Quais são os desafios de empreender em Timor-Leste?

O encontro conta a participação de empresários e investidores de 23 países/Foto: Diligente

Empresários timorenses destacam dificuldades em fazer negócios no país e referem as áreas produtivas como as preferidas dos investidores estrangeiros.

O Fórum Internacional de Negócios de Timor-Leste 2023, que se realiza de 23 a 25 de novembro, no salão multiuso do grupo GMN, em Díli, pretende promover, apoiar e incentivar o investimento e o crescimento das exportações em Timor-Leste.

Subordinado ao tema “Descobrindo oportunidades azuis e verdes para o investimento sustentável”, o evento conta com a participação de empresários de 23 países e é organizado pelo Governo, através do Gabinete do primeiro-ministro, do Ministério Coordenador da Economia e do Ministério do Turismo e do Ambiente.

Para perceber melhor os desafios de se investir e dinamizar a economia em Timor-Leste, o Diligente conversou com alguns empreendedores do país.

“A maioria dos empreendedores em Timor-Leste está dependente do projeto do Governo. Isto significa que ainda não tem capacidade de ver as oportunidades de investimento”

Célia Caldas, diretora da empresa Caltech e dona do Hotel Ventura em Díli/Foto: Diligente

“O problema do setor privado em Timor-Leste está ligado à falta de capacidade de investimento nas áreas produtivas, para que se possa gerar mais rendimento e criar empregos no país. Precisamos do apoio dos investidores internacionais para desenvolver o setor privado.

É necessário ainda investir na formação sobre gestão de negócios, de forma a capacitar os jovens empresários. A maioria dos empreendedores em Timor-Leste está dependente do projeto do Governo. Isto significa que ainda não tem capacidade de ver as oportunidades de investimento.

O Governo precisa de apoiar o setor privado, através de créditos bancários. Com o apoio financeiro, espera-se que os empresários timorenses criem indústrias no país.

O setor privado deve trabalhar com o Governo para que o país seja próspero. Espero que este evento abra caminho aos empresários locais para estabelecerem conexões com os investidores internacionais presentes e discutirem sobre os desafios, oportunidades e soluções. As áreas que precisam de investimento estrangeiro são a agricultura e o turismo.”

“A maior dificuldade que os empresários locais enfrentam é a burocracia, para além da falta de terreno e capital de investimento”

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Fernando da Silva, diretor do Divita Group/Foto:Diligente

“O evento conta com a participação de muitos investidores internacionais da ASEAN e de outros países que vêm aqui para procurar oportunidades de investimento com a sua própria empresa, ou cooperar com o setor privado em Timor-Leste. A minha companhia trabalha nas áreas do transporte, agricultura, construção e comunicação social.

A maior dificuldade que os empresários locais enfrentam é a burocracia, para além da falta de terreno e capital de investimento. Por isso, antes de realizar este fórum, deveríamos ter resolvido os problemas internos.

Outra questão que afeta a maioria dos empresários locais é a dependência do Orçamento Geral do Estado (OGE). Precisamos de mudar esta situação e ser independentes no investimento nas áreas da agricultura, pesca e outras.

Para resolver este problema, o Governo precisa de disponibilizar dinheiro no Banco Nacional de Timor-Leste com juros menores, para que os empresários possam fazer crédito. Já temos este programa, mas precisamos ainda de discutir a percentagem de juros, porque os empresários nacionais precisam de tempo para conseguir retorno do seu investimento e pagar os juros”.

“Vejam o que podem começar agora. Posteriormente, vão estar no patamar dos investidores bem-sucedidos. O importante é não desistir, ser determinado e orgulhar-se do esforço que faz”

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Ammar Ali Mirza, fundador e diretor-executivo da companhia Leste Food & Beverage/Foto: Diligente

“Quando vim visitar Timor-Leste, em 2015, apaixonei-me pelo país e tive oportunidade de criar uma empresa de produção de água potável. Investi desde então, criando uma companhia timorense, situada na fronteira entre Díli e Aileu, nas áreas montanhosas. Temos investidores do Dubai, Índia e Paquistão e o nosso produto é testado por uma equipa do Reino Unido. Empregamos 40 pessoas, 80% delas são timorenses. Vamos lançar o produto em breve.

