Três dias de protestos estudantis em Díli: vitória histórica, violência policial e ameaças à democracia

“A mudança na lei da pensão vitalícia não responde às necessidades do povo, precisamos da revogação completa”/Foto: Diligente

Estudantes obrigaram o Parlamento a recuar na compra de viaturas de luxo e a agendar debate sobre a lei das pensões vitalícias. Mas os protestos foram marcados por gás lacrimogéneo, feridos e acusações de repressão policial.

“Viva povo maubere, a luta continua!”, gritavam estudantes, vendedores ambulantes, pessoas com deficiência e ativistas, enquanto marchavam para o local do protesto. Empunhavam faixas, cruzes e caixões improvisados com caixas de cartão, com mensagens como: “RIP 65 deputados. RIP injustiça em Timor-Leste. Eliminar a corrupção.”

Às 8h da manhã de segunda-feira, 15 de setembro, centenas de jovens de várias universidades, acompanhados por representantes de diferentes camadas sociais, reuniram-se em frente à Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL) para dar início à manifestação convocada pelos Estudantes Universitários de Timor-Leste (EUTL).

Com bandeiras nacionais, cartazes e faixas críticas ao Parlamento, os manifestantes expressaram descontentamento com decisões políticas que, segundo eles, beneficiam apenas uma pequena elite. Entre as exigências estavam: o fim da compra de viaturas para deputados, a revogação da lei da pensão vitalícia, alterações na legislação sobre liberdade de reunião e manifestação, e maior percentagem do Orçamento Geral do Estado para setores produtivos como educação, saúde, agricultura e turismo.

Segundo os estudantes, a maioria da população vive em condições precárias, enquanto os dirigentes políticos usufruem de salários elevados, subsídios e pensões garantidas por leis como a n.º 7/2017.

Cerca de mil pessoas concentraram-se em frente à UNTL, ocupando parte da via pública e até o primeiro andar da universidade, transformado em palco para discursos, poesia e música. À entrada do Parlamento Nacional, dezenas de agentes da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) montaram cordões de segurança. Alguns tentaram dialogar com os estudantes, que responderam com provocações: “Polícia com salário baixo defende deputados ladrões!”

Antes do início da agenda oficial, os manifestantes cantaram o hino nacional e realizaram um minuto de silêncio em homenagem aos mártires. “O nosso protesto é pacífico. Rejeitamos o anarquismo. Queremos apenas que o Parlamento nos ouça”, afirmou José da Costa, coordenador do EUTL.

No primeiro dia, deputados das bancadas do CNRT, PD e KHUNTO anunciaram a suspensão da compra de viaturas. Na sessão plenária seguinte, os 65 deputados aprovaram por unanimidade a medida, orçamentada em 4,2 milhões de dólares. Maria Angelina Sarmento, presidente da bancada do PLP, explicou que os veículos existentes seriam redistribuídos aos deputados que mais necessitam, evitando novas despesas.

Apesar da vitória política, a manifestação sofreu com violência. Indivíduos não identificados lançaram pedras e garrafas contra a polícia, que respondeu com gás lacrimogéneo. O ambiente tornou-se caótico, com jovens a fugir, a cair ou prostrados devido à ardência do gás. Alguns agentes da polícia ajudaram os manifestantes, trazendo água para aliviar os efeitos. Segundo o Diligente, quatro pessoas ficaram feridas, e registaram-se danos materiais na UNTL e em viaturas.

“Esses distúrbios não foram causados por nós. Foram provocados por infiltrados que queriam descredibilizar a manifestação”, afirmou Natalício Nunes, porta-voz da EUTL.

Mais tarde, cinco representantes do EUTL foram recebidos no Parlamento por deputados do CNRT, PD e KHUNTO, que confirmaram a suspensão da compra de carros. A notícia foi recebida com cânticos de vitória, e os estudantes organizaram uma limpeza coletiva do espaço da manifestação, preparando o terreno para o dia seguinte.

Quanto à Resolução do Parlamento Nacional nº 19/2025, que cancelou a compra das viaturas, o jurista Sérgio Quintas criticou o ponto 2 da resolução, que prevê a manutenção dos carros existentes. Para ele, há o risco de que a mesma quantia originalmente destinada à compra seja agora usada para manutenção.

“O dinheiro para comprar os carros foi cancelado devido ao forte protesto, mas criaram uma cláusula que permite gastar esse mesmo valor para manutenção. Por um lado, queremos poupar, mas por outro abrimos caminho para gastar na mesma este dinheiro”, observou.

