Jaimito, um jovem determinado, enfrenta de cabeça erguida os desafios da vida, enquanto luta por um lugar na polícia, sustenta a família e procura honrar a memória do pai.
Ao meio-dia, o Diligente encontrou um jovem a trabalhar na zona de Quintal Boot, a reparar um aparelho de ar condicionado numa residência. Após terminar o serviço, o jovem aceitou conversar connosco. Chama-se Jaimito Freitas, tem 22 anos e trabalha como técnico de ar condicionado. Jaimito tem seis irmãos – uma irmã e cinco irmãos – e é um exemplo de esforço e perseverança.
Começou a aprender a profissão quando ainda frequentava o ensino básico, com um técnico de ar condicionado que era seu vizinho. Enquanto os colegas descansavam depois das aulas, Jaimito aproveitava para acompanhar o vizinho nos trabalhos. Assim, foi adquirindo, pouco a pouco, os conhecimentos da profissão. Durante três anos, seguiu este percurso, até conseguir entrar numa pequena empresa de serviços de ar condicionado, onde trabalhava com mais três colegas e o proprietário.
“Esta empresa presta serviços apenas em escritórios. O dinheiro que ganhamos é dividido entre nós, não temos um salário fixo como noutras empresas”, explicou. Ainda assim, Jaimito começou também a aceitar trabalhos por conta própria, cujos rendimentos revertem integralmente para si.
Foi num desses trabalhos que, pela primeira vez, teve contacto com grandes empresas, como a Heineken. “Ele pediu-me para o acompanhar e eu aceitei. Na altura, eu ajudava no que podia, e assim fui aprendendo. Todos os dias, depois da escola, ia com ele trabalhar”, recordou.
Entre a perda e a determinação
Jaimito entrou na empresa quando frequentava o terceiro ano do ensino secundário. Foi então que enfrentou um golpe inesperado: o seu pai foi preso por envolvimento num caso de corrupção relacionado com a gestão de documentos dos veteranos. Condenado a quatro anos de prisão, a família viu-se em sérias dificuldades financeiras.
“Eu não sei exatamente o que aconteceu. Só sei que, de repente, o meu pai foi preso quando eu ainda estava no 3.º ano. Foi tudo muito repentino”, contou. Com os pais separados desde a infância – “não me lembro bem porquê, mas sabia que a nossa família não estava bem” – Jaimito e os irmãos mais velhos tiveram de assumir responsabilidades. Enquanto os irmãos trabalhavam como pedreiros e agricultores, Jaimito manteve-se como técnico, lutando para contribuir para o sustento do lar.
Sempre que visita casas para fazer manutenções, observa com uma ponta de tristeza a felicidade das famílias unidas. “Vejo pais e filhos juntos. Fico triste, mas é a realidade que tenho de enfrentar”, admitiu.
Após terminar o secundário numa escola pública em Becora, Jaimito não pôde continuar os estudos universitários devido à falta de meios. “Gostava mesmo de ir para a universidade, mas não tenho condições. Já tentei estudar e trabalhar ao mesmo tempo, mas não dá, prejudica a escola. Por isso, o meu plano agora é tentar entrar para a polícia, para mais tarde poder estudar”, afirmou.
Em cinco anos de trabalho, conseguiu juntar dinheiro para comprar ferramentas próprias e aceitar trabalhos de forma independente. Com esses rendimentos, ajuda a família com alimentos e bens essenciais. Dois dos seus irmãos ainda estudam – um no ensino secundário e outro no pré-secundário –, e os mais velhos apoiam-se mutuamente para garantir o mínimo necessário.
Em 2022, após quatro anos de prisão, o pai regressou ao convívio familiar. No entanto, em 2023, a tragédia voltou a bater-lhes à porta: Jaimito perdeu o pai para sempre. “Nunca pensei que isso acontecesse tão cedo. O meu pai achava que eu só gostava de andar por aí, mas o que ele não sabia era que eu queria aprender uma habilidade para ganhar dinheiro. Eu queria mostrar-lhe que podia ter um trabalho digno. Mas agora já não posso mostrar-lhe isso…”, desabafou.
Sonho com farda
Desde criança, Jaimito sonha em ser polícia ou integrar as F-FDTL. Quando surgiu a primeira vaga de recrutamento, tratou logo de reunir toda a documentação. No entanto, o processo foi adiado. No ano seguinte, voltou a preparar tudo – atestado médico, certificado de bom comportamento – mas o sonho continua à espera.
“Queria muito entrar para a polícia ou para as F-FDTL. Quando apareceu a oportunidade, preparei-me para isso. Se conseguisse, queria mostrar ao meu pai que fui capaz. Só me entristece não poder mostrar-lhe isso em vida”, disse, com os olhos húmidos.
Hoje, Jaimito continua a trabalhar como técnico de ar condicionado, enquanto aguarda uma nova oportunidade de recrutamento. A mãe ainda está viva, mas não vive com os filhos. Ainda assim, continua a ser um pilar importante para eles.
Segundo o Censo de 2022, o desemprego entre jovens de 15 a 24 anos é de 5% entre os rapazes e 5,5% entre as raparigas. Timor-Leste tem cerca de 1,3 milhões de habitantes, dos quais 64,6% têm menos de 30 anos. A faixa entre os 15 e os 24 anos representa 21,6% da população.
Estes números mostram a dificuldade de acesso ao emprego entre os jovens timorenses, mas também refletem a resiliência de quem, como Jaimito, recusa desistir. A sua história é o retrato de uma geração que tem de lutar diariamente para conquistar um futuro melhor. Apesar das adversidades, Jaimito mantém-se firme, provando que, com esforço e dedicação, é possível transformar obstáculos em oportunidades e construir um novo caminho.



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