a desinformação, especialmente no que diz respeito à distribuição de ajuda para grupos vulneráveis, como mulheres, crianças e pessoas com deficiência.

“É a desinformação que permite que as pessoas utilizem incorretamente os fundos de apoio humanitário destinados aos afetados — sobretudo mulheres, crianças e pessoas com deficiência, que realmente necessitam de ajuda”, afirmou.

A AJTL alerta ainda que os dados fornecidos pela APC muitas vezes estão desagregados, o que impede a visibilidade dos grupos mais vulneráveis nos relatórios oficiais.

“O que a AJTL observa é que não existem dados específicos produzidos pela APC, apenas informações gerais que não destacam mulheres, crianças e pessoas com deficiência, incluindo doenças que podem afetar as pessoas envolvidas nos incidentes. Por isso, os media acabam por se concentrar apenas nos acontecimentos, e não nos afetados — especialmente nos grupos vulneráveis. É necessário continuar a atualizar os dados”, defendeu.

Durante o seminário, os jornalistas voltaram a expressar várias preocupações. Uma delas foi apresentada por Deshy Reis, da Rádio Liberdade, que salientou a importância do papel dos media na promoção da inclusão, sobretudo das pessoas com deficiência. Recordou o programa da rádio “Mitigação de Desastres para Pessoas com Deficiência”, realizado com apoio da Oxfam em 2023.

“Através deste programa, ficou evidente que é essencial que as pessoas com deficiência sejam protagonistas nos programas que lhes são destinados, porque são elas que compreendem melhor as suas necessidades — antes, durante e após os desastres”, afirmou.

Deshy acrescentou que a equipa levou o programa diretamente às comunidades, promovendo debates com a população para aumentar a consciência e a compreensão sobre as questões relacionadas com desastres. Contudo, lamentou que, devido à falta de fundos, o programa não tenha podido continuar.

Outra preocupação apresentada diz respeito ao papel da Direção de Meteorologia e Geofísica, que frequentemente emite informações ou alertas meteorológicos tardiamente, apesar de estes serem essenciais para que os jornalistas possam divulgar avisos e informações precoces à população.

Quanto ao acesso dos jornalistas a informações sobre o que está a acontecer em tempo real, muitos recorrem às redes sociais, onde cidadãos publicam e partilham dados do terreno. Essas informações são posteriormente confirmadas junto das entidades relevantes, contribuindo para reduzir a disseminação de dados incorretos.

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