Quintas apelou a que o Parlamento exerça eficazmente a sua função de fiscalização, evitando desperdícios. “A fiscalização é um dever do próprio Parlamento, mas não implica sempre deslocações a locais de difícil acesso. Pode ser feita através de comunicação com os líderes locais ou por funcionários do Parlamento que levantem os dados necessários”, explicou.

O jurista acrescentou que cada instituição do Estado dispõe de serviços de inspeção para garantir o bom uso dos recursos públicos, e que a CAC deve auditar o trabalho do Parlamento, tal como faz com outros órgãos do Estado.

“Porque o mau uso do dinheiro prejudica o Estado e o funcionamento do país. O Parlamento é um órgão que representa o povo e deve ser exemplo para as demais entidades”, frisou Sérgio Quintas.

Segundo dia: repressão policial intensifica tensão

Na terça-feira, 16 de setembro, a manifestação continuou, mas desta vez com confrontos diretos com a PNTL. Os estudantes marcharam em direção ao Parlamento Nacional, mas foram bloqueados junto ao Museu da Resistência, a cerca de 100 metros do edifício. Segundo Natalício Nunes, porta-voz da EUTL, a ordem partiu do primeiro-ministro Xanana Gusmão.

Os manifestantes recusaram-se a recuar: “A menos que nos matem, não vamos recuar”, afirmou Natalício, denunciando que a repressão visava silenciar a juventude.

Perto do meio-dia, a tensão escalou quando pneus foram incendiados e alguns manifestantes romperam as barreiras policiais. A PNTL respondeu com granadas de gás lacrimogéneo, causando feridos e correria. “Irmãos polícias, parem com o gás lacrimogéneo. Não somos criminosos nem traidores, estamos aqui pela justiça”, gritavam os jovens. Pelo menos cinco estudantes ficaram feridos com lesões na cabeça, braços e pernas.

Durante a tarde, a polícia entrou no campus central da UNTL, expulsando estudantes das salas de aula e interrompendo atividades académicas. Houve agressões, intimidação e destruição de propriedade. Alguns grupos resistiram e forçaram a retirada dos agentes.

“A PNTL demonstrou ignorância e incapacidade de compreender a autonomia universitária”, criticou Natalício, anunciando que o EUTL apresentaria queixa formal à Provedoria dos Direitos Humanos e Justiça (PDHJ) e ao Ministério Público.

No meio da confusão, indivíduos desconhecidos incendiaram uma viatura do Estado e danificaram motorizadas da PNTL. Para conter a escalada, o segundo comandante da polícia, Pedro Belo, e o chefe do Serviço Nacional de Inteligência, Gastão Piedade, tentaram dialogar com os estudantes: “A manifestação é um direito vosso, mas não pode ser feita com violência. Juntos podemos encontrar um caminho para que os deputados vos oiçam.”

O ambiente acalmou temporariamente. Estudantes identificaram um suspeito de ser infiltrado e entregaram-no à polícia. Ao final do dia, decidiram suspender o protesto e organizaram novamente a limpeza do espaço.

“Garantimos que amanhã não haverá anarquia. Se ainda assim acontecer, serei eu próprio a apresentar-me à polícia para assumir a responsabilidade”, declarou Cristóvão de Araújo, porta-voz do EUTL. O encontro terminou com um entendimento provisório para assegurar que a manifestação seguinte decorresse de forma pacífica.

Manifestação no terceiro dia leva Parlamento a assumir compromisso histórico

No terceiro dia consecutivo de protestos pacíficos, a EUTL alcançou uma vitória considerada histórica: o Parlamento Nacional assinou um compromisso formal para debater e rever leis amplamente contestadas pela população.

As manifestações, realizadas no recinto da UNTL, decorreram desta vez sem impedimentos diretos das forças de segurança. A PNTL manteve uma postura de contenção, enquanto os estudantes demonstraram disciplina, evitando bloqueios nas vias públicas.

O início do protesto foi marcado por um momento simbólico: canto do hino nacional “Pátria, Pátria”, um minuto de silêncio em homenagem aos heróis da pátria e uma oração contra a exploração política.

José da Cruz, porta-voz da EUTL, explicou os objetivos centrais da mobilização: “O nosso objetivo é mostrar ao povo timorense que a elite política atual está a trair as promessas feitas durante a campanha eleitoral. A hegemonia da elite explora a ignorância do povo para fazer o que quer.”

