Falta de recursos didáticos e conteúdos de História de Timor-Leste dificultam ensino

Encontro reuniu 75 professores do ensino básico e secundário, de oito municípios /Foto: Diligente

A falta de manuais escolares, de formação pedagógica dos professores e a presença de poucos conteúdos de História de Timor-Leste no currículo escolar, problemas identificados num estudo do Centro Nacional Chega (CNC), são alguns dos principais desafios que continuam a afetar os professores da disciplina. Para encontrar formas de fazer face a estas dificuldades, o CNC organizou um encontro que juntou 75 docentes do ensino básico e secundário de oito municípios. Os professores reclamam também que o Governo aumente, nos manuais escolares já existentes, os conteúdos ligados à história do país, que consideram insuficientes.

Na reunião, que decorreu terça-feira, no CNC, em Balide, os professores dos municípios de Ainaro, Baucau, Bobonaro, Covalima, Ermera, Lautem, Manatuto e Viqueque defenderam a necessidade de aumentar os conteúdos da disciplina de História nacional nos manuais escolares e sublinharam a necessidade de atualizar os recursos didáticos dos professores. Os docentes, que se juntaram para trocar experiências de ensino e preocupações comuns sublinharam a  importância de atualizar os recursos de ensino, nomeadamente manuais, livros, relatórios, áudios e materiais visuais, como fotos e vídeos históricos.

Joana Rosário da Silva, 34 anos, professora da disciplina de História Nacional e Cidadania na Escola Secundária de Santa Maria de Ainaro, realçou que, para lecionar esta disciplina, precisa de materiais didáticos que facilitem a compreensão dos alunos. “Temos livros de História, mas precisamos de outros recursos didáticos, como vídeos, fotografias ou áudios para mostrar aos alunos e, assim, poderem assimilar melhor a matéria”.

Para se preparar, Joana Rosário confessa ver-se “obrigada a aceder a livros em língua indonésia e à Internet para adquirir mais conhecimentos”. Porém, esta solução levanta outro problema: “Encontro informações nos livros indonésios, mas temos de seguir o currículo que está em língua portuguesa, o que também é uma dificuldade para os alunos. Por isso, precisamos regularmente de misturar tétum nas explicações da matéria”, disse.

Por sua vez, Júlio Monteiro, 67 anos, professor de História e Geografia do Ensino Básico Central de Iliomar, no município de Lautem, corroborou, em declarações ao Diligente, que umas principais dificuldades que enfrenta é a escassez de instrumentos adequados para ensinar, nomeadamente a falta de manuais. “Temos manuais de História para o 7.º e 8.º anos, mas para o 9.º ainda não.”

Relativamente aos manuais já existentes, o professor mostrou-se insatisfeito com o facto de os conteúdos serem predominantemente de História e Geografia mundiais, “em vez de privilegiarem a própria História do nosso país”. As novas gerações “têm a responsabilidade de conhecer e entender a História de Timor-Leste, a sua própria história”, mas, sem manuais, “não podemos cumprir o que está estabelecido no currículo escolar”.

Além disso, o exame nacional dos estudantes do 9º ano apresenta, com regularidade, questões relacionadas com a História do país para as quais os alunos não têm como se preparar. “Os alunos queixam-se frequentemente dos conteúdos do exame e nós professores, como não temos manuais, temos de procurar outras soluções”, explicou.

O Diretor-Geral da Política e Planeamento do Ministério da Educação, Juventude e Desporto (MEJD), Edmundo Neto, reconhece a existência do problema: “Os conteúdos de História na educação formal ainda são mínimos. Até agora, ainda não temos manuais de História e Geografia disponíveis para os estudantes do 9.º ano, porque não temos recursos humanos suficientes para os produzirem”.

O dirigente salientou que o Governo continua a apoiar o CNC e o Comité Orientador 25 (CO25), duas organizações públicas que fazem pesquisa e escrevem a história da resistência de Timor-Leste, para investigarem e elaborarem um registo da história nacional e deixou a garantia de que o Governo “vai produzir manuais de História para o currículo escolar”.

O encontro foi organizado pelo CNC em colaboração com a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o Ministério da Educação, Juventude e Desporto (MEJD) e o Instituto Nacional de Formação de Docentes e Profissionais da Educação (Infordepe).

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  1. Também é importante ensinar a diferença entre História e propaganda. Os comentários que se leem frequentemente no fb mostram que muita gente não sabe isso.
    O texto menciona uma disciplina de História. Há alguma Licenciatura no país para a formação de historiadores e professores de História?

  2. A Gráfica Matabiam , (de Baucau) tem excelente qualidade técnica ,preços competitivos , e é considerada a melhor indústria Timorense desde há muitos anos.
    Tem recebido encomendas da ONU, da União Europeia , da Austrália e até de Portugal.
    Infelizmente os governos Timorenses têm frequentemente preferido encomendar livros em Singapura, Indonésia, Portugal ,etç, em prejuízo do desenvolvimento da indústria nacional, e da descentralização do desenvolvimento económico fora de Díli.

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