Enfrentei muitas dificuldades, por exemplo, demorei cinco anos para encontrar uma fonte de água compatível com o projeto, mas o que destacaria como principais entraves foram a pandemia de covid-19 – que atrasou o trabalho – e a inundação de 4 de abril de 2021, que danificou a área do projeto, pois estamos perto da ribeira.

Garantimos que cada garrafa fornece apenas a melhor água para as pessoas em Timor-Leste, e, posteriormente, se Deus quiser, exportamos para o estrangeiro, mostrando ao mundo que o país tem potencial de manufaturar produtos com alta qualidade.

Este Fórum demonstra a ambição de Timor-Leste para atrair investimento, criando emprego para timorenses e ajudando os empresários locais a desenvolver ideias de negócios. Não pensem que o que está a ser apresentado aqui é apenas para grandes projetos, vejam o que podem começar agora. Posteriormente, vão estar no patamar dos investidores bem-sucedidos. O importante é não desistir, ser determinado e orgulhar-se do esforço que faz.”

“Devemos investir mais no setor agrícola, uma vez que quando visitamos as áreas remotas só vemos os idosos a trabalhar”

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Célia Mesquita da Costa Rego, administradora empresa Vinod Patel/Foto: Diligente

“Recebemos convite da Câmara do Comércio e Indústria de Timor-Leste (CCI-TL) para participarmos no Fórum Internacional de Negócios de Timor-Leste. A Vinod Patel é uma empresa que vende materiais de construção. É também uma empresa que compete nos concursos públicos para distribuir equipamento de acordo com a necessidade das autoridades responsáveis.

Considero que uma grande dificuldade de investimento em Timor-Leste teve a ver com a pandemia de covid-19 e com outros imprevistos que podem dificultar o funcionamento do negócio.

Devemos investir mais no setor agrícola, uma vez que quando visitamos as áreas remotas, só vemos os idosos a trabalhar e a maioria dos jovens optou por ter emprego no estrangeiro. Deveríamos apostar nos jovens que ainda estão cá para que desenvolvam o setor.

Este Fórum beneficia-nos bastante, já que estamos a ouvir várias experiências de grandes empresários de como desenvolver uma empresa, o que nos pode ajudar a contribuir para o desenvolvimento do país.”

“Devemos trabalhar juntos, as empresas e a entidade bancária, para podermos realizar a atividade empresarial, de forma a reduzir a taxa de desemprego e a saída dos jovens para o exterior”

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Aleixo da Silva Gama “Cobra”, dono da empresa Luz Clarita/Foto: Diligente

“Observo que muitas das empresas estão a iniciar o investimento nos setores agrícola e turismo comunitário, mas é preciso que o Governo disponibilize um crédito com juros baixos e resolva a burocracia em torno do acesso ao mesmo. Há empresários que têm excelentes planos de negócios no setor do turismo, mas falta-lhes capacidade financeira e um empreendedor não pode tirar do seu próprio dinheiro para investir.

Devemos trabalhar juntos, as empresas e a entidade bancária, para podermos realizar a atividade empresarial, de forma a reduzir a taxa de desemprego e a saída dos jovens para o exterior.

Nós podemos realizar um Fórum assim, mas não é fácil para as empresas locais trabalharem em parceria com os empresários internacionais, uma vez que isso depende muito dos donos das empresas e as áreas nas quais vão atuar. Já houve fóruns internacionais em Timor-Leste, mas infelizmente ainda não temos muitas parcerias. Há uma grande diferença entre o que o Governo apresentou e a realidade.

Outro problema tem a ver com os proprietários do terreno, porque a nossa lei ainda não define bem os terrenos do Estado e os privados. Temos de evitar as burocracias para resolver esta questão, porque há empresários internacionais que poderiam investir no país, mas devido à burocracia e falta de segurança, muitas vezes, acabam por desistir.”

Ver os comentários para o artigo

  1. A falta de segurança na titularidade da propriedade e a (complexa, morosa e redundante) burocracia são, efetivamente, fatores desincentivadores do imprescindível investimento privado e, como o tal,
    contrangedores de desenvolvimento económico.

  2. Parabéns, gosto muito de ler as vossas publicações. São o único meio de comunicação social(que eu saiba) que também escreve/comunica em português!. Uma boa iniciativa para os alunos da EPRC.

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