Na visita a Timor-Leste, o Papa Francisco destaca a importância de investir na educação e combater a pobreza no país

O desemprego e os abusos contra menores também foram temas centrais no discurso do Santo Padre no Palácio Presidencial, em Díli, na segunda-feira (9.09), momentos depois da sua chegada. O presidente da República timorense afirmou que “as palavras de Sua Santidade estão iluminadas de sabedoria e compaixão, e irão guiar e fortalecer o caminho de Timor-Leste”.

A 9 de setembro, por volta das 14h15, o Papa Francisco chegou a Timor-Leste. Os cristãos timorenses receberam-no com entusiasmo e alegria: logo que desceu do avião, Francisco – numa cadeira de rodas e protegido por seguranças do Vaticano –, foi imediatamente abordado por algumas pessoas e, na medida do possível, distribuía abraços e bênçãos àqueles que se aproximavam.

Após a receção no aeroporto Nicolau Lobato, o Papa dirigiu-se para a Nunciatura de Motael, no “Papamóvel”. Ao longo do percurso, desde Comoro até à embaixada do Vaticano em Díli, milhares de cidadãos alinharam-se à beira da estrada para lhe dar as boas-vindas e pedir a sua bênção, suportando o sol e o calor. Todos envergavam camisolas brancas com o lema “Que a vossa fé seja a nossa cultura” inscrito nas costas, e entoavam cânticos de saudação ao Santo Padre.

Às 18h00, o Sumo Pontífice realizou uma visita de cortesia ao Palácio Presidencial, em Aitarak-Laran, Díli. No seu discurso, feito em espanhol – sua língua materna, visto que é argentino –, expressou o seu respeito pela resiliência do povo timorense durante os anos de luta pela independência, sublinhando o papel crucial da fé católica na construção da nação. Voltando-se para o futuro, o Papa dirigiu uma mensagem forte, destacando os desafios que Timor-Leste enfrenta, nomeadamente na educação, desemprego, pobreza e abusos de menores.

Com cerca de 65% da população timorense composta por jovens com menos de 30 anos, o Papa sublinhou que a educação é a área prioritária para o investimento, tanto no seio familiar como nas escolas. “Uma educação que coloque as crianças e os jovens no centro, promovendo a sua dignidade. O entusiasmo, a frescura, a coragem e a iniciativa dos jovens, aliadas à experiência dos mais velhos, formam uma combinação providencial para o futuro”, afirmou Francisco, diante das autoridades timorenses, presentes no Palácio Presidencial.

Sua Santidade elogiou ainda os esforços do governo timorense ao incluir no currículo escolar a “Declaração sobre a Fraternidade Humana”, promovendo a paz e a convivência entre diferentes culturas e religiões. Esta educação, segundo o Papa, deve formar cidadãos capazes de contribuir para o bem-comum.

O Papa Francisco apelou a uma ação coordenada para combater a pobreza, oferecendo alternativas viáveis à emigração. “Penso na pobreza presente em muitas áreas rurais e na necessidade de uma ação concentrada e a longo prazo, que envolva diversas responsabilidades civis, religiosas e sociais, para proporcionar soluções que reduzam a emigração”, declarou. Segundo Francisco, a emigração é “um sinal de que os recursos do país não estão a ser valorizados de forma adequada ou suficiente”.

O Santo Padre abordou ainda as preocupações com os jovens, nomeadamente o consumo excessivo de álcool e a violência associada às artes marciais. “Estas chagas sociais, como o consumo abusivo de álcool entre os jovens e o uso da violência por grupos que, em vez de defenderem os mais vulneráveis, utilizam as suas habilidades para demonstrar um poder efémero e prejudicial, devem ser enfrentadas”, enfatizou.

Em relação aos abusos contra menores, Francisco sublinhou a necessidade de proteger as crianças e adolescentes, garantindo que cresçam num ambiente seguro. “Não podemos esquecer as muitas crianças e jovens cuja dignidade foi ferida. Todos somos responsáveis por assegurar que cresçam em segurança”, ressaltou.

Situação socioeconómica de Timor-Leste

O Papa alertou ainda para os desafios enfrentados durante os 22 anos de independência, notando que muitos timorenses ainda não usufruem plenamente dos seus direitos, apesar dos recursos disponíveis no país. A ONG La’o Hamutuk relatou que, nos últimos 20 anos, Timor-Leste gastou 18,2 mil milhões de dólares (soma dos valores do Orçamento Geral do Estado), dos quais 82% provieram do Fundo Petrolífero. No entanto, apenas uma pequena fatia foi direcionada para os setores-chave. Este ano, a percentagem do OGE destinada à educação, saúde, agricultura, água e saneamento foi de aproximadamente 19%.

Dados do Banco Mundial revelam que apenas 30% da população em idade ativa tem emprego formal, enquanto o censo de 2022 mostra que 54,6% dos jovens entre os 3 e 29 anos frequentam a escola. O Índice de Pobreza Multidimensional mais recente indica que 42% da população vive em condições de vulnerabilidade, e o Índice Global da Fome de 2023 aponta que 46,7% das crianças timorenses sofrem de subnutrição crónica.

No seu discurso, o presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, sublinhou que o país está empenhado em combater a pobreza multidimensional, a fome, a insegurança alimentar e a violência, afirmando que, com os ensinamentos do Papa Francisco, Timor-Leste será inspirado a construir uma nação mais inclusiva e fraterna. O chefe de Estado concluiu destacando que “as palavras de Sua Santidade estão iluminadas de sabedoria e compaixão, e irão guiar e fortalecer o caminho de Timor-Leste”.

De acordo o censo de 2022, 97,5% dos cerca de 1,3 milhões de habitantes de Timor-Leste são católicos.