Por volta das 10h, uma delegação de sete representantes estudantis — entre eles Natalício Nunes, Francelina Freitas de Piedade, Marcelino dos Santos, José da Costa, Fernando de Andrade, Caetano da Cruz e Cristóvão de Araújo — reuniu-se com líderes das bancadas do CNRT, PD, FRETILIN, PLP e KHUNTO, no Parlamento Nacional.

Enquanto isso, no exterior, os manifestantes empunhavam cartazes e bandeiras de Timor-Leste, incluindo a bandeira One Peace, entoando palavras de ordem. A polícia vigiava de perto para impedir a aproximação ao edifício parlamentar.

O presidente interino do Parlamento Nacional, Alexandrino Afonso Nunes, recebeu os estudantes num tom conciliador e deu-lhes espaço para exporem as suas exigências: revogação total da lei da pensão vitalícia, alteração da lei da liberdade de reunião e manifestação, e maior investimento do Orçamento Geral do Estado em setores produtivos.

“A mudança na lei da pensão vitalícia não responde às necessidades do povo, precisamos da revogação completa”, afirmou Cristóvão de Araújo, sublinhando que os estudantes exigiam um acordo formal.

Natalício Nunes alertou para o risco de instabilidade política: “Se recusarem compromissos claros, o povo ficará contra os deputados. Situações como as da Indonésia ou do Nepal podem acontecer em Timor-Leste.”

As bancadas ouviram as propostas, mas o primeiro esboço de acordo não previa uma data para os debates. Cristóvão insistiu: “Precisamos de uma data para informar os manifestantes. Se não houver, isso dará espaço para mais adiamentos.”

Em resposta, Alexandrino Afonso Nunes e o deputado do CNRT, Patrocínio Fernandes, propuseram o início de dezembro, justificando que outubro está reservado para o OGE 2026 e a adesão de Timor-Leste à ASEAN. O EUTL rejeitou, exigindo que o debate ocorra ainda em setembro.

A oposição apoiou a urgência. “A alteração da lei da organização judiciária não estava na nossa agenda, mas foi debatida com caráter de urgência. Por que não podemos tratar este assunto da mesma forma?” questionou Nurima Alkatiri, da FRETILIN.

Após longas discussões, ficou definido que o debate terá lugar a 25 de setembro. Estudantes e deputados assinaram o acordo, que incluiu também a alteração da lei das manifestações e a revisão do orçamento para setores produtivos.

O diálogo durou cerca de seis horas. Durante a tarde, alguns manifestantes perderam a paciência e atiraram pedras contra o Parlamento. A polícia respondeu com gás lacrimogéneo e disparos para o ar, mas a multidão manteve-se firme no local.

Ao regressarem da reunião, os porta-vozes do EUTL foram recebidos com gritos de vitória. Cristóvão de Araújo advertiu: “Exigimos que os deputados respeitem o acordo firmado. Caso contrário, as ações vão continuar e a força vai aumentar.”

Cristóvão agradeceu ainda ao povo e aos grupos sociais que apoiaram a mobilização: “Hoje, conquistámos uma vitória histórica e coletiva. Os partidos prometeram em campanha revogar a pensão vitalícia e não cumpriram. Mas com a força de todos conseguimos esta conquista.”

Para os estudantes, esta manifestação destacou-se pela rapidez dos resultados. “No passado, demorava muito tempo para termos audiência com os políticos. Este ano, em apenas três dias, já obtivemos resposta às nossas reivindicações”, afirmou Cristóvão.

O protesto terminou com um gesto de união. Manifestantes deram as mãos junto à bandeira da RDTL hasteada perto da UNTL, cantando o hino nacional em clima de emoção e confiança.

No final, apesar dos confrontos anteriores, estudantes e agentes da PNTL reconciliaram-se, trocaram abraços e dançaram juntos. A manifestação culminou numa passeata pelas ruas de Díli, celebrando o que muitos já chamam de um marco histórico para a geração Z de Timor-Leste.

Lei das pensões vitalícias em Timor-Leste sob pressão dos estudantes

A Lei nº 7/2017 garante pensões vitalícias a ex-dirigentes políticos timorenses — Presidente da República, Primeiro-Ministro, deputados, ministros e secretários de Estado — assegurando benefícios mesmo após o fim dos mandatos. A legislação prevê que um ex-Presidente receba 100% do salário base vitaliciamente, o Primeiro-Ministro 90% após um mandato completo, e deputados, ministros e secretários de Estado recebam 60% após cinco anos de serviço, 75% após dez e 90% após quinze anos.

