A opinião pública sobre o Dia dos Veteranos

Comemorações do Dia Nacional dos Veteranos no Palácio do Governo/Foto: DR

No dia em que se assinala o feriado que homenageia os ex-combatentes, o Diligente esteve nas ruas de Díli para saber o que os cidadãos ‘comuns’ pensam sobre a importância e a influência dos veteranos na sociedade timorense.

“Os veteranos vivem com condições boas e nós temos de ‘lambe rai’ (lamber a terra)”

Helena da Costa, 53 anos, vendedora ambulante/Foto: Diligente

“Nós respeitamos os veteranos, mas eles têm de mostrar união para resolver os problemas do povo. Quando estavam no mato, estavam unidos pela mesma luta, mas agora já não e só se preocupam com as suas vidas, as suas famílias e em disputar as cadeiras do poder. Não podem fazer isso, porque essas lutas provocam conflitos entre os “ema kiik” (pessoas sem poder, do povo). Os veteranos recebem o dinheiro e os seus filhos também têm o privilégio de estudar nas universidades gratuitamente. Isso é uma injustiça, porque, se o Estado quer pagar estudos, deve pagar a todas as pessoas. Os veteranos não lutaram sozinhos. Todos nós lutámos pela independência. Eu trabalhava para a frente clandestina, os meus pais e irmãos também lutaram no mato e deram a vida pela causa do país.

Antes da independência, os veteranos diziam que o povo seria uma prioridade. Prometiam dar uma vida melhor a todos nós, primeiro do que a eles até, mas isso não aconteceu. Hoje em dia, os veteranos vivem com condições boas e nós temos de “lambe rai” (lamber a terra) e gatinhar para ter poucos dólares para viver. Esqueceram as suas promessas”.

“Foi por causa da luta dos veteranos que hoje somos livres”

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Elsa Amaral Guterres, 81 anos, comerciante/Foto: Diligente

“Para mim, o Dia dos Veteranos é muito importante, porque é o dia em que recordamos os timorenses que foram mortos pelos invasores na luta pela independência de Timor-Leste. Foi por causa da luta dos veteranos que hoje somos livres.

Eu fiz parte da frente clandestina desde 1974 até à independência, a 20 de maio de 2002. Não tenho estatuto de veterana, porque desisti de tratar dos documentos para formalizar esse direito. O processo é muito lento e a cada dia que tentava, mandavam-me voltar no dia a seguir e assim sucessivamente. Ia esperar até morrer sem receber nada, por isso, tenho de encontrar outras soluções e vender na rua para ganhar dinheiro”.

“Se tratarmos todas as pessoas como se fossem iguais, também não seria justo”

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Algontino Sarmento, 27 anos, finalista da Faculdade Direito da UNTL/Foto: Diligente

“O dia 3 de março é muito importante para refletir sobre a luta dos nossos heróis e os sacrifícios que fizeram de 1975 a 1999, até à autodeterminação. Temos de estar juntos para honrar o que fizeram. O Estado reconhece e valoriza os combatentes nacionais, porque eles merecem ter proteção especial, tanto para eles como para os seus filhos.

Para mim, como estudante de Direito, não considero uma injustiça os veteranos receberem dinheiro nem os filhos terem privilégios. Trata-se de tratar de forma igual quem é igual e de forma diferente quem é diferente. Os veteranos têm direito a ser tratados de forma diferente por causa da sua luta de 24 anos para libertar a pátria. Se tratarmos todas as pessoas como se fossem iguais, também não seria justo.

Os veteranos já libertaram a pátria. Agora estamos no processo de libertar o povo e, para o libertar, os veteranos têm de dar oportunidade às pessoas das novas gerações, que têm capacidade para gerir e desenvolver o país. Só assim conseguimos alcançar o objetivo de libertar o povo”.

