Resíduos hospitalares, como agulhas, máscaras e frascos de medicamentos, estão a ser mal geridos na unidade de saúde em Díli, representando riscos ambientais e para a saúde pública. Moradores denunciam falta de ação das autoridades. A Ministra da Saúde reconheceu os riscos e afirmou já ter orientado os diretores para assumirem a responsabilidade pelo tratamento destes resíduos.
Muitas vezes, o lema das campanhas de sensibilização promovidas pelo Ministério da Saúde é ita nia saúde iha ita nia liman rasik (a saúde está nas nossas mãos, em português). No entanto, testemunhos apontam que os resíduos hospitalares continuam a não ter tratamento adequado em Timor-Leste.
O ambientalista Delvio Siqueira alertou que resíduos hospitalares como algodão, luvas, máscaras usadas, agulhas e frascos de medicamentos representam riscos para a saúde pública e para o ambiente, sobretudo devido à ausência de um tratamento adequado. Sublinhou ainda os impactos negativos sentidos pelos moradores que vivem junto das unidades de saúde.
O morador Hipólito Sarmento relatou que já viu resíduos hospitalares depositados num edifício abandonado. “Vi medicamentos, frascos de medicamentos, agulhas e outros produtos. Muitas vezes, os profissionais de saúde pedem à população para limpar as suas casas, mas eles próprios não colocam os resíduos hospitalares no local adequado”, afirmou.
Já Hilarina Moniz, vendedora de arroz embrulhado perto do Centro de Saúde de Comoro, declarou que nunca viu resíduos hospitalares usados espalhados na rua. “Nunca vi diretamente esses produtos usados aqui fora. Mas acho que as entidades competentes tratam estes resíduos dentro do próprio centro. Ouvi dizer que alguns são queimados no local”, relatou.
Segundo Delvio Siqueira, no Centro de Saúde de Comoro os resíduos encontram-se espalhados nos arredores. “De acordo com informações dos moradores, o centro de saúde está localizado junto às casas das pessoas, o que tem impacto negativo sobre quem vive nas proximidades. Além disso, há casos em que os resíduos são queimados no próprio local”, acrescentou.
A vendedora Hilarina também manifestou preocupação. “Se for assim, podemos contrair doenças. Pelo menos, as autoridades competentes devem tratar adequadamente o lixo hospitalar para não prejudicar a comunidade”.
O ambientalista denunciou ainda que algumas crianças têm acesso a resíduos hospitalares usados, chegando a utilizá-los como brinquedos. “Até as crianças pegam em agulhas para brincar. Isto é lamentável e mostra a falta de responsabilidade por parte dos profissionais de saúde”, criticou Delvio Siqueira.
Hipólito Sarmento confirmou a situação. “Já vi crianças a brincar com agulhas e outros produtos. Não digo isto para criticar os profissionais de saúde, mas porque é uma realidade preocupante. O setor da saúde precisa de encontrar uma solução melhor.”
Delvio acrescentou que o caso de Comoro não é isolado. “Às vezes, ao fim de semana, durante atividades de limpeza, encontramos seringas e outros resíduos hospitalares nas valetas e nas ribeiras”, contou.
Entre campanhas e realidade
Sobre os impactos na saúde pública, Hipólito Sarmento reconheceu haver riscos, embora nunca tenha ouvido falar de alguém adoecer diretamente devido ao lixo hospitalar.
Delvio Siqueira comparou com práticas internacionais, explicando que noutros países existem locais próprios para tratar este tipo de resíduos. Em Timor-Leste, porém, grande parte é enviada para o lixeiro de Tibar, onde apenas se faz separação. “Pior ainda, alguns deitam lixo hospitalar perto das casas das comunidades e nem pensam na saúde delas. Por isso, apelo ao Ministério da Saúde para resolver esta situação”, afirmou.
Outra preocupação apontada pelo ambientalista é o descarte inadequado de máscaras usadas, frequentemente encontradas em diferentes locais do país. “Isto é muito perigoso. Ao contactar com estas máscaras, podemos contrair doenças”, alertou Delvio.
Recordou ainda que o Ministério da Saúde promove campanhas de sensibilização com o lema “a saúde está nas nossas mãos”, mas a realidade contraria a mensagem. “Se relacionarmos este lema com a prática, percebemos que há falhas e falta de equilíbrio na atuação do Ministério”, concluiu o ambientalista.
Questionado sobre se já tinha apresentado alguma queixa, Hipólito Sarmento admitiu que não. “Hoje em dia, quem nos ouve? Nunca falámos com as autoridades sobre este problema do lixo hospitalar. Apenas recebemos apenas avisos da equipa de saúde para limparmos as nossas casas por causa do dengue e de outras doenças. Seguimos essa orientação e mantemos as casas limpas”, disse.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os resíduos médicos representam uma ameaça significativa para a saúde pública e para o ambiente quando não são tratados de forma adequada. Agulhas, seringas e outros materiais cortantes podem provocar ferimentos e transmitir doenças graves, como a hepatite B, a hepatite C e o VIH. Crianças e catadores que têm acesso a este tipo de resíduos estão particularmente vulneráveis.
Além do risco direto de infeções, a eliminação inadequada de medicamentos e produtos químicos pode causar intoxicações e até levar à venda ilegal de fármacos recuperados do lixo hospitalar. A OMS alerta que este tipo de práticas expõe não só os doentes, mas também toda a comunidade a perigos evitáveis.
Os impactos não se limitam à saúde humana. O despejo de resíduos médicos em lixeiras a céu aberto contamina o solo e as águas subterrâneas, enquanto a queima de materiais sem controlo liberta gases tóxicos para a atmosfera. Substâncias como o mercúrio e outros metais pesados podem acumular-se na cadeia alimentar e afetar gerações futuras.
Para reduzir estes riscos, a OMS recomenda a separação do lixo hospitalar na origem, a utilização de contentores próprios para materiais infeciosos e a implementação de sistemas seguros de transporte e tratamento, como autoclaves ou incineração controlada. O reforço da fiscalização e a formação contínua dos profissionais de saúde são também apontados como passos essenciais para proteger as populações e o ambiente.
Governo promete maior atenção ao lixo hospitalar após críticas de ambientalistas e comunidade
A Ministra da Saúde, Élia Amaral, Ministra da Saúde, afirmou que já instruiu aos diretores dos Serviços da Saúde a prestarem maior atenção ao lixo hospitalar, alertando que este tipo de resíduos pode agravar doenças tanto em pacientes como em moradores que vivem perto dos estabelecimentos da saúde.
“Já chamei a atenção dos diretores para que assumam a máxima responsabilidade relativamente a este tipo de resíduos, sobretudo quando há um tratamento inadequado”, declarou a ministra.
O Diligente tentou obter mais respostas da ministra, mas esta recusou. O responsável dos Serviços de Saúde Municipal de Díli também foi contactado, mas sem sucesso.