Além da pensão, os deputados mantêm assistência médica gratuita no exterior e passaporte diplomático, e, em caso de falecimento, cônjuges ou filhos menores recebem 75% da pensão. Para deputados com um a cinco anos no cargo, existe direito a 100% do vencimento por um ano, e veteranos podem optar entre pensão ou salário caso assumam novos cargos públicos.

A lei tem sido alvo de críticas persistentes por parte da sociedade civil, académicos e cidadãos que defendem a sua revogação. Durante as manifestações pacíficas de 15 a 17 de setembro de 2025, os estudantes universitários de Timor-Leste pressionaram o Parlamento a debater a revogação da lei, marcada para 25 de setembro. Cristóvão de Araújo, porta-voz do EUTL, alertou que as ações continuarão caso o acordo não seja cumprido: “Exigimos que os deputados respeitem o acordo firmado. Se não o fizerem, as ações vão continuar e a força vai aumentar.”

Historicamente, a questão remonta a 2007, quando a Lei nº 1/2007 previa pensão vitalícia de 100% para deputados com 42 meses de mandato, incluindo assistência médica, viatura pessoal, materiais de construção sem taxas, livre-trânsito e passaporte diplomático. Para deputados com menos de 42 meses, havia subsídio de reintegração equivalente a um ano de salário. A Lei nº 7/2007 consolidou benefícios para titulares dos órgãos de soberania (Presidente da República, Presidente do Parlamento, Primeiro-Ministro e Presidente do Supremo Tribunal de Justiça), incluindo pensão vitalícia, residência digna, veículo com condutor, escolta, gabinete de trabalho com equipamentos, ajudas de custo e assistência médica, além de veículos de serviço e pessoais durante o mandato.

A Lei nº 7/2017, promulgada pelo então Presidente Taur Matan Ruak, manteve a pensão vitalícia, assistência médica, passaporte diplomático e livre-trânsito, mas revogou direitos como importação de veículos sem taxas, materiais de construção e viagens anuais ao exterior.

Segundo cálculos do jornalista Romualdo das Neves em 2023, os ex-deputados recebem no mínimo 975 dólares por mês — cerca de sete vezes o salário mínimo de 135 dólares — resultando num gasto anual estimado de 3,8 milhões de dólares para os 65 deputados da VI Legislatura. Os cálculos baseiam-se nos salários previstos na Lei nº 14/2009, complementados por subsídios adicionais da lei nº 4/2023.

Durante o terceiro dia de protestos, uma reunião entre os porta-vozes da EUTL e a comissão A do Parlamento decidiu, por unanimidade, eliminar a lei da pensão vitalícia, com debate agendado para 25 de setembro. Os estudantes exigem revogação total, sem novas condições que mantenham benefícios.

O jurista Sérgio Quintas considera que a lei deve ser completamente revogada. “Se houver propostas para criar requisitos adicionais antes de receber a pensão, é como atirar areia para os olhos do povo. Acaba já com a pensão vitalícia! Se a proposta disser que quer eliminar totalmente, aceitamos e acabou”, afirmou. Quintas alerta ainda que os deputados que já recebem pensão vitalícia enquanto continuam a trabalhar, por exemplo como docentes, acumulam rendimentos, perpetuando desigualdades num país com grande pobreza. Para ele, o dinheiro da pensão vitalícia poderia ser usado para melhorar a vida da população e do país.

Estudantes denunciam violência policial: “deviam proteger-nos e não reprimir-nos”

Pelo menos nove estudantes e um idoso ficaram feridos na sequência da intervenção policial com gás lacrimogéneo durante os protestos estudantis, marcados por confrontos entre PNTL e os manifestantes, gerando tensão generalizada.

Osvalo dos Reis, um dos participantes, relatou ter sido atingido na cabeça após a polícia lançar gás lacrimogéneo para dispersar a multidão. “Eu estava a gritar e, de repente, pessoas desconhecidas começaram a atirar pedras atrás de mim, o que levou a polícia a reagir com gás lacrimogéneo. Os meus olhos ardiam tanto que não conseguia correr. Foi nesse momento que alguns elementos da polícia me agarraram pela camisa e começaram a bater-me, deixando-me ferido na cabeça”, contou.