“A história de luta do passado não legitima os erros de hoje”

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Óscar Sanches, 23 anos, estudante da Faculdade de Direito da UNTL/Foto: Diligente

“O Dia dos Veteranos é um momento importante para os jovens fazerem uma reflexão crítica. Por um lado, aprendemos com os exemplos que deram durante uma luta de 24 anos. Por outro, é uma oportunidade para analisar a situação atual, a vida depois da independência. A história de luta do passado não legitima os erros de hoje.

O Estado atribui muitos privilégios aos veteranos. Isto é uma discriminação contra o povo maubere, povo ain-tanan, pois o objetivo principal da luta dos veteranos foi para que todo o povo timorense tivesse direito a uma vida digna. Mas, hoje em dia, só os veteranos é que usufruem dos privilégios que o Estado atribui. Antes da independência lutavam pelo bem do povo, mas hoje têm tendência a esquecer os problemas que o povo enfrenta e os valores sociais que defendiam no tempo da luta, como a justiça e a igualdade.

No nosso caso, em Iliomar, mesmo que outras companhias que não pertencem a veteranos ganhem projetos públicos, eles reivindicam o direito a fazerem essas obras para poderem ganhar mais dinheiro. Atitudes como esta impedem o desenvolvimento do país.

As novas gerações têm de saber discernir entre boas e más atitudes para evitar males maiores no futuro”.

“Todos os cidadãos têm direitos iguais perante a lei”

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José Pereira Jerónimo, Professor de Economia da UNTL e Pró-Reitor para os Assuntos de Planeamento, Monitorização e Avaliação/Foto: Diligente

“Para mim, os veteranos são fontes importantes para o desenvolvimento dos valores de Timor-Leste, porque eles deram uma contribuição muito importante para o país. Eles merecem o respeito dos jovens.

O Governo valoriza a luta que eles fizeram, mas é importante que valorize também o povo de Timor-Leste. Todos os cidadãos têm direitos iguais perante a lei.

Muitos dos líderes de topo do nosso país são veteranos. Muitas vezes, há divergências de ideias entre eles e isso atrasa o desenvolvimento do país. Têm de privilegiar as boas atitudes e evitar as más. Estas divergências não diminuem o respeito que temos pelos veteranos. Continuamos a pedir-lhes que colaborem uns com os outros e contribuam para o desenvolvimento nacional.

O Governo tem a obrigação de resolver a disputa dos veteranos dos projetos nas áreas rurais, para que não haja irregularidades. Queremos um desenvolvimento equitativo e benéfico para toda a sociedade”.

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Ver os comentários para o artigo

  1. Este artigo oferece um bom enquadramento da questão.Contudo ,faltam dados numéricos e estatísticos sobre regalias,pensões atribuídas a veteranos e familiares e ainda o seu peso no orçamento de Estado.
    É óbvio que valorizar os atores da luta armada é importante e indiscutível.Mas a luta pela independência também se fez com o sacrifício das populações que apoiaram os guerrilheiros e a nível diplomático,nao menos importante.Assim, este dia da comemoração deveria incluir outras lutas e sacrifícios sem as quais TL não seria hoje um país livre.
    Hoje a luta pela liberdade e soberania é vai exigir grande heroísmo: qualidade de serviços públicos, nomeadamente educação, em que se joga o futuro das novas gerações…e do país
    Numa entrevista dada por Ramos Horta à TV portuguesa disse ser muito crítico sobre este tema.
    O que não me parece tão legítimo é o acesso privilegiado dos filhos e descendentes ferindo a igualdade perante a lei…

  2. Para quando o dia de todos os outros HEROIS que permitiram a sobrevivencia dos veteranos?
    O DIA NACIONAL DO POVO HEROICO, o “cordao umbilical” dos veteranos, a botija de oxigenio da respiracao dos veteranos.
    Alto e para o baile, o POVO tem de vir primeiro!
    Sem o POVO, nao havia veteranos.
    Tanta fanfarra para alguns, tanta desgraca para o “POVO KIIK”!

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