Margarida de Jesus, também manifestante, criticou a atuação da PNTL e a falta de capacidade da polícia em garantir a segurança dos estudantes. “No primeiro dia, a manifestação decorreu de forma organizada, no recinto da UNTL. No segundo dia, a situação agravou-se porque a polícia proibiu-nos de avançar em direção ao Parlamento, provocando desorganização e perturbações. Dispararam gás lacrimogéneo, magoando muitos colegas, alguns chegaram mesmo a desmaiar. Também usaram bastões e as mãos para nos agredir”, denunciou.

A estudante acrescentou que, apesar da forte irritação causada pelo gás, os manifestantes continuaram a resistir. “Muitos tentaram lavar os olhos com água, mas mesmo assim persistimos, porque os deputados tinham de ouvir as nossas reivindicações. Esta manifestação não foi por interesse pessoal, mas em nome da população timorense. Os agentes da PNTL deviam proteger-nos, não reprimir-nos violentamente. Dispararam gás lacrimogéneo e depois ainda nos agrediram fisicamente. É inaceitável”, frisou Margarida.

Segundo dados do Centro de Saúde Formosa, a unidade mais próxima do local, nove pessoas receberam atendimento após exposição ao gás lacrimogéneo e agressões da polícia.

O médico-geral do Centro de Saúde de Vera Cruz, Ananias do Rego, confirmou que oito estudantes foram atendidos no centro e um foi transferido para o Hospital Nacional Guido Valadares devido a traumatismo craniano. “Segundo os relatos, todos foram atingidos pelo gás lacrimogéneo lançado pela polícia”, explicou.

Porta-voz da EUTL denuncia ameaças após manifestações

Após o término da manifestação de três dias, o porta-voz da EUTL, Cristóvão de Araújo, passou a ser alvo de comentários ameaçadores nas redes sociais. Falsas acusações também circularam, alegando que ele seria membro da Igreja Católica Carismática de Timor-Leste (ICCTL).

No domingo, 21 de setembro, Cristóvão, acompanhado dos restantes porta-vozes do EUTL, apresentou queixa na Polícia de Investigação Criminal (PCIC) para que fosse investigada a origem dos perfis falsos que fizeram os comentários ameaçadores.

“Vim apresentar queixa na PCIC porque algumas pessoas procuraram-me e tentaram controlar as minhas movimentações. É uma consequência de protestarmos contra quem está no poder. Mesmo assim, vou continuar a falar até encontrarmos uma solução para as nossas exigências”, afirmou.

Cristóvão de Araújo considerou que as acusações de ligação à ICCTL visam enfraquecer a força e a unidade da EUTL. “A ICCTL não tem moral para usar a minha fotografia com a intenção de prejudicar a nossa manifestação. A pressão e as ameaças que recebi já foram apresentadas à PCIC para que sejam tomadas as medidas adequadas”, explicou.

O porta-voz reiterou que a sua atuação na EUTL visa defender os direitos da população e apelou para que os membros do grupo não se deixassem influenciar por propagandas de desconhecidos. “Sou estudante e uso a minha alma mater para lutar contra o Parlamento Nacional. Como cidadão, tenho o dever de defender a verdade e contribuir para o meu país”, concluiu.

Fundação Mahein e PDHJ criticam atuação da PNTL durante protestos

O diretor da Fundação Mahein (FM), Nelson Belo, expressou preocupação com a resposta da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) aos protestos estudantis, especialmente no segundo dia, que classificou como excessiva e mal coordenada.

Segundo Belo, no primeiro dia, a polícia agiu de forma calma e profissional, sem questionar os locais de protesto. “A polícia estava tranquila e exerceu as suas funções com profissionalismo. Depois, indivíduos desconhecidos provocaram distúrbios, levando ao uso de gás lacrimogéneo para dispersar a multidão”, explicou.

No segundo dia, porém, a abordagem mudou drasticamente. “A situação agravou-se. A polícia impediu os estudantes de avançar e entrou em salas de aula para os forçar a sair, o que é absolutamente inaceitável”, denunciou Belo, considerando estas ações uma violação do espaço académico e do direito à manifestação pacífica. Questionou também a necessidade de usar gás lacrimogéneo, considerando a medida desproporcionada face à ausência de violência generalizada.

O diretor da FM criticou a falta de mecanismos preventivos e de diálogo com os manifestantes, além da formação policial atual, baseada em práticas quase militares importadas da GNR de Portugal, que não se adaptam ao contexto timorense. “É urgente rever esta abordagem e criar uma política nacional de segurança adequada às nossas necessidades e ameaças”, frisou.

Apesar dos erros, a FM valorizou a maturidade dos estudantes e a ausência de vítimas mortais. Belo apelou ao Governo para investir em formação e equipamentos, garantindo intervenções mais profissionais. Sobre o incêndio de uma viatura do Estado, defendeu investigação rigorosa: “Se não houver responsabilidade clara, culpar apenas os manifestantes não é justo.”

Por sua vez, o Provedor dos Direitos Humanos e Justiça (PDHJ), Virgílio Guterres, criticou a falta de sensibilidade política e o uso excessivo de força pela PNTL. “A manifestação nasce da surdez política. Os líderes seguiram apenas os seus interesses, ignorando o povo”, afirmou.

Guterres destacou o papel dos estudantes como força cívica extraparlamentar e a importância das universidades como centros de pensamento crítico. Reconheceu que a manifestação do primeiro dia foi pacífica, mas considerou desproporcionado o uso de gás lacrimogéneo no segundo dia, incluindo durante discursos e entrevistas. “Isso é abuso e viola o direito à manifestação”, denunciou.

O Provedor sublinhou que, mesmo com recursos limitados, a PNTL deve atuar profissionalmente, utilizando força apenas em casos de ameaça real à ordem pública. “O papel da polícia não é impedir faixas ou discursos, mas garantir que a manifestação não cause danos. Algumas ações refletem intenção de acalmar, outras, de mostrar força, e isso resultou em violência desnecessária”, concluiu.

PNTL defende atuação durante protestos e investiga violência e destruição

O Comandante-Geral da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL), Comissário Henrique da Costa, afirmou que a manifestação estudantil de três dias decorreu de forma “geralmente pacífica”, apesar de alguns incidentes que provocaram feridos entre agentes e manifestantes, sem vítimas mortais.

Henrique da Costa informou que a Investigação Criminal da PNTL registou casos de destruição de viaturas policiais e o incêndio de um carro do Governo. “As investigações continuam e os agentes feridos foram orientados a seguir os procedimentos legais”, disse. Sobre o carro incendiado, o comandante explicou que ainda não há informações sobre o condutor ou o ministério responsável e que aguardam a apresentação de uma queixa formal para avançar com o processo.

O comandante considerou a manifestação com desfecho positivo, destacando que a PNTL atuou como “ponte de diálogo” entre estudantes e deputados, mediada pelo segundo comandante-geral, Pedro Belo. Reconheceu o incidente em que agentes entraram em salas de aula, justificando a ação como resposta a provocações: “Quando os estudantes marchavam pacificamente, nada aconteceu. Mas quando começaram a atirar pedras que feriram agentes, tivemos de intervir. Pedi desculpa pessoalmente aos representantes do EUTL”, afirmou.

Henrique da Costa apelou aos estudantes para maior cuidado na organização das manifestações, evitando infiltração de terceiros com intenções criminosas. Garantiu que a presença policial visa proteger a segurança de todos e que o uso da força só é permitido em casos de ameaça real à ordem pública.

O Diretor do Serviço de Investigação Criminal, Superintendente João Belo dos Reis, reforçou que a polícia atuou em articulação com os organizadores, garantindo paz e segurança. Sobre alegações de infiltração de agentes da inteligência, confirmou que estão a recolher informações, que serão divulgadas oportunamente.

Durante os protestos, a PNTL utilizou imagens de câmaras e drones para identificar responsáveis por atos de violência e destruição. Foram detidas 13 pessoas — 12 suspeitas e uma testemunha — todas libertadas após identificação, mas ainda sob investigação. “A manifestação foi legítima, mas atos criminais à margem dela terão consequências legais. Pessoas externas ao movimento estudantil que tentaram provocar distúrbios serão responsabilizadas”, afirmou o porta-voz.

João Belo dos Reis concluiu garantindo que qualquer ação fora dos padrões será sujeita a processo disciplinar ou judicial, reafirmando o compromisso da PNTL com a legalidade, a segurança pública e os direitos dos cidadãos.

Ver os comentários para o artigo

  1. Dear Sir/Madam

    Please, I would like to know if there is justice in East Timor for the mothers who have babies and are abandoned by the fathers and do not pay any maintenance for their sons?

    Warm regards

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